domingo, 18 de dezembro de 2011

Balanço de 2011 e desculpas ao Blog!!!

Querido Blog...

                Como é difícil comprometer-se! Comecei esse espaço cheia de entusiasmo, realizando um dos meus projetos, que era dividir com as pessoas aquilo que sinto, penso e estudo, pois esse é meu jeito de ser...não sei ter, sem compartilhar...entretanto, a vida nos preenche com tantas atribuições que nos parecem, em alguns momentos, mais “urgentes” e este espaço aqui ficou “abandonado”!
                Sempre que algum cliente ou outra pessoa me fala: “leio teu textos” ou “sigo teu blog”, logo penso: que vergonha! Não tenho postado nadaaaaa!
                Como os vínculos que estabelecemos nos comprometem, de alguma maneira, há dias tenho pensado sobre essa “nossa relação”...o que tenho feito para a manutenção dela...no Natal passado estava ocupando teu espaço com uma vivência intensa, dolorosa, que era a perda do Cacá...levei dias para escrever aquele texto...parecia alguma coisa inadequada, a minha dor não se esgotava e tudo o que colocava ali parecia insuficiente para expressar minha densa emoção...
                Nestes 365 dias vivi muitas coisas...conheci um mundo diferente, pessoas diversas e hoje fico pensando que talvez essas novas vivências  tenham me colocado um pouco distante de quem eu “era” antes, para me permitir um novo “vir a ser”, daí então a “pouca escrita” para, hoje percebo, poder ceder lugar a “vivências mais presentes”.
                Estou inquieta e alguma coisa me sinaliza que talvez escreva mais e melhor em 2012...não sei...isso não é uma promessa!
             Pensando sobre "como somos", percebi que fui  um ser essencialmente “cerebral”...bastante intelectualizada, falante e com pouca intimidade com meu ser como um todo. Privilegiava muito essa minha capacidade...embora tenha sido "visceral", tantas e tantas vezes... mas, neste ano que está terminando, tive a oportunidade no meu grupo de Formação em Psicodrama, de estar presente em todas as situações, protagonizar muitas vezes, sem medo de trabalhar os conflitos, como esperaria Moreno, eu acho! E suspeito, ter encontrado o equilíbrio entre essas duas forças que me habitam...por isso, Blog, estou te dizendo que, talvez escreva melhor em 2012...sou um ser humano mais inteiro, entendeste?! 
                Na terapia individual também sei que fui uma cliente ativa, corajosa e até tirana comigo mesma muitas vezes, sem conseguir perceber aspectos positivos que já havia conquistado, nessa longa caminhada na terapia bi-pessoal...tive a oportunidade de ver e rever importantes pontos da minha preciosa vida e reorganizar o que não estava legal...
                A viagem a Cuba foi outra experiência marcante, que me colocou em contato com uma realidade chocante e desconhecida...tive que derrubar inúmeros conceitos e preconceitos...e isso, sem dúvida, me fez ser uma pessoa melhor e diferente pra sempre de quem eu era antes...serei eternamente grata pela oportunidade de ter conhecido aquele povo tão sofrido, com capacidade tamanha de superação das suas dificuldades...entendi o verdadeiro significado da palavra superar-se e voltei envergonhada de mim, em diferentes aspectos...
                Conhecer a Biodanza foi  "A" revolução interna...fui apresentada a um universo igualmente incógnito...para alguém, cuja capacidade de fala e convencimento é uma das principais habilidades, experenciar num grupo, fora da minha cidade, com pessoas desconhecidas, porém fascinantes, uma prática de pura alegria, encontro com a nossa mais pura essência, onde a única forma de expressão que NÃO  é possível é justamente a fala, foi um desafio e tantoooo! Talvez, o maior e melhor deles...pois hoje percebo que essas vivências me oportunizaram entrar em contato com um parte que já existia em mim, mas que eu ignorava...
                 Essas experiências refletiram diretamente na vida pessoal e profissional...na qualidade do trabalho que ofereço...agradeço, diariamente  a oportunidade de compartilhar a caminhada com meus clientes e crescer junto a eles a cada sessão...ter o privilégio de ser "escolhida" e aceita para carregar a "lanterna" e iluminar seus caminhos, enquanto trilham a estrada de suas vidas...
                 Acredito que ter passado momentos complicados e percebido quem são os amigos que posso contar para estar perto, os que só querem estar próximos, quando "tem clima", os que vêm com chuva, vento ou tempestade, me deram uma dimensão também diferente e preciosa do meu átomo social...e isso, inquestionavelmente, fez com que eu encontrasse ainda mais meu "eixo".
                 Nossa relação então, meu querido Blog, não será essencialmente intelectual...nem visceral, como foi algumas vezes...buscaremos o caminho do meio, ok?
                Vivemos numa cultura que privilegia o intelecto e até desqualifica nosso ser como um todo...acho que fui assim...meio “pescoço pra cima” durante algum tempo...em outros momentos era pura emoção...isso foi em outro tempo...o tempo suficiente para que eu amadurecesse e pudesse então conhecer a pessoa que sou agora!
                Bem...o que pretendia era isso...um balanço do quanto pude me permitir ser uma pessoa que busca  ser melhor...sim...busca...porque é sempre uma busca...ainda bem! Imagina só, se algum dia tivermos a pretensão de nos sentirmos prontos?! Fica aqui  o compromisso, querido Blog, de estabelecermos maior contato...se não mais frequente, de melhor qualidade!
                FELIZ NATAL! E UM ANO NOVO, VIVIDO POR INTEIRO E NOVO!!!
               
               
                 

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

DEPRESSÃO EM CRIANÇAS... ELA EXISTE! A BUSCA DA SAÚDE...TAMBÉM!



            Pouco se fala sobre depressão em crianças. Talvez exista a errônea crença de que essa patologia atinge apenas a população adulta, ou porque os sintomas em crianças são menos evidentes, ou ainda, porque nossos “medos” e preconceitos nos impedem de, verdadeiramente, encarar o óbvio! Nossas crianças também se deprimem!
            Distinguir os sintomas pode ser mais difícil na infância, pois uma criança normalmente terá dificuldades para reconhecer, nomear e expressar seus sentimentos.
Crianças pré-escolares, quando deprimidas, podem apresentar, entre outros sintomas, falhas em adquirir peso esperado para a idade, fisionomia triste, irritação, redução do apetite, agitação psicomotora ou hiperatividade, insônia, acompanhada de ansiedade, estereotipias e agressividade contra si mesma ou com os outros.
            Essas crianças já manifestam claramente anedonia (incapacidade de sentir prazer), com perda de iniciativa para as brincadeiras e desinteresse em atividades e jogos que antes apreciavam. Sentem-se entediadas e, neste período, relatam que não sabem “do que brincar”. As queixas vagas de dor de cabeça, dor muscular e abdominal são freqüentes e constituem uma das características de manifestações de angústia e sofrimento emocional, nessa faixa etária.
            Em idade escolar, apresentam sintomas como irritabilidade, apatia e instabilidade emocional. Algumas crianças não demonstram reação aos estímulos, tanto positivos, quanto negativos e a abstenção ou desinteresse pelas atividades extracurriculares, isolamento social ou familiar voluntário, são sintomas que também podem estar presentes.
            Nesta fase do desenvolvimento, a lentidão de movimentos, as falas de desesperança e com voz monótona, podem fazer parte do quadro depressivo, entretanto a agitação psicomotora e hiperatividade, com precário controle de impulsos, são freqüentes, devido à intensa ansiedade que esse “estado” desperta.
            Crianças deprimidas comumente têm baixa auto-estima, falando de si mesmas em termos negativos: “sou ruim mesmo”, “sou idiota”, “ninguém se preocupa comigo” e pode haver um sentimento de culpa exagerado, manifestando que acredita que tudo está errado por sua existência e que deve ser punida.
            A perda de apetite ou o ganho de peso estão entre os sintomas do transtorno, assim como relatos de pesadelos e/ou insônias acompanhadas de ansiedade. O declínio no desempenho escolar pode ocorrer, pois há o aumento da distraibilidade e prejuízos na atenção, concentração e memorização.
            O atendimento a essa criança que está em significativo sofrimento deverá também abordar a família, nem sempre consciente da dor que ela experimenta. Percebe-se uma cultura do “é manha”, “não liga que passa”, enquanto a criança realmente sofre. Daí a necessidade da família ter conhecimento e ser sensibilizada sobre as causas e sintomas da depressão infantil.
            A abordagem ao paciente deverá ser no sentido de minimizar os efeitos desse desconforto e potencializar os recursos internos de que dispõe, para que retome a vida saudável que, anteriormente tinha. Para tal, é imprescindível que o terapeuta tenha profundo conhecimento do desenvolvimento infantil e empatia com o seu cliente, afinal se não “conectarmos” com o mundo de quem atendemos, não ocorrerá o encontro e não será possível, dessa forma, a busca da saúde...é simples "cumprimento de protocolo" e não entrega verdadeira àquilo a que nos propromos...
              O profissional que está com a vida de um "pequenino" nas mãos tem ainda maior responsabilidade pelo que está fazendo, porque  somos cuidadores de alguém que, com saúde já não pode se defender de um adulto...e agora temos para cuidar alguém que está frágil e confiado a nossa competência para resgatar sua capacidade de enfrentar o mundo que o cerca...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Adolescente e o TDAH ( Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade)

             A adolescência é a fase do desenvolvimento que implica em uma série de transformações físicas, emocionais e mentais. Estas transformações repercutem diretamente na relação que o jovem estabelece com os pais. Pode-se considerar que este é um momento de desafio para todos os envolvidos, já que o adolescente passa da dependência da infância, no qual desempenhava um papel (de criança) para a construção de um novo papel (de adolescente).
         Na trajetória pela busca da  independência, descobrem quem são e a que se propõem, solidificando valores e buscando consolidar sua identidade com base nas relações que estabelecem com o ambiente que os circundam.Aliadas a essas transformações, há o rápido crescimento físico e a maturação sexual, trazendo consigo crescente melancolia, maior sensibilidade a críticas e fragilidade da auto-estima. Essa construção de um “novo ser”, que assume novos comportamentos e enfrenta desafios comuns da adolescência será dramaticamente ampliada se o adolescente tiver TDAH.
          As significativas dificuldades no planejamento,estabelecimento de prioridades e organização para as tarefas, inconsistência no desempenho escolar, entre outras dificuldades, decorrentes do transtorno, poderão gerar um sentimento de menos-valia, levando o adolescente a construir um auto-conceito negativo, acreditando-se incapaz. Sabe-se que o TDAH é caracterizado pela presença de um desempenho inapropriado nos mecanismos que regulam a atenção, a flexibilidade e a atividade motora. O início é precoce, sua evolução tende a ser crônica, com repercussões significativas no funcionamento do indivíduo, em diferentes contextos de sua vida. Portanto, é fundamental que pais e professores estejam atentos aos sintomas e que o diagnóstico seja realizado corretamente, evitando sofrimentos desnecessários na construção da vida desse indivíduo.
             Esse adolescente, normalmente terá um "padrão" de desatenção ou agitação /hiperatividade, desde a infância que, poderá ou não ser percebido pelos familiares e escola como uma dificuldade que ele enfrenta. Em alguns casos, o que é dramático, esse indivíduo recebe um "rótulo" de preguiçoso, incapaz, entre tantos outros que ouvimos...maneiras que esses núcleos, nos quais está inserido, encontram de "olhar o problema", sem ter que séria e respeitosamente perceber  aquela pessoa e colocar-se no lugar dela e saber o que se passa, verdadeiramente em seu mundo interno...
               O diagnóstico é clínico e multiprofissional e pode ser confundido com inúmeros quadros,  por este motivo deve ser ampla e cuidadosamente investigado...é assustador o que temos percebido: a banalização destes quadros e a medicalização diria, compulsiva, irresponsável, de crianças e adolescentes, quando referem alguns sintomas do quadro e passam a ingerir o metilfenidato, como se fosse "água"...e isso não tivesse efeitos adversos!
              Os sintomas do TDAH  podem ser confirmados, caso outra condição clínica, tenha sido descartada, leia-se: processamento auditivo central, problemas oftalmológicos, giardíase e outras questões neurológicas, que vamos descartando, aliados aos colegas, profissionais da saúde...não sejamos simplistas, temos seres humanos e vidas nas mãos.
           Antes de agregar ao papel de adolescente, difícil de ser desempenhado e experenciado, essa "marquinha", pensemos na nossa responsabilidade, enquanto profissionais...temos feito o que nos propomos?!
               


domingo, 27 de março de 2011

FOBIA SOCIAL, EU TENHO?!

A ansiedade social é uma sensação difusa, desagradável, de apreensão, que antecede qualquer compromisso social. Experimentamos ansiedade social em algum grau quando nos defrontamos com situações sociais novas ou formais.

 Para diminuir ou controlar a ansiedade preparamo-nos para as situações de exposição (aulas, conferências, encontros amorosos, etc) na aparência, no comportamento e no treinamento, sendo assim considerada uma ansiedade normal. Entretanto, o medo excessivo de beber, comer, enrubescer, falar, enfim, agir de forma ridícula ou inadequada perante outras pessoas, é considerado uma ansiedade social anormal, também chamada de fobia social.

A fobia social pode se tornar uma condição incapacitante, fonte de considerável sofrimento para o indivíduo, causando sérios comprometimentos no seu desempenho global. Essas pessoas têm a expectativa de que, se expostas, serão avaliadas negativamente por outros.

 Há dois tipos de fobia social: a circunscrita, onde o medo é restrito a um tipo de situação social e a generalizada, que se caracteriza pelo temor de todas as situações sociais. Este medo é tão intenso que muitas vezes o indivíduo evita as situações em que acredita que o embaraço ou humilhação possam surgir. Então o paciente evita telefonar em público, expressar desacordo, trabalhar diante de outros, evitando todo o tipo de situações que envolvam contato social.

Para o diagnóstico é importante considerar a duração, freqüência e intensidade dos sintomas apresentados e verificar se o paciente se esquiva em grau extremo das situações sociais, o que pode levar ao isolamento social.

As situações mais temidas podem ser: falar em público, conhecer novas pessoas, comer em lugares em que outras pessoas estejam, reclamar de algo desagradável, ir a uma festa, assinar documentos diante de outras pessoas. Geralmente nessas situações os indivíduos experimentam sintomas somáticos, tais como:taquicardia, sudorese, tremor, dor de cabeça, rubor, dispnéia, náuseas e outros.

O portador desse tipo de transtorno pode estar vulnerável a outros tipos de transtornos psiquiátricos, tais como sugerem alguns estudos e parece ser igualmente comum em ambos os gêneros (masculino e feminino).

O paciente poderá se beneficiar da psicoterapia, podendo ser aliada a tratamento farmacológico, que irá minimizar significativamente a ansiedade e os prejuízos decorrentes desta, na vida do indivíduo.

quinta-feira, 10 de março de 2011

ALMA

ALMA...

Alma, deixa eu ver sua alma
A epiderme da alma, superfície
Alma, deixa eu tocar sua alma
Com a superfície da palma da minha mão, superfície
Easy, fique bem easy, fique sem... nem razão
Da superfície livre
Fique sim, livre
Fique bem com razão ou não, aterrize
Alma, isso do medo se acalma
Isso de sede se aplaca
Todo pesar não existe
Alma, como um reflexo na água
Sobre a última camada
Que fica na superfície, crise
Já acabou, livre
Já passou o meu temor do seu medo
Sem motivo riso, de manhã, riso de neném
A água já molhou a superfície
Alma, daqui do lado de fora
Nenhuma forma de trauma sobrevive
Abra a sua válvula agora
A sua cápsula, alma
Flutua na superfície lisa, que me alisa, seu suor
O sal que sai do sol, da superfície
Simples, devagar, simples, bem de leve
A alma já pousou na superfície


Música de Arnaldo Antunes e Pepeu Gomes
Que a doce Zélia Duncan canta...
Amo a música...que existe há tempos e é sempre atual...
E hoje, em especial ela está fazendo um sentido enorme...
Por isso está aqui!!!
ALMA!!!

IMPACTO DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ATUALIDADE

  
Nossa vida, nossas falas, comportamentos e até mesmo as doenças que contraímos, estão ligadas a determinado momento histórico que, quase sempre marca um período por características bastante peculiares.

            Atualmente, além de outras patologias, observamos que os transtornos alimentares ocupam espaço significativo nas clínicas médicas e psicológicas. Duas importantes síndromes, tais como anorexia e bulimia nervosa, comuns entre adolescentes e adultos jovens, principalmente do sexo feminino, merecem destaque.

            A anorexia nervosa compreende expressiva perda de peso, pela restrição alimentar para emagrecer, distorção da imagem corporal e amenorréia (ausência de menstruação).

            A bulimia possui como característica a ingestão rápida de grandes quantidades de alimentos, acompanhados da sensação de perda de controle, seguidas de “compensações” inadequadas para controlar o peso, a saber: vômitos auto-induzidos, uso de inibidores de apetite, diuréticos, laxantes, exercícios físicos exagerados, entre outros.

           A anorexia normalmente começa com uma dieta, visando atingir o peso ideal ou imagem corporal satisfatória. O indivíduo provoca bruscas mudanças no padrão alimentar e a eliminação dos alimentos muito calóricos.

            O transtorno agrava-se, com a diminuição do número de refeições até o jejum completo ou alimentação escassa, durante o dia. Como há a distorção da imagem corporal, o paciente esforça-se vigorosamente para manter o baixo peso ou eliminar o que acredita ainda estar acima da medida, em diferentes partes do corpo.

            Observa-se nas pacientes anoréxicas baixa auto-estima, exacerbado sentimento de rejeição pelo próprio corpo, além da prática alimentar altamente destrutiva. Como “pano de fundo” deste quadro quase sempre está presente a depressão.

            O tratamento médico e psicológico deve abordar o doente e sua família, pois na maioria dos casos que envolvem pacientes com transtornos alimentares, pela maneira que o transtorno se apresenta, as famílias demoram a perceber os sintomas e quando o percebem já estão todos gravemente doentes, emocionalmente! Por isso é vital que haja informação e terapia ao doente e seus familiares.

            Estima-se que 50% dos pacientes tenham recuperação completa do quadro, não havendo novos episódios da doença. Parece que 30% têm evolução média, apresentando melhoras e recaídas, podendo evoluir para bulimia nervosa. O restante pode ter um curso grave da patologia, com sérias complicações físicas e psicológicas.

          Dentre tantas outras desordens psiquiátricas a anorexia está entre os transtornos que mais levam a óbitos. É uma doença insidiosa, que começa muitas vezes com sintomas bastante sutis e o paciente pode desenvolver “estratégias” de manipulação, “driblando” a família para que os indícios de que está doente não sejam percebidos... muitas vezes estas “táticas” são tão eficazes que, quando a família se apercebe, já é tarde demais e a doença já se tornou fatal...

            As desordens que o paciente sofre são inúmeras, como alterações neurológicas, endócrinas e do sono. O principal objetivo na recuperação, é restaurar o peso corporal adequado ao paciente o que, em alguns casos, ameniza outras complicações, tais como perturbações biológicas e psicológicas.

            Entre as complicações psicológicas observamos um comportamento extremamente regressivo,muitas vezes numa tentativa inconsciente de ter o olhar, a conexão e o afeto que antes não tiveram ou não sentiram. É como se houvesse uma tentativa de voltar a ser criança, sendo que as meninas reduzem seus corpos a um corpo de infante, sem curvas e, através do corpo reto, disforme, pode-se perceber que há um “protesto”, uma recusa em tornar-se mulher, crescer e assumir inclusive a sexualidade, dentre outras faces da vida adolescente e/ou adulta.

            Sintomas obsessivos também são comuns nestes quadros, onde os rituais por limpeza, organização, horários, e outros escravizarão o doente e quem a ele rodear.


            O atendimento a este tipo de paciente deve ser transdisciplinar, com psiquiatras, psicólogos e nutricionistas e é necessário que esta equipe esteja “afinada”, pois é preciso que entendamos vários aspectos bastante sutis do quadro, como por exemplo, de que a recusa ao alimento pode não se restringir aquele alimento concreto que oferecemos ao paciente, mas se considerarmos a dimensão simbólica desta realidade, podemos entender que pode ser uma renuncia ao afeto que, naquele momento por algum motivo o indivíduo entende que não pode ou não merece receber.

            Este é somente um exemplo das inúmeras variáveis que atravessam este quadro, que podem ser de natureza biológica, psicológica, etc.

            Anna Patrícia Bogado, em seu livro Corpo, prazer, dor e luz (Diálogos do Ser, 2009) sugere com sua extrema sensibilidade e experiência no trabalho com mulheres que as pessoas que têm uma relação difícil com o próprio corpo e com a alimentação, precisam lidar com as relações que tiveram com suas mães, na conexão corporal-afetiva, que as crianças tanto precisam, para sua vinculação saudável e construção de sua autoimagem, ou ainda com o modelo de educação alimentar que assimilaram. Portanto, o trabalho com esses pacientes é tarefa árdua e requer extrema dedicação, tanto do profissional, quanto entrega dos familiares.

              Precisarão ser trabalhados com esse paciente não somente a nível verbal seus conflitos, mas também a nível corporal, pois o conflito, neste caso a anorexia, já extrapolou os limites do psiquismo e “invadiu” a esfera do corpo...

             Aliados a uma série de fatores que predispõem ao transtorno, precisamos considerar que há, entre outros, influências sócio-culturais, tais como o “bombardeio” da mídia e a cobrança da sociedade que, perversamente, estabelece um padrão de beleza inatingível e incompatível, com os alimentos que nos são oferecidos nas prateleiras!

            Nossas falas, como pais e cuidadores, podem ter importante influência na construção de algumas crenças acerca destes padrões também, por esse motivo é importante que cuidemos o que estamos dizendo aos nossos filhos, principalmente filhas, as quais desejamos ver tão perfeitamente esbeltas!

          Muitas vezes utilizamos expressões, como “você está gorda”, “você está acima do peso”, “olha essa barriga”, entre tantos outros, que se repetidos maciça e intensamente, poderão se tornar um “mandato”.  Então a criança ou adolescente passa incorporar isso ao seu psiquismo e torna-se obeso ou luta desesperadamente para que isso jamais ocorra e numa fantasia inconsciente de que, porventura possa perder o afeto de quem ama, caso esteja fora do "desejado", esse “temor” poderá ser o detonador para desenvolver uma doença que já estava latente...

         Numa idade em que buscamos intensamente ser aceitos pelo grupo, como na adolescência, a possibilidade de estarmos fora dos “padrões”, socialmente aceitos, pode levar a comportamentos auto-destrutivos e a um caminho sem volta. Como vemos...nossa responsabilidade, enquanto pais e sociedade é imensa!!!

            Está mais do que na hora, enquanto coletividade e família, de questionarmos afinal, quais valores embasarão nossa existência e de nossos filhos?! Equilíbrio e humanidade ou beleza e superficialidade?!


domingo, 27 de fevereiro de 2011

TRANSTORNO DE HUMOR BIPOLAR (THB)

O transtorno de humor bipolar (THB) é uma doença recorrente, grave e, por vezes, crônica que atinge aproximadamente 1,5% da população e caracteriza-se pela presença de episódios de mania e depressão. Afeta igualmente, homens e mulheres, em todo o mundo e, além da neurobiologia, fatores psicossociais influenciam o curso da doença.

            A depressão tem como principais sintomas, tristeza, falta de prazer, desânimo, alterações no apetite e no sono, além de apatia. Quase sempre há a diminuição da atenção e concentração, pensamentos negativos e catastróficos, assim como idéias de suicídio (estima-se que 15% dos pacientes com este transtorno cometam suicídio).

            A euforia, como o próprio nome sugere, traz energia exagerada, idéia de grandiosidade, aceleração e uma sensação de prazer intenso ou um estado altamente irritável e agressivo, que são sintomas característicos da "mania". Outras áreas, tais como sono, apetite, atividade motora e sexual são amplamente afetadas nestes estados alterados de humor.

            Geralmente o THB inicia entre 15 e 30 anos, podendo estes episódios durar semanas ou meses, causando sofrimento psíquico, prejuízos nas relações interpessoais, estigmas, perdas financeiras, internações psiquiátricas, comportamentos de risco, entre outros prejuízos na vida do indivíduo.

            Como em outras doenças psiquiátricas, quanto mais cedo a família e/ou o paciente identificar a doença, maiores e melhores serão as chances de viver com qualidade, evitando que as “oscilações” do humor,causem danos importantes no curso de sua história. Embora, atualmente os tratamentos psicológicos e psiquiátricos estejam amplamente difundidos, ainda há preconceito, por parte do paciente em procurar auxílio dos profissionais. Entretanto, é importante afirmar que, no THB é importantíssimo o uso dos estabilizadores do humor e a psicoterapia voltada para a identificação dos comportamentos disfuncionais, que causam prejuízos à vida do sujeito.

             Percebe-se  que um dado que  poderá prejudicar a correta identificação dos sintomas ou mesmo a busca por tratamento, entre outros fatores, pode ser a banalização desta grave doença...vemos e ouvimos as mais diferentes pessoas referirem-se a si próprias, muitas vezes, cheias de orgulhos, dizendo: "sou bipolar" ou então, diagnosticando um amigo, familiar, ou colega próximo,"ah, fulano é bipolar, não liga!"

             Não estamos brincando de médico e paciente, como fazíamos na infância! Não podemos, nem devemos jogar com a saúde mental, nem fantasiar que sabemos acerca do outro aquilo que ele próprio deve desejar investigar a respeito de si mesmo...um desconforto que nos atinge só é considerado doença, quando em intensidade, frequência e duração se torna tão incômodo a nós mesmos ou a quem nos cerca que o melhor e mais sábio dos caminhos é buscar ajuda de profissional capacitado, porque sozinhos não podemos mais lidar com aquela situação...

             Como sempre o que determina se somos mais ou menos saudáveis não é ser portador desta ou daquela patologia, mas o que fazemos com essa condição...quando temos consciência da situação em que nos encontramos, o rumo que a nossa vida toma está em nossas mãos!

             Podemos escolher assumir a condição de vítima da genética, por exemplo,e celebrar que "isso é de família, meus pais, avós, também eram doentes"...podemos assumir a "síndrome de Gabriela": eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim...Gabrielaaaa...ah seu Nacibi!!!

              A "síndrome de Gabriela" é uma brincadeira que fazemos relacionada com a rigidez de pensamento que, na verdade tem a ver com uma acomodação do sujeito numa zona de "conforto"...está muito ruim aqui, mas aqui é conhecido e buscar auxílio é uma esfera nova, desconhecida que o tirará de um estado que, embora seja extremamente desconfortável, lhe é familiar e em alguns casos, já o acompanha há anos...

           Bem...somos mesmo seres bastante complexos!!! Nos utilizamos de mecanismos diversos para permanecer nos estados conhecidos, por receio de perder aquilo que julgamos ser o equilíbrio...os exemplos acima são algumas ilustrações que vemos, não porque as pessoas não querem, deliberadamente se curar, mas porque desenvolvemos mecanismos que, em alguns momentos nos tornam menos capazes de buscar auxilio... entretanto, conscientes de nossa condição, sejamos mais sujeitos de nossa vida e busquemos nossa felicidade, mesmo que o preço seja algum esforço!!!

            As dificuldades para chegar a um tratamento não devem isentar o sujeito da possibilidade de se tratar...podemos escolher segurar firmemente nas rédeas que conduzem a vida que levamos e, mesmo com dor e sofrimento, buscar o alívio e a melhor condição para a vivermos mais donos de nossa história...e isso auxilia na recuperação da auto-estima, no resgate da espontaneidade, como ser humano, na confiança em si mesmo...

            Reconhecer-se doente, desejar sair do desconforto e buscar auxílio, torna o indivíduo responsável pelo seu processo, possibilita o seu bem-estar, além de ganhar apoio afetivo e social, daqueles com quem vive e convive.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A CRIANÇA QUE CONSTRUÍMOS HOJE SERÁ O ADULTO SAUDÁVEL DE AMANHÃ... OU NÃO?!

            Há muito se ouve falar da imensa responsabilidade que os pais possuem na educação e construção dos seus filhos, entretanto me questiono se sabemos de que responsabilidades estamos falando?

            Responsabilidade por prover recursos básicos, necessários ao desenvolvimento dos filhos: acesso à escola, saúde, vestuário, alimentação adequada, descanso, lazer, sem dúvida que sim! Respeitadas essas tarefas, certamente estaremos desempenhando, com êxito nosso papel! Porém...existem outras responsabilidades, tão sérias, quanto as que citamos que, se não cumpridas, poderão resultar em prejuízos importantes no desenvolvimento de nossos rebentos.

            As responsabilidades a que me refiro têm a ver com a possibilidade de criar um ambiente familiar saudável, manter um diálogo aberto com os filhos, buscar coerência entre nossas opiniões e ações (nem sempre muito fácil de colocar em prática!), prover segurança emocional, apoio nos momentos de conflitos intra ou interpessoais. Também fornecer orientação adequada e solidificar nos pequenos gestos, os valores que elencamos como base para nossas vidas, além, é claro, de mostrar (na prática) o que é respeito e ética.

            Quando pensamos pais, leia-se também “pais sociais”, os professores, diretores, governantes, do mesmo modo, responsáveis pela construção de nossos filhos!

            Temos obtido sucesso nessa tarefa? Estamos conscientes de que a criança desenvolverá e solidificará a conduta que assiste na atualidade, no seu futuro?

            Quando, aos berros, gritamos com nosso filho, para que ele pare de fazer barulho (brincando,jogando) estamos mostrando coerência ou passando a dupla mensagem de que, por algum motivo, seu barulho, não pode ser tolerado, mas nossos gritos, sim!?

            Ao percebemos que o caixa do supermercado se enganou no troco, e pensamos que isso “é responsabilidade dele, deveria ter sido mais atento”, ao não devolver o valor que excedeu, estamos mostrando aos nossos filhos que se pode “passar a perna” nos menos cuidadosos e que isso é correto?!

            O modelo que temos sido é um exemplo que nos orgulha e dignifica, ou nos enxovalha neste papel?

            Os  pais se veem perplexos porque os filhos são altamente manipuladores, não  mantêm seus compromissos, se mostram verdadeiramente desesperados com essa conduta "desviante" de seus adolescentes...entretanto, estes mesmos pais, muitas vezes, não pagam suas contas, não cumprem com suas palavras, não têm portanto, uma conduta coerente!!! Não estamos falando exatamente do mesmo tipo de comportamento?! Como posso esperar que o meu filho não manipule com exímio professor disponível 24 horas por dia?!

            É certo que não existem fórmulas prontas. Isso pode ser um “entrave”, mas não um impedimento para que aceitemos e encaremos com seriedade, nossa função de pais. Pode-se buscar orientação na leitura, com amigos que parecem conduzir bem estes papéis, profissionais capazes de realizar essa tarefa, familiares, etc.

            Porém, o primeiro e principal dever é o de questionarmos se quem somos e o caráter que temos possibilita que nossas crianças conheçam, concretamente, a consideração pelo outro, o respeito pelo espaço deste, pelas idéias que divergem? Ou ensinamos que devemos “atacar” quem não comunga de nossos ideais?

            Nossas atitudes mostram, verdadeiramente, que ética é algo que se pratica na interação com o outro? Sabemos que relacionar-se e conquistar respeito, por quem somos parte desse princípio? Ou não?!

            Tarefa, inquestionavelmente, difícil, mas possível... Bastante possível. Diria que o começo somos nós, o exemplo, a maneira com que estamos conduzindo nosso maior presente, que é a vida!

            E se quisermos verificar se estamos sendo exitosos nessa função, basta olhar, atentamente, às atitudes daqueles que criamos... Não serão semelhantes as de pessoas com as quais não convivem, são semelhantes as nossas!!! Lidemos agora com isso, de maneira orgulhosa, ou não, a escolha é nossa!