quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ELE MORREU...TU MORRERÁS, EU MORREREI, O QUE ESTAMOS FAZENDO ANTES DISSO?!


            Há alguns dias uma pessoa querida partiu...um amigo que ela demorou a entender...homem  bastante inteligente, sensível, dotado de capacidades e habilidades artísticas incomuns, mas que, como muitos outros artistas neste país morreu sem ser reconhecido em sua cidade e seu estado...também  enfrentava dificuldades onde residia atualmente, pelo que eles conversavam...então parece que viver da arte não é muito fácil mesmo...
          Na sua adolescência ela experimentava sentimentos ambíguos em relação a ele...dotado de um humor refinado,  e por vezes “cru”, sempre que ela se aproximava pensava: “o que será que vai dizer a meu respeito...e pior, será que, se disser alguma coisa vou entender?!” Tinha medo da sua inteligência e fina sensibilidade...que boba que ela foi...
           Bem...depois do amadurecimento que a própria vida propicia, além é claro, dos recursos, como terapia, cujos resultados como um  importante encontro conosco que esse processo oportuniza, ela perdeu o medo das pessoas perspicazes, com humor quase sádico, como era o caso dele e eles se reencontraram em Florianópolis, onde ele morava atualmente e conversaram e riram muito!
           Depois disso, eles conversavam, com freqüência nas primeiríssimas horas da manhã pelo MSN, sobre os mais diferentes assuntos...desde coisas profundas de suas vidas pessoais, passando pelos lamentos e  alegrias de suas  profissões, memórias da adolescência e carnavais, notícias dos amigos, até o clima em São Gabriel e Florianópolis...
           Conheceram-se mais e passaram a admirar-se e respeitar-se e ela descobriu um grande homem que não representava atrás do personagem de menino rebelde, com barba malfeita e “bafão” de moleque... Reconheceu um homem que se encontrou e, segundo ele próprio, nessa nova vivência, saiu da margem o que possibilitou viver a sua história, integralmente, sem se violentar e violentar o outro, pois estava feliz e quando estamos felizes não necessitamos agredir ninguém, porque a vida que temos é a vida que escolhemos ter...
            Hoje, quase uma semana após ter partido, como disse alguém sensível o bastante para definir saudade, quando lembra dele, escorre dos olhos dela, aquele sentimento que não cabe mais no seu coração e, em alguns momentos, chega a pensar “devia ter amado mais?...” Mas ao mesmo tempo se dá conta de que os momentos vividos foram exatamente aqueles que puderam ser vividos, nem mais, nem menos...e se sente satisfeita pelo convívio, por não ter economizado sentimentos, por ter recebido esse amigo e a família que escolheu na sua casa, por não ter se escondido atrás do “invisível” no MSN, quando ele aparecia, enfim por estar inteira na relação, enquanto este convívio foi possível...
            Parece que esse é o único jeito de não entrarmos num ciclo de histeria, quando as pessoas partem! Pode ser uma maneira de sofrer menos...viver com e para as pessoas aqui e agora, mas também assumir a responsabilidade de não querer estar com elas, quando assim desejamos...não somos obrigados a gostar de todo mundo, nem querer a todos o tempo todo!!! Mas quando gostamos não nos economizemos, por favor!!!!
            Depois de mortos, de nada adianta colocarmos mensagens desesperadas aos falecidos, nas redes sociais pedindo explicações do porquê eles se foram, ou solicitando ajuda destes, para que nos auxiliem a elaborar a sua própria morteeeee!!!
            Fico pensando...quando aprenderemos tamanho desprendimento ou desapego para que deixemos aqueles que amamos ir, sem que nossa dor ou egoísmo por querer a pessoa amada ao nosso lado prevaleça sobre todas as coisas, sem que nos deixemos entrar num ciclo de sofrimento e desespero, que impede o raciocínio, tira a lucidez, evita a fome, desregula o sono e infligi uma dor que dilacera o peito...
            Porém, existem algumas pessoas, talvez mais evoluídas espiritualmente e mais abastecidas da vivência com o outro, enquanto estiveram aqui com seus companheiros, que vivem essa passagem de outra maneira...mais plácida, menos caótica e indiferenciada, mais íntegros na sua dor...
             Será que estamos fazendo o mesmo? Ou ainda estamos vivendo nossos vínculos de maneira pequena e mesquinha, com valores ínfimos, economizando afeto e despendendo energia naquilo que não tem valor nas relações?
              Cada pessoa que se vai e a dor que isso nos causa deveria servir para um bom momento de reflexão...o que estamos fazendo com os vínculos que aqui ficaram? Reeditando os mesmos erros? Estamos usando a nosso favor nossa inteligência e sensibilidade para fazermos diferente do que fizemos antes, quando identificamos o equívoco?
              De que adianta a experiência do desconforto, se nas nossas vidas e nosso mundo interno essas perdas e essas vivências não gerarem transformações!?
             Não deixemos que as dores passem em vão...tornemos cada experiência combustível para seguirmos adiante na estrada que se mostra a nossa frente...não valeria a pena passar por tantas coisas, se não houvesse um grande propósito...enquanto não descobrimos o porquê, que seja então, para amar mais, se doar mais, fazer mais!!! E não ter se economizado demais e ter se arrependido depois, porque não fez,não é?!
            Um ano está chegando ao fim!!! E um NOVO ANO nascendo!!! Aproveitemos!!! O clima é de renovação, reciclagens, mudanças, transformações...se não for, criemos internamente esse clima e vamos tornar abundante a oferta de afetos verdadeiros em nossas redes sociométricas...ele não acaba!!! Ao contrário!!! Parece que, quanto mais amor se dá, mais ele se expande e volta!!! Ex-pe-ri-men-ta!!!
Transcrevo abaixo a homenagem de alguém que ama verdadeira e despretensiosamente e postou, como homenagem ao parceiro de anos, que acabou de perder...
"A morte não é nada.
Eu somente passei para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.
Me dêem o nome que vocês sempre me deram,
falem comigo como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas,
eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.
A vida significa tudo o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora de suas vistas?
Eu não estou longe,
apenas estou do outro lado do Caminho...
Você que aí ficou,
siga em frente,
a vida continua,
linda e bela como sempre foi."


Sto Agostinho
Alguns poucos relacionamentos conseguem ser tão puros e limpos e por isso mesmo, plenos e verdadeiros...por isso preenchem tanto...



domingo, 19 de dezembro de 2010

DISTIMIA...O QUE É?!


            Quem não conhece, no seu círculo de amizades, alguém que está sempre de mau humor, com " a cara fechada", causando tensão nos ambientes que frequenta e, como consequência, deslocado e deslocando pessoas, por sua suposta "falta de habilidade" em lidar com as brincadeiras, tão sadias e necessárias, no nosso dia-a-dia?!
           Lembraste de alguém? Sim? Pois é...esta pessoa pode não ser simplesmente um mal humorado de plantão, ela pode estar doente e o nome desta doença é distimia.
          O termo “distimia” é de origem grega e significa “mal humorado” e refere-se a um comportamento inclinado à melancolia. A caracterização da doença passou por inúmeras transformações, podendo hoje ser definida como “um quadro depressivo crônico, com sintomas de intensidade leve, com início insidioso, começando muitas vezes na infância ou adolescência e se prolongando, eventualmente, durante toda a existência do indivíduo”.
            Alguns pacientes referem que “são assim, sempre foram assim”, devido à extensa permanência do quadro em sua vida. Em geral são indivíduos que se descrevem como tristes e desanimados e apresentam outras queixas, o que pode “mascarar” a identificação do transtorno, senão for investigado minuciosamente pelo profissional.
            Em crianças, a distimia parece ocorrer igualmente em ambos os sexos, enquanto na idade adulta, as mulheres estão duas a três vezes mais propensas a desenvolvê-la do que os homens.
Os instrumentos utilizados para classificação das doenças, como CID-10 e DSM-IV, são concordantes em afirmar que a insônia, fatigabilidade ou perda de energia, baixa auto-estima, diminuição da capacidade de concentração, perda de interesse ou prazer, entre outros sintomas, estão presentes no curso da doença.
Estima-se que 4,3% da população possam ter distimia. Estudos diversos e bem controlados sugerem que o desenvolvimento do transtorno depende tanto de fatores genéticos, quanto ambientais. Fatores genéticos podem ter papel importante no início precoce, podendo ser responsáveis também, pela cronicidade da doença.
Aliados a “herança genética”, o histórico familiar com alterações do humor, abuso de substâncias pelos pais, acontecimentos traumáticos e outros, podem estar associados à patologia.
As crianças e adolescentes, com transtorno distímico, podem ter baixa auto-estima e fracas habilidades sociais, sendo também pessimistas. Os familiares geralmente os descrevem como irritáveis, ranzinzas, e/ou deprimidos. Nos adultos pode haver a diminuição da autocrítica e a construção de uma auto-imagem negativa, percebendo a si mesmos como “desinteressantes” ou “incapazes”.
Devido ao caráter crônico, a distimia pode conduzir a prejuízos graves, mal-estar familiar, insucesso conjugal, inadaptação no trabalho e outras formas de disfunção social. Trata-se, pois, de grave transtorno que, após cuidadosa avaliação, deverão ser trabalhadas, com ênfase no presente, as dificuldades encontradas pelo paciente, buscando transformações cognitivas, emocionais e comportamentais, através de tratamento orientado para tal.
Não confunda, ok? Falamos aqui de caráter crônico, não de episódios de mau humor, aos quais todos estamos sujeitos!!! Precisamos ter o imenso cuidado e não sair por aí patologizando todas as atitudes e "catalogando" ações como se as pessoas fossem objetos de estudo vivos!!!
         Considera-se doença toda ação que se cristaliza e impõe ao indivíduo ou aqueles que o cercam sofrimento significativo! E isso somente poderá ser avaliado por profissional capacitado para essa tarefa...enquanto isso, vamos nos observando e olhando para o outro com gentileza, sem apontar o dedinho e banalizar diagnósticos sérios, como muitas vezes observamos por aí...afinal...acho que é dos Mutantes, uma música que diz...de perto...bem de pertinho...ninguém é normal!!!


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

CASAIS HOMOAFETIVOS: AMOR MOSTRA A TUA CARA!


Durante esta semana uma jornalista postou um link no Facebook sobre a oficialização da união da cantora gaúcha Adriana Calcanhoto com a filha do cantor Vinícius de Moraes, Suzana de Moraes.  Logo após, surgiram vários comentários, todos em tons muito engraçados, mas que na verdade, parecem refletir mesmo é um desconforto em relação ao tema, pois não sabemos ainda muito bem o que fazer com o que sentimos quando vemos uma relação homossexual sendo assumida... paradoxalmente percebe-se que é mais confortável que estas relações mantenham-se na clandestinidade, pois assim aquelas pessoas que se sentem desconfortáveis podem seguir fazendo suas piadinhas preconceituosas e soltando seus risinhos sarcásticos, pensando ser a orientação homoafetiva do outro um grave defeito e,pior do que isso, passível de julgamento!
            O que parece não ficar muito claro para a maioria das pessoas, até mesmo as mais bem informadas, é saber se o homossexual opta por ser homossexual ou nasce orientado sexualmente para desejar um corpo igual ao seu...e ter essa informação considero crucial para um posicionamento mais ou menos preconceituoso. Sim, mais ou menos, não vamos ser hipócritas e acreditar que somos capazes de ser absolutamente sem preconceitos! Prefiro acreditar que trabalhamos arduamente para isso, mas nos descobrimos com algum grau de preconceito em relação a algum tema, sempre. E ter informação, é condição essencial para se ter menos preconceito, pois este último é amigo íntimo, diria até “irmão siamês” da falta de informação!!!
            Então ,vamos lá...opção, de acordo com o dicionário Aurélio: é aquilo que se opta; ato ou faculdade de optar; livre escolha , portanto algo que se escolhe, que é voluntário, que a qualquer momento posso, por vontade própria, mudar o rumo, o caminho, voltar atrás,dessa forma, duvido muito que, por livre e espontânea vontade alguém venha a escolher ser homossexual, com todos os ônus que essa vivência traz! As pessoas que são homossexuais sofrem inúmeros preconceitos, dores, dissabores, rejeições, incompreensões, agora agressões, além de emocionais e psicológicas, também as físicas que, em alguns casos levam até à morte!
            Orientação, do mesmo dicionário, significa: guia; regra; impulso; tendência; inclinação. A orientação sexual não pode ser “revertida”, a pessoa nasce com o desejo orientado para o outro do mesmo sexo e isso já se sabe e sente desde muito cedo. Quando falamos com pessoas, cuja orientação é homossexual e questionamos desde quando elas têm consciência de sua homossexualidade, respondem que sempre souberam, apenas não identificavam os sinais que evidenciavam essa condição...
            São muitas as pressões externas que sofremos e ser “diferente”, num mundo onde a cultura da massificação tenta se impor a qualquer custo, pode ter conseqüências devastadoras, para alguns psiquismos mais frágeis.
            Existe outra faceta desta condição, talvez pouco compreendida, mesmo pelos homossexuais, pelo que percebo, na experiência do consultório. Muitas vezes levados pela pouca condição intelectual ou forte pressão psicológica, acabam por desenvolver  o transtorno de gênero, que faz com que a pessoa acredite que precisa externalizar características do sexo oposto. Por exemplo, um homossexual do sexo feminino passa a acreditar que tem que vestir roupas masculinas e se comportar de maneira mais masculinizada ou o contrário, como mais comumente vemos, os homens homossexuais se comportam de forma bastante feminilizada.
            O fato de ser homossexual não induz, nem obriga ninguém a se comportar de maneira oposta ao sexo biologicamente determinado, isso é uma distorção e, como disse anteriormente, constitui um transtorno chamado Transtorno de Gênero. Talvez o pouco esclarecimento acerca dessa particularidade tenha colocado muitos homossexuais na marginalidade, por acreditarem que tinham que agredir sua identidade de gênero e se perderam por aí...
            Os pais mais saudáveis psicológicamente, atualmente buscam auxílio nos consultórios psicológicos para que os jovens, sejam eles do sexo feminino ou masculino, possam sofrer menos com sua orientação homossexual e conviver com todas as possíveis conseqüências dessa experiência. O objetivo tenho percebido, é justamente evitar que essas pessoas não se obriguem a viver à margem e, portanto, excluídas e menosprezadas, tendo sua auto-estima dilacerada e sua vida transcorrendo num percurso, muitas vezes inverso ao que  esperam para si, simplesmente porque não conseguiram ser e viver no meio  que desejavam estar!
            Sejamos mais honestos e mais humanos! Em que momento de nossas vidas começamos a acreditar que podemos subir numa cadeira de juízes absolutos e imunes a qualquer julgamento, condenar e ridicularizar alguém porque ama outro alguém igual a si? Condenamos porque tiveram a coragem de assumir a condição ou relação homoafetiva? E as relações heterossexuais estão isentas de qualquer julgamento, única e simplesmente por serem heterossexuais? Percebe-se muitas vezes um casal hetero, cuja relação é pautada pela infidelidade, promiscuidade e deslealdade, entretanto, nada se “fala”, porém, basta que “aquele” casal homossexual entre no recinto, ainda que sua relação seja de muito respeito, amor, lealdade e fidelidade que, o simples fato de serem do mesmo sexo, escandaliza e os burburinhos e risadinhas começam a se formar...
            Afinal, o que queremos? Ser felizes? Ou nos tornarmos bonequinhos feitos em série, acertando o passo e obrigando e castigando quem não estiver na marcha?! Por que condenamos tanto os negros, os gordos, os tortos, os homossexuais, os que se assumem, os que não se assumem, os diferentes? Onde, afinal se encontra a dificuldade? Em aceitar as próprias dificuldades? Sejamos mais tolerantes e condescendentes com as nossas próprias diferenças e talvez estejamos a caminho de aceitar com menos malícia e iniqüidade a diferença do outro... assim estaremos contribuindo para um mundo melhor, com pessoas mais felizes, mais inteiras, inclusive nós mesmos, afinal o que tememos tanto?! O diferente ou o semelhante, no seu mais amplo aspecto?! Pois, até onde sei o que me incomoda no outro, nunca é do outro, é sempre meu...
            *Para quem tiver interesse em buscar mais informações a respeito do tema há um livro de um Psicodramatista, Ronaldo Pamplona da Costa que esclarece, de maneira detalhada e bastante simples essas questões a respeito da sexualidade humana: 11 SEXOS: AS MÚLTIPLAS FACES DA SEXUALIDADE HUMANA. EDITORA GENTE.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

DRAMAS DA VIDA E RISOS QUE SALVAM...

Em 29 de novembro deste ano morreu Mario Monicelli, cineasta italiano, vítima de câncer de próstata que, impaciente em esperar a derradeira morte, abreviou o próprio final e se atirou do quinto andar do hospital em que estava internado em Roma, aos 95 anos de idade. Uma das características dos filmes de Monicelli era a crítica social aguda e o riso utilizado como recurso de denúncia e revelação daquilo que não “poderia” ser dito.
Na revista Época desta semana tem pequena nota falando deste peculiar gênio que, em entrevistas a outros órgãos de imprensa, definiu uma particularidade dos italianos que eu não entendia e até criticava, especialmente em mim, (descendente de italianos) obviamente antes dos cento e cinqüenta anos de terapia! Hoje é algo que considero definitivamente um meio de salvação, que é a capacidade de rir das próprias tragédias!
A disposição ou talento de rir dos nossos dramas, brincar com as próprias mazelas, pode nos trazer a dose exata de oxigênio para que não sufoquemos no desespero por uma solução que não virá, com a ansiedade elevada...ou pode ser a luz que não enxergaremos enquanto a cegueira nos impede de distinguir caminhos ou quando a raiva toma conta do nosso corpo ou o medo paralisa nossos órgãos...
O riso é remédio, no entanto, como diz a música cantada por Frejat, “que você saiba que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero”...estou falando aqui do riso saudável, não do riso louco, maníaco, alienado, de quem está no caos e não percebe...mas de ter a consciência do que queremos das e para nossas vidas. Queremos ter saúde? Queremos uma família unida? Ser bem sucedidos e reconhecidos no trabalho? Amizades verdadeiras? Uma casa im-pe-ca-vel-men-te asseada e organizada? Nome limpo na “praça”? Filhos educados, felizes, saudáveis, com valores sólidos? Tempo livre para mim e minha família? Tempo para lazer? Roupas de grife? Carros do ano? Corpo sarado? Amor verdadeiro? Elevação espiritual...???
Dependendo da “lista” de prioridades daquilo que elejo para minha vida o grau de sofrimento varia...por exemplo...se no topo da minha lista está uma casa perfeitamente arrumada, meu filho pode estar em sofrimento porque não aprendeu o conteúdo daquela imensa prova de hoje, ou mesmo com um desconforto físico ou emocional que vou valorizar o sofá manchado ou a parede descascada e isso vai impor enorme desgaste a minha vida,porque na minha “lista” de prioridades está a casa...quem está lendo este texto pode estar se perguntando quem agiria assim, eu te respondo...muitas pessoas...que sofrem!!!


         Sim...porque viver assim causa enorme sofrimento! E esta não é uma escolha deliberada, são crenças que acabamos adquirindo desde tenra idade e padrões de comportamento que se formam em nossos núcleos familiares e vamos agindo assim, sem a menor percepção da pouquíssima qualidade que nossa vida tem!!! Viramos “escravos” de padrões transgeracionais e se não fizermos uma crítica acerca do nosso comportamento, corremos o risco de estar em sofrimento e de estar impondo sofrimento aos que nos cercam sem perceber isso!!!
Alienados do que queremos, vamos acreditando que o importante é ter uma casa com uma iluminação perfeita igual a da novela...ou a barriga e o bumbum da-que-la pessoa que idealizamos, cuja felicidade não conhecemos, mas imaginamos que seja completa e queremos para nós! Então, ao invés, de investirmos nosso preciosíssimo tempo na busca do que poderá nos tornar pessoas mais felizes e menos fragmentadas e ”falsificadas”, seguimos a cartilha alheia...que lástima!
Nosso roteiro é sempre mais original, embora, nem sempre nosso final possa ser um final feliz, como nos comerciais de margarina! Porém, será sempre o resultado daquilo que buscamos e construímos para nossas vidas...isso por si só, já é o resultado de uma obra perfeita, única, digna de nota e de muitos aplausos! Por que é nosso!!!
A vida, a cada dia é um novo começo... e essa frase, eu sei, não é original, já a vimos em muitos lugares, mas é belíssima! Não poderia deixar de colocá-la aqui, porque, além de bela, é verdadeira...
A vida, diferente das novelas, a cada dia, possibilita um novo roteiro, não precisamos fazer o mesmo que fizemos ontem! Somos livres! Podemos mudar nosso script a qualquer hora!!! Tudo pode ser feito de formas e jeitos diferentes...aquele abraço que ontem não demos...aquele sorriso que esquecemos...aquela bobagem que falamos...nada disso pode ser desfeito...entretanto, hoje podemos fazer diferente!
Acho que isso é o que  mais me emociona e me apaixona na psicologia...poder caminhar junto com as pessoas e mostrar que, a menos que o filme tenha chegado ao final, é sempre possível fazer diferente...e para isso, a gente pode começar olhando um pouco para as dores e vendo que, apesar de todas as tragédias, sempre encontraremos bons motivos para rir e brincar com nossas vidas, tornar mais leves nossos caminhos e quem sabe reeditar alguns capítulos de nossa história, tornando o drama mais à Monicelli...seja ele simples, ilegal, imoral, mas sempre  original...e como Monicelli, rir do cotidiano e se salvar com isso! É, o riso salva...