quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ELE MORREU...TU MORRERÁS, EU MORREREI, O QUE ESTAMOS FAZENDO ANTES DISSO?!


            Há alguns dias uma pessoa querida partiu...um amigo que ela demorou a entender...homem  bastante inteligente, sensível, dotado de capacidades e habilidades artísticas incomuns, mas que, como muitos outros artistas neste país morreu sem ser reconhecido em sua cidade e seu estado...também  enfrentava dificuldades onde residia atualmente, pelo que eles conversavam...então parece que viver da arte não é muito fácil mesmo...
          Na sua adolescência ela experimentava sentimentos ambíguos em relação a ele...dotado de um humor refinado,  e por vezes “cru”, sempre que ela se aproximava pensava: “o que será que vai dizer a meu respeito...e pior, será que, se disser alguma coisa vou entender?!” Tinha medo da sua inteligência e fina sensibilidade...que boba que ela foi...
           Bem...depois do amadurecimento que a própria vida propicia, além é claro, dos recursos, como terapia, cujos resultados como um  importante encontro conosco que esse processo oportuniza, ela perdeu o medo das pessoas perspicazes, com humor quase sádico, como era o caso dele e eles se reencontraram em Florianópolis, onde ele morava atualmente e conversaram e riram muito!
           Depois disso, eles conversavam, com freqüência nas primeiríssimas horas da manhã pelo MSN, sobre os mais diferentes assuntos...desde coisas profundas de suas vidas pessoais, passando pelos lamentos e  alegrias de suas  profissões, memórias da adolescência e carnavais, notícias dos amigos, até o clima em São Gabriel e Florianópolis...
           Conheceram-se mais e passaram a admirar-se e respeitar-se e ela descobriu um grande homem que não representava atrás do personagem de menino rebelde, com barba malfeita e “bafão” de moleque... Reconheceu um homem que se encontrou e, segundo ele próprio, nessa nova vivência, saiu da margem o que possibilitou viver a sua história, integralmente, sem se violentar e violentar o outro, pois estava feliz e quando estamos felizes não necessitamos agredir ninguém, porque a vida que temos é a vida que escolhemos ter...
            Hoje, quase uma semana após ter partido, como disse alguém sensível o bastante para definir saudade, quando lembra dele, escorre dos olhos dela, aquele sentimento que não cabe mais no seu coração e, em alguns momentos, chega a pensar “devia ter amado mais?...” Mas ao mesmo tempo se dá conta de que os momentos vividos foram exatamente aqueles que puderam ser vividos, nem mais, nem menos...e se sente satisfeita pelo convívio, por não ter economizado sentimentos, por ter recebido esse amigo e a família que escolheu na sua casa, por não ter se escondido atrás do “invisível” no MSN, quando ele aparecia, enfim por estar inteira na relação, enquanto este convívio foi possível...
            Parece que esse é o único jeito de não entrarmos num ciclo de histeria, quando as pessoas partem! Pode ser uma maneira de sofrer menos...viver com e para as pessoas aqui e agora, mas também assumir a responsabilidade de não querer estar com elas, quando assim desejamos...não somos obrigados a gostar de todo mundo, nem querer a todos o tempo todo!!! Mas quando gostamos não nos economizemos, por favor!!!!
            Depois de mortos, de nada adianta colocarmos mensagens desesperadas aos falecidos, nas redes sociais pedindo explicações do porquê eles se foram, ou solicitando ajuda destes, para que nos auxiliem a elaborar a sua própria morteeeee!!!
            Fico pensando...quando aprenderemos tamanho desprendimento ou desapego para que deixemos aqueles que amamos ir, sem que nossa dor ou egoísmo por querer a pessoa amada ao nosso lado prevaleça sobre todas as coisas, sem que nos deixemos entrar num ciclo de sofrimento e desespero, que impede o raciocínio, tira a lucidez, evita a fome, desregula o sono e infligi uma dor que dilacera o peito...
            Porém, existem algumas pessoas, talvez mais evoluídas espiritualmente e mais abastecidas da vivência com o outro, enquanto estiveram aqui com seus companheiros, que vivem essa passagem de outra maneira...mais plácida, menos caótica e indiferenciada, mais íntegros na sua dor...
             Será que estamos fazendo o mesmo? Ou ainda estamos vivendo nossos vínculos de maneira pequena e mesquinha, com valores ínfimos, economizando afeto e despendendo energia naquilo que não tem valor nas relações?
              Cada pessoa que se vai e a dor que isso nos causa deveria servir para um bom momento de reflexão...o que estamos fazendo com os vínculos que aqui ficaram? Reeditando os mesmos erros? Estamos usando a nosso favor nossa inteligência e sensibilidade para fazermos diferente do que fizemos antes, quando identificamos o equívoco?
              De que adianta a experiência do desconforto, se nas nossas vidas e nosso mundo interno essas perdas e essas vivências não gerarem transformações!?
             Não deixemos que as dores passem em vão...tornemos cada experiência combustível para seguirmos adiante na estrada que se mostra a nossa frente...não valeria a pena passar por tantas coisas, se não houvesse um grande propósito...enquanto não descobrimos o porquê, que seja então, para amar mais, se doar mais, fazer mais!!! E não ter se economizado demais e ter se arrependido depois, porque não fez,não é?!
            Um ano está chegando ao fim!!! E um NOVO ANO nascendo!!! Aproveitemos!!! O clima é de renovação, reciclagens, mudanças, transformações...se não for, criemos internamente esse clima e vamos tornar abundante a oferta de afetos verdadeiros em nossas redes sociométricas...ele não acaba!!! Ao contrário!!! Parece que, quanto mais amor se dá, mais ele se expande e volta!!! Ex-pe-ri-men-ta!!!
Transcrevo abaixo a homenagem de alguém que ama verdadeira e despretensiosamente e postou, como homenagem ao parceiro de anos, que acabou de perder...
"A morte não é nada.
Eu somente passei para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.
Me dêem o nome que vocês sempre me deram,
falem comigo como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas,
eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.
A vida significa tudo o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora de suas vistas?
Eu não estou longe,
apenas estou do outro lado do Caminho...
Você que aí ficou,
siga em frente,
a vida continua,
linda e bela como sempre foi."


Sto Agostinho
Alguns poucos relacionamentos conseguem ser tão puros e limpos e por isso mesmo, plenos e verdadeiros...por isso preenchem tanto...



domingo, 19 de dezembro de 2010

DISTIMIA...O QUE É?!


            Quem não conhece, no seu círculo de amizades, alguém que está sempre de mau humor, com " a cara fechada", causando tensão nos ambientes que frequenta e, como consequência, deslocado e deslocando pessoas, por sua suposta "falta de habilidade" em lidar com as brincadeiras, tão sadias e necessárias, no nosso dia-a-dia?!
           Lembraste de alguém? Sim? Pois é...esta pessoa pode não ser simplesmente um mal humorado de plantão, ela pode estar doente e o nome desta doença é distimia.
          O termo “distimia” é de origem grega e significa “mal humorado” e refere-se a um comportamento inclinado à melancolia. A caracterização da doença passou por inúmeras transformações, podendo hoje ser definida como “um quadro depressivo crônico, com sintomas de intensidade leve, com início insidioso, começando muitas vezes na infância ou adolescência e se prolongando, eventualmente, durante toda a existência do indivíduo”.
            Alguns pacientes referem que “são assim, sempre foram assim”, devido à extensa permanência do quadro em sua vida. Em geral são indivíduos que se descrevem como tristes e desanimados e apresentam outras queixas, o que pode “mascarar” a identificação do transtorno, senão for investigado minuciosamente pelo profissional.
            Em crianças, a distimia parece ocorrer igualmente em ambos os sexos, enquanto na idade adulta, as mulheres estão duas a três vezes mais propensas a desenvolvê-la do que os homens.
Os instrumentos utilizados para classificação das doenças, como CID-10 e DSM-IV, são concordantes em afirmar que a insônia, fatigabilidade ou perda de energia, baixa auto-estima, diminuição da capacidade de concentração, perda de interesse ou prazer, entre outros sintomas, estão presentes no curso da doença.
Estima-se que 4,3% da população possam ter distimia. Estudos diversos e bem controlados sugerem que o desenvolvimento do transtorno depende tanto de fatores genéticos, quanto ambientais. Fatores genéticos podem ter papel importante no início precoce, podendo ser responsáveis também, pela cronicidade da doença.
Aliados a “herança genética”, o histórico familiar com alterações do humor, abuso de substâncias pelos pais, acontecimentos traumáticos e outros, podem estar associados à patologia.
As crianças e adolescentes, com transtorno distímico, podem ter baixa auto-estima e fracas habilidades sociais, sendo também pessimistas. Os familiares geralmente os descrevem como irritáveis, ranzinzas, e/ou deprimidos. Nos adultos pode haver a diminuição da autocrítica e a construção de uma auto-imagem negativa, percebendo a si mesmos como “desinteressantes” ou “incapazes”.
Devido ao caráter crônico, a distimia pode conduzir a prejuízos graves, mal-estar familiar, insucesso conjugal, inadaptação no trabalho e outras formas de disfunção social. Trata-se, pois, de grave transtorno que, após cuidadosa avaliação, deverão ser trabalhadas, com ênfase no presente, as dificuldades encontradas pelo paciente, buscando transformações cognitivas, emocionais e comportamentais, através de tratamento orientado para tal.
Não confunda, ok? Falamos aqui de caráter crônico, não de episódios de mau humor, aos quais todos estamos sujeitos!!! Precisamos ter o imenso cuidado e não sair por aí patologizando todas as atitudes e "catalogando" ações como se as pessoas fossem objetos de estudo vivos!!!
         Considera-se doença toda ação que se cristaliza e impõe ao indivíduo ou aqueles que o cercam sofrimento significativo! E isso somente poderá ser avaliado por profissional capacitado para essa tarefa...enquanto isso, vamos nos observando e olhando para o outro com gentileza, sem apontar o dedinho e banalizar diagnósticos sérios, como muitas vezes observamos por aí...afinal...acho que é dos Mutantes, uma música que diz...de perto...bem de pertinho...ninguém é normal!!!


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

CASAIS HOMOAFETIVOS: AMOR MOSTRA A TUA CARA!


Durante esta semana uma jornalista postou um link no Facebook sobre a oficialização da união da cantora gaúcha Adriana Calcanhoto com a filha do cantor Vinícius de Moraes, Suzana de Moraes.  Logo após, surgiram vários comentários, todos em tons muito engraçados, mas que na verdade, parecem refletir mesmo é um desconforto em relação ao tema, pois não sabemos ainda muito bem o que fazer com o que sentimos quando vemos uma relação homossexual sendo assumida... paradoxalmente percebe-se que é mais confortável que estas relações mantenham-se na clandestinidade, pois assim aquelas pessoas que se sentem desconfortáveis podem seguir fazendo suas piadinhas preconceituosas e soltando seus risinhos sarcásticos, pensando ser a orientação homoafetiva do outro um grave defeito e,pior do que isso, passível de julgamento!
            O que parece não ficar muito claro para a maioria das pessoas, até mesmo as mais bem informadas, é saber se o homossexual opta por ser homossexual ou nasce orientado sexualmente para desejar um corpo igual ao seu...e ter essa informação considero crucial para um posicionamento mais ou menos preconceituoso. Sim, mais ou menos, não vamos ser hipócritas e acreditar que somos capazes de ser absolutamente sem preconceitos! Prefiro acreditar que trabalhamos arduamente para isso, mas nos descobrimos com algum grau de preconceito em relação a algum tema, sempre. E ter informação, é condição essencial para se ter menos preconceito, pois este último é amigo íntimo, diria até “irmão siamês” da falta de informação!!!
            Então ,vamos lá...opção, de acordo com o dicionário Aurélio: é aquilo que se opta; ato ou faculdade de optar; livre escolha , portanto algo que se escolhe, que é voluntário, que a qualquer momento posso, por vontade própria, mudar o rumo, o caminho, voltar atrás,dessa forma, duvido muito que, por livre e espontânea vontade alguém venha a escolher ser homossexual, com todos os ônus que essa vivência traz! As pessoas que são homossexuais sofrem inúmeros preconceitos, dores, dissabores, rejeições, incompreensões, agora agressões, além de emocionais e psicológicas, também as físicas que, em alguns casos levam até à morte!
            Orientação, do mesmo dicionário, significa: guia; regra; impulso; tendência; inclinação. A orientação sexual não pode ser “revertida”, a pessoa nasce com o desejo orientado para o outro do mesmo sexo e isso já se sabe e sente desde muito cedo. Quando falamos com pessoas, cuja orientação é homossexual e questionamos desde quando elas têm consciência de sua homossexualidade, respondem que sempre souberam, apenas não identificavam os sinais que evidenciavam essa condição...
            São muitas as pressões externas que sofremos e ser “diferente”, num mundo onde a cultura da massificação tenta se impor a qualquer custo, pode ter conseqüências devastadoras, para alguns psiquismos mais frágeis.
            Existe outra faceta desta condição, talvez pouco compreendida, mesmo pelos homossexuais, pelo que percebo, na experiência do consultório. Muitas vezes levados pela pouca condição intelectual ou forte pressão psicológica, acabam por desenvolver  o transtorno de gênero, que faz com que a pessoa acredite que precisa externalizar características do sexo oposto. Por exemplo, um homossexual do sexo feminino passa a acreditar que tem que vestir roupas masculinas e se comportar de maneira mais masculinizada ou o contrário, como mais comumente vemos, os homens homossexuais se comportam de forma bastante feminilizada.
            O fato de ser homossexual não induz, nem obriga ninguém a se comportar de maneira oposta ao sexo biologicamente determinado, isso é uma distorção e, como disse anteriormente, constitui um transtorno chamado Transtorno de Gênero. Talvez o pouco esclarecimento acerca dessa particularidade tenha colocado muitos homossexuais na marginalidade, por acreditarem que tinham que agredir sua identidade de gênero e se perderam por aí...
            Os pais mais saudáveis psicológicamente, atualmente buscam auxílio nos consultórios psicológicos para que os jovens, sejam eles do sexo feminino ou masculino, possam sofrer menos com sua orientação homossexual e conviver com todas as possíveis conseqüências dessa experiência. O objetivo tenho percebido, é justamente evitar que essas pessoas não se obriguem a viver à margem e, portanto, excluídas e menosprezadas, tendo sua auto-estima dilacerada e sua vida transcorrendo num percurso, muitas vezes inverso ao que  esperam para si, simplesmente porque não conseguiram ser e viver no meio  que desejavam estar!
            Sejamos mais honestos e mais humanos! Em que momento de nossas vidas começamos a acreditar que podemos subir numa cadeira de juízes absolutos e imunes a qualquer julgamento, condenar e ridicularizar alguém porque ama outro alguém igual a si? Condenamos porque tiveram a coragem de assumir a condição ou relação homoafetiva? E as relações heterossexuais estão isentas de qualquer julgamento, única e simplesmente por serem heterossexuais? Percebe-se muitas vezes um casal hetero, cuja relação é pautada pela infidelidade, promiscuidade e deslealdade, entretanto, nada se “fala”, porém, basta que “aquele” casal homossexual entre no recinto, ainda que sua relação seja de muito respeito, amor, lealdade e fidelidade que, o simples fato de serem do mesmo sexo, escandaliza e os burburinhos e risadinhas começam a se formar...
            Afinal, o que queremos? Ser felizes? Ou nos tornarmos bonequinhos feitos em série, acertando o passo e obrigando e castigando quem não estiver na marcha?! Por que condenamos tanto os negros, os gordos, os tortos, os homossexuais, os que se assumem, os que não se assumem, os diferentes? Onde, afinal se encontra a dificuldade? Em aceitar as próprias dificuldades? Sejamos mais tolerantes e condescendentes com as nossas próprias diferenças e talvez estejamos a caminho de aceitar com menos malícia e iniqüidade a diferença do outro... assim estaremos contribuindo para um mundo melhor, com pessoas mais felizes, mais inteiras, inclusive nós mesmos, afinal o que tememos tanto?! O diferente ou o semelhante, no seu mais amplo aspecto?! Pois, até onde sei o que me incomoda no outro, nunca é do outro, é sempre meu...
            *Para quem tiver interesse em buscar mais informações a respeito do tema há um livro de um Psicodramatista, Ronaldo Pamplona da Costa que esclarece, de maneira detalhada e bastante simples essas questões a respeito da sexualidade humana: 11 SEXOS: AS MÚLTIPLAS FACES DA SEXUALIDADE HUMANA. EDITORA GENTE.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

DRAMAS DA VIDA E RISOS QUE SALVAM...

Em 29 de novembro deste ano morreu Mario Monicelli, cineasta italiano, vítima de câncer de próstata que, impaciente em esperar a derradeira morte, abreviou o próprio final e se atirou do quinto andar do hospital em que estava internado em Roma, aos 95 anos de idade. Uma das características dos filmes de Monicelli era a crítica social aguda e o riso utilizado como recurso de denúncia e revelação daquilo que não “poderia” ser dito.
Na revista Época desta semana tem pequena nota falando deste peculiar gênio que, em entrevistas a outros órgãos de imprensa, definiu uma particularidade dos italianos que eu não entendia e até criticava, especialmente em mim, (descendente de italianos) obviamente antes dos cento e cinqüenta anos de terapia! Hoje é algo que considero definitivamente um meio de salvação, que é a capacidade de rir das próprias tragédias!
A disposição ou talento de rir dos nossos dramas, brincar com as próprias mazelas, pode nos trazer a dose exata de oxigênio para que não sufoquemos no desespero por uma solução que não virá, com a ansiedade elevada...ou pode ser a luz que não enxergaremos enquanto a cegueira nos impede de distinguir caminhos ou quando a raiva toma conta do nosso corpo ou o medo paralisa nossos órgãos...
O riso é remédio, no entanto, como diz a música cantada por Frejat, “que você saiba que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero”...estou falando aqui do riso saudável, não do riso louco, maníaco, alienado, de quem está no caos e não percebe...mas de ter a consciência do que queremos das e para nossas vidas. Queremos ter saúde? Queremos uma família unida? Ser bem sucedidos e reconhecidos no trabalho? Amizades verdadeiras? Uma casa im-pe-ca-vel-men-te asseada e organizada? Nome limpo na “praça”? Filhos educados, felizes, saudáveis, com valores sólidos? Tempo livre para mim e minha família? Tempo para lazer? Roupas de grife? Carros do ano? Corpo sarado? Amor verdadeiro? Elevação espiritual...???
Dependendo da “lista” de prioridades daquilo que elejo para minha vida o grau de sofrimento varia...por exemplo...se no topo da minha lista está uma casa perfeitamente arrumada, meu filho pode estar em sofrimento porque não aprendeu o conteúdo daquela imensa prova de hoje, ou mesmo com um desconforto físico ou emocional que vou valorizar o sofá manchado ou a parede descascada e isso vai impor enorme desgaste a minha vida,porque na minha “lista” de prioridades está a casa...quem está lendo este texto pode estar se perguntando quem agiria assim, eu te respondo...muitas pessoas...que sofrem!!!


         Sim...porque viver assim causa enorme sofrimento! E esta não é uma escolha deliberada, são crenças que acabamos adquirindo desde tenra idade e padrões de comportamento que se formam em nossos núcleos familiares e vamos agindo assim, sem a menor percepção da pouquíssima qualidade que nossa vida tem!!! Viramos “escravos” de padrões transgeracionais e se não fizermos uma crítica acerca do nosso comportamento, corremos o risco de estar em sofrimento e de estar impondo sofrimento aos que nos cercam sem perceber isso!!!
Alienados do que queremos, vamos acreditando que o importante é ter uma casa com uma iluminação perfeita igual a da novela...ou a barriga e o bumbum da-que-la pessoa que idealizamos, cuja felicidade não conhecemos, mas imaginamos que seja completa e queremos para nós! Então, ao invés, de investirmos nosso preciosíssimo tempo na busca do que poderá nos tornar pessoas mais felizes e menos fragmentadas e ”falsificadas”, seguimos a cartilha alheia...que lástima!
Nosso roteiro é sempre mais original, embora, nem sempre nosso final possa ser um final feliz, como nos comerciais de margarina! Porém, será sempre o resultado daquilo que buscamos e construímos para nossas vidas...isso por si só, já é o resultado de uma obra perfeita, única, digna de nota e de muitos aplausos! Por que é nosso!!!
A vida, a cada dia é um novo começo... e essa frase, eu sei, não é original, já a vimos em muitos lugares, mas é belíssima! Não poderia deixar de colocá-la aqui, porque, além de bela, é verdadeira...
A vida, diferente das novelas, a cada dia, possibilita um novo roteiro, não precisamos fazer o mesmo que fizemos ontem! Somos livres! Podemos mudar nosso script a qualquer hora!!! Tudo pode ser feito de formas e jeitos diferentes...aquele abraço que ontem não demos...aquele sorriso que esquecemos...aquela bobagem que falamos...nada disso pode ser desfeito...entretanto, hoje podemos fazer diferente!
Acho que isso é o que  mais me emociona e me apaixona na psicologia...poder caminhar junto com as pessoas e mostrar que, a menos que o filme tenha chegado ao final, é sempre possível fazer diferente...e para isso, a gente pode começar olhando um pouco para as dores e vendo que, apesar de todas as tragédias, sempre encontraremos bons motivos para rir e brincar com nossas vidas, tornar mais leves nossos caminhos e quem sabe reeditar alguns capítulos de nossa história, tornando o drama mais à Monicelli...seja ele simples, ilegal, imoral, mas sempre  original...e como Monicelli, rir do cotidiano e se salvar com isso! É, o riso salva...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O VISITANTE

                O Visitante, já foi lançado há algum tempo, mas desde que vi o trailer, ele ficou me “chamando” e não pude vê-lo naquele momento...como tenho imensa dificuldade de organização nessas questões de final de semana, ver os “lançamentos”, estar sempre atualizada no que há de mais “quentinho”, etc...vou me respeitando e quando as coisas fluem e se encaixam, deixo acontecer e pronto!    
            As mensagens que tinham que ficar, ficam, os aprendizados se consolidam e aquelas falas e cenas, sons e personagens, ficam circulando em mim por horas, dias, semanas, às vezes...
            Meus pacientes sabem disso... levo os personagens para o consultório, faço analogias com as questões que estamos trabalhando, porque pra mim é difícil ser diferente...não me deixar penetrar por aquilo que é vivido, sentido, experimentado...
            Penso que este filme tocou, de maneira diferente, por vários motivos, mas em especial, por causa do “objeto intermediário” utilizado para tirar o personagem principal do engessamento emocional em  que estava vivendo... para quem ainda não viu o filme, a história fala de um professor universitário, cuja vida entediante era baseada em conservas culturais, como dar aulas convencionais, de acordo com o protocolo da universidade em que trabalhava, sem o menor encantamento pelo que fazia. Praticamente um homem-robô, escravo, dos padrões que ele próprio, em outro momento de sua vida escolheu e que, agora já não lhes serviam mais, melhor, o estavam tornando infeliz, mas que ele não encontrava caminhos para mudar...
           Este professor, Walter,  não desempenhava nenhum papel com espontaneidade, portanto, com criatividade e graça também, suas aulas eram entediantes e fraudulentas e ele próprio sentia-se assim...até que forçosamente teve que se deslocar até uma cidade vizinha e, chegando ao seu apartamento se depara com dois “intrusos”, mas que, no filme, eram pessoas “do bem”...não vou contar o filme todo aqui!!!
            Quero compartilhar o que ficou...a mensagem que passou...seja lá o que tivermos intenção de fazer, se não estivermos inteiros, de coração, livres dos estereótipos, despidos da massacrante regra que a felicidade imposta pelo “politicamente correto” nos sugere, dificilmente seremos honestos a ponto de permitir-nos momentos felizes e de encontro conosco mesmos.
            Enquanto o pobre e infeliz Walter estava dentro dos padrões externos, não conseguiu realizar-se, precisou ver, perceber e viver junto aos imigrantes ilegais, que estavam em seu apartamento, uma vida autêntica e bastante simples, para descobrir-se.
            Não estou fazendo apologia a uma vida desregrada, ilegal, com um saquinho nas costas, uma fita na cabeça e somente amor no coração, tampouco uma crítica a quem assim escolhe viver, porém, constatando que, neste caso, foi crucial que aquele professor deixasse brotar de dentro de si, através da observação e convivência com seres diferentes e “de verdade”, a sua verdade.               
           Considero que o objeto intermediário, do qual falei no início do texto, foi crucial para a aproximação  dos personagens e desempenhou importantíssimo papel na trama, pois foi através da música que o protagonista resgatou sua espontaneidade e  sua paixão pela vida...
           O objeto intermediário, que falo é um tambor que o imigrante, Tarek, tocava e que  Walter aprendeu a tocar...a música possui uma magia, capaz de quebrar conservas, de tornar pesos da vida que antes carregávamos como pedras, em sinfonias leves como valsas...a música transporta, conforta, salva, corrige e cura...é portanto terapêutica, agente de saúde e de ligação...
           No filme, apesar de todos os percalços, foi o que o imigrante deixou de “herança”  e aprendizado ao “rígido” professor que, na verdade só estava a espera de alguém que pudesse relacionar-se com o seu núcleo de saúde e permitir que pudesse ser!
          O quanto, muitas vezes, arriscar-se no desconhecido, poderá nos trazer certa dose de saúde, por nos libertar da “armadura” construída para nos defender daquilo que não conhecemos ou que conhecemos demais, por isso é tão difícil sair de dentro dela...
           Como tantas outras lições, de tantos outros momentos, desde que estejamos abertos e atentos, este é mais um... em que o nome do filme, inteligente e brilhantemente ilustra...o visitante...neste caso, dele mesmo...
           Que delícia sabermos que sempre é tempo de nos visitarmos e descobrirmos novas paisagens, novos lugares, novos sons, cheiros e cores que ainda não conhecíamos, que ainda não havíamos estado lá, pelo menos não com esse olhar...e o mais legal disso tudo...o custo é zero...e a distância é mínima... e a companhia muito legal!
A viagem é pra dentro de nós mesmos! Vamos?!
           

domingo, 14 de novembro de 2010

O EU E OS TUS DE NOSSA HISTÓRIA ...

          Nascemos e crescemos em interação com o outro... nos construímos e firmamos nossa identidade a partir do olhar desse outro que me (des)confirma no desempenho dos mais diferentes papéis, nos diversos contextos, e pelos diferentes caminhos, que atravesso em minha vida...
          E é nessa dança dos papéis... nesse movimento em que o meu olhar aprova o outro e que o oposto também acontece que vamos consolidando nossa “digital” e aprendemos como se dá a relação do eu e do tu, assim como apreendemos quem somos nós no mundo...a princípio, uma equação bastante simples, mas na prática... de uma complexidade inominável!
          Reconhecer o eu implica em saber quais são os meus parâmetros, meus limites...minhas vontades,ouvir e respeitar minha voz interna, acolher meus desejos, sem que isso interfira ou arranhe o espaço do tu!!! E quem é esse tu??? Onde começa o espaço dele??? Afinal a linha que nos separa é tão tênue... pois se me construo a partir dele...como descubro o limite de nossas fronteiras? Esse processo começa lá na infância, no início da nossa vida... Com o auxílio de uma mãe suficientemente saudável, que fará a separação e nos permitirá a autonomia necessária para que possamos ousar ser e estar no mundo separados dela, a quem estivemos “misturados” e dependentes por bom tempo de nossa existência...
         Essa mãe precisará compreender que é chegada a hora da criança arriscar-se, com segurança, em determinadas vivências, descobrir o mundo, e se não tiver segurança para tal, poderá procurar auxílio, para que seu filho possa crescer saudável e com condições de enfrentar a vida que se impõe à frente...
         A partir de então o eu se construirá separado do tu (mãe), que permitirá a autonomia. Então a criança entende que o tu é alguém que está fora de si, que tem vida própria, desejos, vontades e deve ser respeitado como tal... Não está a seu serviço, não poderá ser utilizado para satisfazer apenas suas vontades e desejos. Entre outros momentos deste processo, se esta passagem for “tranqüila” entre os membros da díade, esta criança terá amplas oportunidades de estabelecer relações bastante saudáveis no futuro e aprenderá a respeitar seus limites e os limites do outro (tu).
         Fico pensando o quanto a presença do semelhante é necessária, absurdamente necessária, importante, indispensável! Mas não posso fazer disso uma condição para que ele suporte qualquer coisa que venha de mim... Esse outro, ao qual me refiro, é outro que está presente e junto, mas com sua individualidade e singularidade...seus limites...um Tu, não um isso...do qual posso dispor e descartar ao meu “bel prazer”...explico: as relações, sejam elas de amizade, amor-sexualidade, conjugalidade, etc...começam, em algum momento de seu convívio perdendo a noção de onde os territórios são demarcados e os usos e abusos podem colocar em risco a edificação de lindas histórias, que foram construídas, ao longo de anos, décadas, vidas...
       Muitas vezes, o conflito está no vínculo, porém em alguns casos, observa-se que são as pessoas que tem pouco claro para si “quem sou eu”, “quem és tu”, então, busca-se um resgate na matriz de identidade desses “pontos cegos”, nos encontramos com quem somos nós e, na maioria das vezes, com quem são os outros...
       Todos temos limites, fronteiras... fronteiras do Eu, do Tu e se essas fronteiras não forem respeitadas, estaremos adentrando perigosos territórios, onde poderá ser difícil perceber a sutil demarcação de onde termina o meu espaço de atuação e onde deve começar o teu... Se não tenho essa percepção, o outro deixa de ser um Tu e passa a ser um isso, porque não mais é percebido por quem realmente é, mas pelo quanto poderá ser útil, àquilo que estou buscando... Será que temos essa noção em nossas relações?! Do quanto os vínculos construídos e a manutenção destes está exclusivamente, a nosso serviço?! São vínculos amorosos, afetivos, de conveniência?!
       Reconheço a complexidade dessa questão e sinto que o “segredo” é o mesmo de sempre... O autoconhecimento... Quanto mais sei quem sou, maiores as chances de me diferenciar do outro eu tenho, menores serão as oportunidades em que tomarei o seu espaço e invadirei as fronteiras do seu território...       
       Mas para isso preciso, constantemente, lembrar-me: eu sou eu, tu és tu... E juntos, se desejarmos, enquanto for confortável, no tipo de relação que estivermos escolhendo ter... somos nós!!! Não somos isso!!! Ufa!!!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)

       O TDAH é um transtorno neurobiológico, que se caracteriza por sinais claros e repetitivos de desatenção, inquietude e impulsividade.
       Existem vários graus de manifestação do TDAH,podendo levar a criança e/ou adolescente a experimentar significativos problemas de relacionamento, adaptação, desempenho escolar, entre outros. Embora seja um transtorno mais comumente identificado na infância, os adultos também podem ser portadores deste transtorno, predominantemente com sintomas de desatenção, sendo menos freqüente que a hiperatividade os acompanhe até a idade adulta.
      Estima-se que 3% a 5% das crianças em idade escolar possam ter TDAH. Na literatura existente encontra-se a maior prevalência de crianças em torno dos 9 anos de idade, normalmente quando estão ingressando na quarta série.O diagnóstico precoce é de extrema importância,para a identificação do transtorno, uma vez que se mal compreendidos ou ignorados estes sintomas, a criança poderá sofrer preconceitos, discriminação. Poderá adquirir, no contexto em que vive o estereótipo de “desorganizado”, “relapso”, bagunceiro”, “incapaz intelectualmente”, podendo ter baixa auto-estima e outros conflitos de ordem emocional e relacional, decorrentes da constante rejeição que sofre.Embora, num primeiro momento possa parecer difícil, é perfeitamente possível, com tratamento e manejo adequados, por parte dos pais, profissionais e da escola, que esta criança tenha um desempenho acadêmico satisfatório, desde que percebida adequadamente e respeitada.
        O diagnóstico deverá ser realizado por equipe multiprofissional (neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo) e o tratamento poderá ser medicamentoso, com reabilitação neuropsicológica (realizada pelo neuropsicólogo clínico), habilitando o paciente para readaptar-se, assim como desenvolver estratégias de enfrentamento de suas dificuldades desadaptativas, resultantes do TDAH.
       Sabe-se que o TDAH é um dos transtornos que, quando não compreendido corretamente por pais e educadores, pode gerar na criança um sentimento de permanente inadequação e fortes sentimentos de rejeição , assim como inabilidade para lidar com as situações, pois é permanentemente desconfirmada nas suas atitudes, o que a impede de acreditar em si mesma e agir adequadamente. A criança não escolhe deliberadamente “não parar”, “intrometer-se nas conversas, sem esperar sua vez”, “mover-se como se estivesse ligado num motor”, perder os materiais da escola, relutar em fazer as tarefas e sofrer represálias, por conta desses comportamentos! Ela simplesmente não consegue fazer diferente!
        Os comportamentos acima citados, quando a criança possui o TDAH, nada têm a ver com preguiça, “relaxamento”, desinteresse, por parte da criança, como sugerem alguns pais. É, como o próprio nome diz, um Transtorno que impede que o curso natural do aprendizado e do desenvolvimento intelectual, social, relacional e emocional desta criança, que precisa ser diagnosticada e tratada, não rotulada e rejeitada!
      Desejamos e buscamos ser amados, aceitos, reconhecidos, desde nossa tenra infância até o fim dos nossos dias! Portanto, descartada outra condição clínica, comportamental ou relacional que possam estar gerando esses comportamentos, seu filho pode ser portador de TDAH e estar em sofrimento, por esta condição.
Já pensou sobre isso?!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

TERAPIA: ATO DE FRAGILIDADE OU CORAGEM?

             Interessante observarmos que as crenças que carregamos e conceitos que acreditamos ser corretos sofrem profundas transformações quando nos deixamos “levar” pelo gosto de experimentar, ousar e nos “arriscamos” no processo da psicoterapia..
          Sabe-se que o “desconhecido” amedronta, especialmente quando “suspeitamos” que o “estranho” que ainda está por vir surgirá do nosso interior e hoje convivemos com esse “outro” sem consciência disso!Entretanto, percebemos que os indivíduos que se deixam seduzir pela possibilidade de aprofundar-se em si mesmo e embarcam nessa deliciosa viagem que é conhecer-se e apropriar-se de seus sentimentos, emoções e comportamentos, conquistam uma bagagem cujo valor é inominável!
          Embora saibamos que nossa cultura privilegia o sucesso e nos esforcemos (às vezes compulsivamente) para parecermos exitosos em nossa vida, a condição de humanos não permite que permaneçamos em estado de euforia, assim como de tristeza constantemente, porque não suportaríamos! O stress provocado pela euforia invariável ou tristeza permanente, nos adoeceria dramaticamente, se houvesse uma linearidade em qualquer dos dois estados!
             Existe uma tendência a negligenciarmos nossas emoções e sentimentos, sob pena de parecermos desajustados aos olhos daqueles que nos rodeiam. Então “estocamos” anos e anos de emoções reprimidas, entendimentos de fatos, completamente equivocados e inadequados, sem perceber que, com isso estamos adoecendo, às vezes de forma sutil, mas ainda assim, adoecendo...
           No senso comum, encontramos a falsa crença de que quem faz terapia se “expõe”, se fragiliza e isso pode nos tornar humanos menos capazes de suportar os eventos da vida...ou isso nos tornaria simplesmente mais humanos e portanto, mais honestos com a nossa condição, às vezes frágil, às vezes forte,mas absolutamente coerentes com a nossa condição...de humanos?!
           A vida e o estar vivo é exatamente isso... tornar-se consciente de nossa natureza, experimentar a dualidade de todas as coisas...inclusive das nossas emoções que sofrem variações conforme as experiências que passamos! Aceitemos nossa condição e nos permitamos viver e conviver com a polaridade dos sentimentos, dos acontecimentos, sem medo de perder o “controle” das situações!
           Bem pior do que nunca ter fracassado é jamais ter sabido quem se é...bem pior do que acreditar que cuidar-se é  falhar, é jamais ter tido coragem de olhar para dentro de si...Vemos, com freqüência, em situações dolorosas, como um velório, por exemplo, pessoas sugerindo àqueles que sofrem pelo ente querido que se foi, que tomem um copo d’água, comprimidos, um banho em casa, acreditando que estamos sendo generosos...e talvez com essa verdadeira intenção, mas na verdade, estamos tentando afastar de nosso olhar a angustiante cena da dor, do choro incontido, do sofrimento que nos toca profundamente, porque a emoção do outro inquieta, desorganiza! Porque mexe com a nossa emoção.
 O choro, às vezes a tristeza, a dor, são absolutamente necessárias ao nosso desenvolvimento e, ao contrário do que possa parecer, alivia e conforta...também ao contrário do que possa parecer, para fazer terapia são necessários duas grandes virtudes...extrema humildade e imensa coragem, afinal...não é todo dia que temos a possibilidade de “nascer” diferentes e, certamente, pessoas mais leves, felizes e bem melhores!!! Coragem!!! Essa é a grande qualidade de quem senta "naquela" cadeirinha e compartilha sua história...coragem, não fragilidade!!!
           
           

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

DO SÁBIO MÁRIO QUINTANA...

Hoje escrevi sobre os relacionamentos, as exigências e atrapalhos que acabam ocorrendo no decorrer desse processo...depois disso fiquei pensando num texto... Há muito conheço um que na época que li, mexeu demais comigo. Eu, que sempre fui avessa as convenções e me coloquei um pouco à margem de tudo o que era "politicamente correto” não sabia explicar muito bem o porquê da minha identificação com este grande cara, mas hoje entendo que seguir uma lógica "pronta" sem o questionamento do impacto disso em mim é inadmissível...então...aí está...um pouco do que poderia começar diferente, para que terminasse também diferente...do nosso gaúcho Mário Quintana

Sermão de casamento
Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento na igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre:

"Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?"
Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:
- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
- Promete saber ser amiga (o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e, portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
- Promete se deixar conhecer?
- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?
Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros.
Escolha o seu amor. Ame a sua escolha!
Mário Quintana

O AMOR NOSSO DE CADA DIA...

       
            Passamos a vida sonhando com o príncipe que nos seduzirá pelo resto dos nossos dias! Idealizamos o par perfeito e nesta caminhada, vamos “descartando” as peças improváveis que não se encaixam no nosso quebra-cabeças.
       Quando nos sentimos preparados para a vida a dois, casamos, vamos morar juntos, concretizando o tão esperado sonho...constituir uma família, ao lado de um homem/mulher, ao qual prometemos coisas muito sérias, sem ter a menor noção do que isso significará pelo resto dos dias que viveremos ao seu lado!
        Começa então a construção de um novo papel, que exige uma conduta associada a este papel...malabarismos para equilibrar gostos e gastos, maneiras de ver e sentir a vida, administração das coisas do dia-a-dia, da educação dos filhos, quando estes chegam, etc.
       A característica fundamental deste convívio deve ser a flexibilidade e a humildade em reconhecer o espaço do outro e a hora de recuar e respeitar, assim como fazer-se respeitar, tudo isso sem que a vida a dois não se torne um martírio!
        E nesta convivência onde a parceria e a cumplicidade deveriam ser absolutas, nem sempre a competição cede lugar...então...passamos as horas, os dias ou anos  numa relação que mais parece um jogo de tênis! Os  casais tentam exaustivamente “matar o ponto” e, dessa forma, sentem-se “vitoriosos”, não sei bem em relação a que ou a quem...mas vitoriosos, porque aquele ao qual prometemos coisas muito nobres, há algum tempo atrás, está em desvantagem, perdeu, é o nosso adversário!!!!
       É uma lógica ambígua, pois o companheiro é alguém que se escolhe para caminhar juntos, unir forças, compartilhar idéias, projetos, dores e sabores da vida diária. Entretanto, ao invés de investirmos em nós mesmos, nossos projetos, nosso crescimento e desenvolvimento como pessoas, o que certamente nos tornará mais atraentes e envolventes, desperdiçamos nossa energia na destruição do outro! E o outro é nosso cônjuge!?
        Pior do que viver assim é não ter a exata consciência de quem se é, tanto como pessoa, quanto, como parceiro, e não buscar os caminhos para sua satisfação e felicidades!
       Claudia Raia e Edson Celulari, por exemplo, parecem ter vivido, com tudo que uma relação tem de bom e de ruim, durante duas décadas e tiveram a coragem de serem verdadeiros e leais a si próprios, quando findaram a relação, onde os papéis de marido e mulher se esgotaram. Há quem diga que a relação não deu certo! Como não?! Deu certo, siiiim!!! Durante quase vinte anos! Não daria agora, quando se aperceberam que o vínculo se esgotou...mas pra isso é preciso  correr um certo “risco”  e autenticidade...características que pessoas que se conhecem profundamente conquistam quando o assunto é a busca da sua felicidade...
        O amor da vida adulta consiste, entre tantas outras coisas, em manter essa disponibilidade de compartilhar, crescer juntos, rir das falhas, entregar-se, para o vínculo! Sem utilizar, perversamente, as dificuldades do outro, como arma letal que mata o afeto, o sexo e o futuro...não acreditamos, verdadeiramente, que o príncipe se transforma naquele ser verde, de aparência brilhante  e gosmenta, sem o nosso auxílio, não é mesmo?!           
           
           
           

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

“MANIA” OU COMPULSÃO?!

       O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é um transtorno bastante comum, com prevalência em torno de 2,5% na população, ou seja, uma em cada 40 pessoas apresenta a doença, ao longo da vida. Em geral acomete pessoas jovens, no final da adolescência, sendo comum iniciar na infância. Entre adultos, a incidência é levemente superior em mulheres.É caracterizado pela persistência e recorrência de obsessões (pensamentos, palavras, frases, cenas ou impulsos, considerados impróprios ou inaceitáveis) que invadem a consciência do indivíduo, causando medo e desconforto.
     O indivíduo que experimenta essa condição tenta ignorar, suprimir ou neutralizar as obsessões, através de compulsões ou rituais (atos estereotipados e repetitivos), que em geral ocupam parte significativa do seu tempo, interferindo na rotina diária, em diferentes contextos de sua vida. As obsessões mais comuns são as ligadas à sujeira, contaminação, as de simetria e armazenagem de objetos, assim como os pensamentos de conteúdo mágico, agressivo e sexual. Numa tentativa de neutralizar as obsessões, o indivíduo desenvolve rituais como compulsões por lavagens excessivas, verificações ou repetições (verificar várias vezes se realmente trancou a porta, fechou o gás, a torneira, etc), alinhar e colecionar objetos inúteis, contar, repetir palavras, frases, movimentos, etc.       
     Esses comportamentos têm o objetivo de prevenir, reduzir ou abrandar o desconforto gerado pela idéia obsessiva, por alguma situação temida ou, ainda, aliviar a ansiedade gerada por determinada situação.
     Como os comportamentos compulsivos tendem a ser repetitivos e contínuos, muitas vezes eles acontecem automaticamente, podendo o sujeito reservar um tempo expressivo para tais realizações, comprometendo de forma importante, o trabalho, a vida social, familiar e afetiva.
       Os indivíduos portadores desse transtorno revelam intenso sofrimento, pois sentem angústia e ansiedade na impossibilidade de realizar a atividade compulsiva, desenvolvendo uma “dependência” da efetivação dessas atitudes, como alívio de sua aflição. Em casos mais sérios observa-se prejuízo significativo em diferentes áreas da vida, tais como declínio da qualidade dos relacionamentos afetivos, insuficiente desempenho acadêmico, perda de vínculos sociais e profissionais. Esses danos na vida pessoal e social do sujeito podem ocorrer, entre outras razões, pelo tempo, cada vez maior que a pessoa ocupa fazendo os "rituais", chegando a níveis insustentáveis, quando começam as faltas a escola, trabalho, atrasos nos compromissos, etc.
       O tratamento adequado requer avaliação psiquiátrica, havendo, na maioria dos casos, necessidade de medicação, a fim de minimizar os sintomas, bem como a terapia, visando o treino de novos comportamentos, mais espontâneos e menos estereotipados.              
       Pessoas que possuem na família, pacientes com o transtorno, tendem a se adequar ao que, no senso comum, denominamos “manias”, entretanto nos casos mais severos, essas ações desorganizam a vida familiar e nos distanciam da possibilidade maior, durante nossa existência: ser felizes e mais satisfeitos com quem somos!!!
           

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

QUEM É ESSE NO ESPELHO?!

           Vida de gente grande não é fácil! Mas...quem foi que disse que tem que ser fácil para haver proveito, aprendizado e gosto?! Ouvimos com freqüência a frase “o que é bom custa caro” e penso que essa máxima pode se aplicar também as conquistas imateriais da vida! Porém o custo, neste caso, tem a ver com o tanto de esforço e comprometimento envolvidos no processo de busca daquilo que planejamos obter e ser como pessoas...
        Sem, nem por um momento desmerecer as conquistas materiais, tão gratificantes e necessárias também, discuto aqui as conquistas íntimas, pessoais de cada um...aquelas “aquisições” que nunca mais nos permitirão voltar a ser os mesmos de antes... Após a delícia de ser criança, experimentada na infância e a turbulência vivenciada quando se é adolescente, encaramos a difícil fase do jovem adulto que é tão cobrado! Estás trabalhando? Casado? Tens filhos? Só um menino? Ah, então vão atrás da menina...e por aí vai...incessante listagem de “critérios” que a vida nos impõe e que se não obedecemos a estes padrões, estamos à margem e podemos nos sentir sós...
         Parece que o alívio vem mesmo com a maturidade...tão doce quanto a infância, com sofrimentos, como a adolescência e as mesmas cobranças do jovem adulto, mas com diferentes recursos e instrumentos internos para lidar com as cartas “ruins” que a vida nos apresenta! E isso faz toda a diferença! Ah, se faz...Na maturidade as “gavetas” internas daquele roupeiro bagunçado se acomodam...os valores se consolidam e não tememos ser quem nós somos...se tivermos, claro, consciência de quem somos!!!
        Percebe-se que grande parte das pessoas adota “personagens” no desempenho de seus papéis e em determinados momentos de sua história entram em conflito, pelos “atrapalhos” em que vivem, pela desordem que experimentam ou pela ruína em que transformam suas vidas, pura e simplesmente porque se desconhecem! O processo de autoconhecimento realmente não é fácil, nem simples...requer atitude, persistência, dedicação e principalmente coragem! Temos que estar dispostos a enfrentar nossos “fantasmas” que, embora possam parecer, num primeiro momento assustadores, na verdade não o são tanto assim...pois se nos pertencem, vivem no nosso mundo interno, não podem ser maiores do que nós mesmos!
       Não importa o momento em que nos disponibilizamos a isso...o que importa é que quando decidimos que vamos nos “apresentar” a nós mesmos, é o exato momento em que isso deve ser feito...nem antes, nem depois...é agora! Quando desejamos nos conhecer é que é a hora certa!!! Os caminhos escolhidos para tal são particulares de cada um...tem a ver com suas crenças, com a disponibilidade emocional, financeira,com a influência do meio em que vivemos, etc...não importa se é num centro budista, na biodanza, através de livros e debates, na terapia ou em outras formas que o indivíduo escolher para vivenciar este processo. O que é realmente importante é que o faça! E o faça verdadeiramente...
      Os ganhos são imensos! Deixamos de ser reféns dos nossos sentimentos e emoções, nos apropriamos de nós mesmos, desenvolvemos segurança e originalidade nas nossas atitudes, estabelecemos um parâmetro interno, além de experimentarmos genuína satisfação por conhecer profundamente essa pessoa com a qual convivemos vinte e quatro horas por dia! Nós mesmos!
     Cuide dela, da sua companhia permanente e inseparável, escute sua voz interna, conheça e respeite os seus sentimentos, valorize suas conquistas íntimas e experimente a delícia (e as dores também) de saber quem você é! Não vai passar a vida alheio de si mesmo e tomar um susto ao olhar-se e pensar... Quem é esse no espelho?! Vai?!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

QUEM É SEU AMANTE?!

Hoje, pela manhã, abri os e-mails e lá estava, enviado por uma amiga, o interessante texto, de um colega psicólogo...

A proposta não é fácil, mas é simples...afinal disponibilizamos de absolutamente TODOS os recursos necessários para sermos mais felizes...

Então...para desfrutar e refletir...

Quem é seu amante?!

" Muitas pessoas tem um amante e outras gostariam de ter um. Há também as que não tem, e as que tinham e perderam". Geralmente, são essas últimas que vem ao meu consultório, para me contar que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insônia,apatia, pessimismo, crises de choro, dores etc.
Elas me contam que suas vidas transcorrem de forma monótona e sem perspectivas, que trabalham apenas para sobreviver e que não sabem como ocupar seu tempo livre. Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que estão simplesmente perdendo a esperança. Antes de me contarem tudo isto, elas já haviam visitado outros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme: "Depressão", além da inevitável receita do anti-depressivo do momento. Assim, após escutá-las atentamente, eu lhes digo que não precisam de nenhum anti-depressivo; digo-lhes que precisam de um AMANTE!!!  É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu conselho. Há as que pensam: "Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa dessas"?! Há também as que, chocadas e escandalizadas, se despedem e não voltam nunca mais. Aquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu explico o seguinte:"AMANTE" é aquilo que nos "apaixona", é o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono, é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir.O nosso "AMANTE "é aquilo que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e amotivação da vida. Às vezes encontramos o nosso "AMANTE" em nosso parceiro, outras, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis.Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no esporte, no trabalho, na necessidade de transcender espiritualmente, na boa mesa, no estudo ou no prazer obsessivo do passatempo predileto....Enfim, é "alguém!" ou "algo" que nos faz "namorar a vida" e nos afasta do triste destino de "ir levando"!..E o que é "ir levando"? Ir levando é ter medo de viver. É o vigiar a forma como os outros vivem, é o se deixar dominar pela pressão, perambular por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastar-se do que é gratificante, observar decepcionado cada ruga nova que o espelho mostra, é se aborrecer com o calor ou com o frio, com a umidade, com o sol ou com a chuva. Ir levando é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje, fingindo se contentar com a incerta e frágil ilusão, de que talvez possamos realizar algo amanhã*.Por favor, não se contente com "ir levando"; procure um amante, seja também um amante e um protagonista... DA SUA VIDA!

Acredite: O trágico não é morrer, afinal a morte tem boa memória, e nunca se esqueceu de ninguém. O trágico é desistir de viver... Por isso, e sem mais delongas, procure um amante ...A psicologia após estudar muito sobre o tema, descobriu algo transcendental:

"PARA ESTAR SATISFEITO, ATIVO E SENTIR-SE JOVEM E FELIZ, 
É PRECISO NAMORAR A VIDA!!!"

(Jorge Bucay - Psicólogo)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

          A Neuropsicologia é a ciência que estuda a relação entre o cérebro e o comportamento humano. Também pode ser descrita como análise sistemática dos distúrbios do comportamento que se seguem a alterações da atividade cerebral normal, causadas por doenças, como Alzheimer, por exemplo, lesões, malformações, etc.
         A Avaliação neuropsicológica (AN) é o exame das funções cognitivas do indivíduo: orientação, atenção, memória visual e verbal, raciocínio, linguagem, capacidade de abstração, entre outras funções. Deve ser feita somente por profissional especializado, exigindo fundamentação consistente da Psicologia, familiaridade com os testes padronizados, para avaliar especificamente aquelas funções mentais, além do conhecimento do sistema nervoso e suas enfermidades.
          A AN poderá ser requerida no declínio cognitivo, quando existem prejuízos de áreas cerebrais com alterações neurológicas (traumatismo craniencefálico, epilepsia, acidente vascular cerebral), na diferenciação entre síndromes psicológicas e neurológicas, como a depressão e a demência, ansiedade e transtornos como TDA/H (Transtorno do Défict de Atenção e Hiperatividade), entre outras demandas. Há também indicação de avaliação em decorrência do uso abusivo de álcool e outras drogas ilícitas, uma vez que o funcionamento neuronal pode sofrer alterações pelo uso de qualquer droga, vindo o indivíduo a sofrer modificações nos processos de pensamento, atenção, sentimentos, emoções, concentração, memória, coordenação motora e nível intelectual.
         O exame neuropsicológico prevê determinado número de sessões (6 a 10) dependendo, sempre, do ritmo que o paciente adota. Essas sessões incluem entrevista de coleta de dados, com pacientes e/ou familiares, testagens e devolução dos resultados. A referida devolução será realizada pelo profissional, com base nos resultados obtidos. Este construirá um laudo (documento pessoal do cliente) com estes dados, onde as orientações quanto à reabilitação das funções prejudicadas estarão presentes, bem como os encaminhamentos a outros profissionais, quando necessários (neurologistas, psiquiatras).
          Através dos resultados da AN pode-se propor uma intervenção ou reabilitação, focada nas funções cognitivas que possuem déficts, e nos distúrbios psicológicos e/ou psiquiátricos, quando houver. O objetivo será oferecer melhor qualidade de vida ao paciente e minimizar os sintomas e o grau de sofrimento deste, assim como dos familiares.
        Importante considerar que, na reabilitação neuropsicológica, sessões de orientação à família ou cuidadores do paciente, são fundamentais. Sempre que este for criança, jovem/adulto com prejuízos significativos ou ainda, idosos que necessitam amparo. Além de auxiliar no sucesso do tratamento, a presença dos cuidadores, imprime a este processo, um sentido de comprometimento com o bem-estar daquele a quem nos responsabilizamos, neste momento. Este fator, sem dúvida é positivo, para apropriada recuperação e possibilidades de uma vida com maior qualidade.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DIA DO PSICÓLOGO: 27 DE AGOSTO

         Difícil tarefa é escolher uma profissão...dúvidas, pressões externas e, quase sempre a imaturidade presente, na faixa etária em que somos “convidados” a fazer isso...porém quando a profissão que escolhemos é aquela que tem a ver com a nossa “missão” e nos encontramos desempenhando o papel profissional, repletos de amor, então descobrimos: estamos plenos e acertamos integralmente na nossa escolha!!!
        Ser psicóloga, na minha concepção, é isso: acordar e saber que, a cada dia novos desafios chegarão. Mais pessoas trarão seus dramas e suas dores e, nós humildes e respeitosos, nos disponibilizaremos a trilhar juntos esse percurso e encontrar os melhores caminhos...
      Trabalhar com o Psicodrama faz com que essa “tarefa” seja inteiramente realizada, pois é uma teoria que parte do princípio que todo o ser humano tem enorme potencialidade para ser feliz e é com esse núcleo saudável que nos relacionamos a partir de então...trabalha-se com a saúde e não com a doença...identifica-se aspectos insatisfatótrios, mas é com a possbilidade de ressignificar eventos e "fazer diferente" que vamos focar a busca...
       O Psicodrama é chamado por alguns autores de “psicoterapia da relação”. Sabe-se que o desenvolvimento e sucesso do processo terapêutico somente ocorrerá se houver, verdadeiramente, um vínculo, uma relação entre os envolvidos, onde há entrega entre aquelas pessoas que ali estão: o paciente buscando respostas, alívio para suas angústias e o terapeuta disponível afetivamente. O psicólogo valendo-se de técnicas, métodos, conhecimentos e, principalmente, da capacidade que deve ter de se deslocar do “seu lugar” e compreender aquele ser humano a partir de como sente e percebe o mundo. Essa postura consiste, fundamentalmente, em compreender o “fenômeno” como ele se coloca, aqui e agora, e a partir desse momento buscar estratégias para que o cliente possa perceber-se e construir-se mais criativa e espontaneamente no desempenho dos seus papéis.
        A relação terapêutica no Psicodrama pressupõe papéis assimétricos. Há o cuidador e há o que se deixa cuidar, no entanto, a postura do psicodramatista é sempre de humildade e “ingenuidade” em relação àquilo que o paciente lhe trás, pois apesar de possuir o “saber”, o profissional nada será se não tiver a consciência de que o ser humano é único e vive e experimenta sua existência de forma particular... Cada pessoa que busca auxílio profissional, trás consigo um jeito peculiar de ser e estar no mundo e juntos, paciente e terapeuta podem desvendar, conhecer e compreender as relações que o cliente estabelece com a realidade que o circunda e a maneira com que este é atingido e/ou prejudicado por ela.
        O Psicodrama entende que o homem nasce espontâneo e que perde a capacidade de dar respostas adequadas aos eventos da vida, ao longo do desenvolvimento de suas relações (inadequação dos papéis dos cuidadores, abandono afetivo, entre outros). Dessa forma, entende-se, igualmente que, através do desenvolvimento de uma relação sadia entre paciente e terapeuta o sujeito poderá resgatar a “competência” para novamente apresentar respostas apropriadas aos acontecimentos da vida.Essa conquista pode resultar na construção ou fortalecimento de uma identidade mais coerente com o que está buscando ser. O resultado dessa harmonia entre o que se quer ser e o que se faz com a própria vida, pode ter como conseqüência uma pessoa mais inteira nos vínculos que estabelece e, portanto, mais feliz no mundo em que vive.
       Agradeço do lugar mais profundo da minha alma, pela profissão que tenho, pelo crescimento que experimento junto aos meus colegas e, principalmente, junto aqueles que confiaram a mim seus dramas e que permitiram que fizesse parte de suas vidas. São essas pessoas, que confirmam e fortalecem nosso papel, as responsáveis pela possibilidade de comemorarmos, legitimamente, o dia do Psicólogo!