sexta-feira, 11 de maio de 2012

Caminho do meio...

Qual é o caminho do meio?! Esse desejável equilíbrio entre o “não se deixar abusar” pelo outro, como forma de não perder o afeto e também não pretender ser alguém auto-suficiente a ponto de desejar viver sozinho que não precise de ninguém...

O que fazer se, quando crianças, nossos registros nos mostraram que não fomos interessantes o suficiente para ter um extenso grupo de ami
gos e ser aceito por eles, como gostaríamos? Se não “tivemos permissão para ser criança e sofremos críticas severas, quando estávamos descobrindo o mundo...” Se viajamos bastante, pela profissão dos pais e não conseguimos construir vínculos significativos? Se nossos pais não confirmaram nossa “importância” como seres em construção, nas mais singelas atitudes? E a partir daí construímos então diferentes estratégias de sobrevivência, tais como, “faço qualquer coisa pelos outros, desde que eu não perca o afeto deles” ou “ não me vinculo a ninguém, pois os vínculos só me trazem dor e sofrimento, então me congelo”, ou “ o mundo é frio e perigoso, então preciso agredir para me defender...”, “ preciso ser perfeito, pois se errar, corro o risco de deixar de ser amado”, entre outras inúmeras construções que o psiquismo irá estabelecer, para defender-se daquilo que irá lhe trazer desorganização e dor.

Durante algum período estas estratégias poderão ser bastante eficazes, até vitais porque a criança, no momento em que se descobre desprotegida e lança mão de algum recurso para “salvar-se” está sendo espontânea, adequada, entretanto, se permanecermos, na idade adulta utilizando os mesmos recursos para as mais diferentes situações, vamos entrar em sofrimento, este é um sinal importante: estamos doentes!!! É! Repetição é doença! Crescemos, temos um psiquismo que deveria reagir de acordo com sua mente adulta, no entanto, responde como criança, emitindo a mesma resposta às mais diferentes situações...podemos chamar essa atitude de embotamento da espontaneidade.

O que é embotamento da espontaneidade? É quando uma pessoa começa a ter respostas reguladas, fixas, para as mais variadas circunstâncias... quando está impedido de dar respostas criativas, originais, tornando-se simples engrenagem de um sistema, agindo de forma estereotipada, e restringindo assim sua possibilidade de participar plenamente do destino histórico de uma sociedade! Está impedido, porque não consegue fazer de forma distinta, só vê esse jeito de ser, de estar no mundo.

Exemplo? Eu não quero que minha amiga me visite neste final de semana porque organizei coisas para fazer em casa, porém, nos meus registros de infância tenho vivências de abandono afetivo e rejeição e não consigo dizer a ela que podemos combinar uma hora para o chimarrão, pois tenho muitos afazeres...e permito que ela permaneça na minha casa uma boa parte do dia, sem conseguir dizer-lhe que estou incomodada com isso. Não consegui fazer o meu trabalho, nem reagir contra algo que, internamente me aflige, pois temo perder o afeto dos outros! Quem é que está “conversando” comigo, internamente? Uma criança desamparada que reside aqui dentro...e que embota minha capacidade de agir adequadamente...

E o que é agir adequadamente? O que é espontaneidade? Para Moreno, para o Psicodrama é a capacidade de dar respostas originais, criativas as novas situações ou então as situações antigas, é ter flexibilidade, movimento! Isso devolve ao sujeito a liberdade de ter as rédeas da sua vida em suas próprias mãos! E não sentir-se refém do outro! Como fala nossa Camila Gonçalves no seu precioso livro, para ter prazer em nos sentirmos vivos é preciso que nos reconheçamos como agentes do nosso próprio destino. O mais encantador, neste conceito de espontaneidade é que o homem, sendo um ser em relação, buscará estar presente as relações afetivas e sociais, procurando modificar seus aspectos insatisfatórios. Encontrará vínculos saudáveis que lhe confirmem positivamente!

É claro que, no exemplo da amiga há outra consideração que precisamos fazer...sendo o homem este ser relacional, cujas “patologias” vinculares resultaram dessas primeiros conexões, conforme modelos que citamos, esta amiga só pôde estar lá, “acampada” o dia todo, sem perceber o desconforto da outra, porque existe um vinculação que se “encaixa” perfeitamente! Se eu me deixo abusar, vou buscar vínculos com pessoas que são abusadoras! O contrário também ocorre...se acredito que o mundo é tirano e se sou alguém que agride sempre, buscarei vínculos com pessoas que se submetem as minhas críticas severas e crêem que estou certo nas teorias que construo acerca dos fatos...na maioria das vezes tentarei procurar relações que confirmem minha identidade...isso constitui o que chamamos de papel e contra-papel, num nível patológico!

A boa notícia?! É que nascemos espontâneos e este estado, o de espontaneidade reside dentro de nós! E pode ser resgatado e vivenciado! Ple-na-men-te! Pois o homem é um ser saudável, potente, seu próprio deus, como dizia Moreno...

Desde o início o homem traz consigo a espontaneidade, a criatividade e a sensibilidade, fatores favoráveis ao seu desenvolvimento. Esses recursos que foram perturbados por ambientes ou sistemas sociais constrangedores poderão ser recuperados através da renovação de relações afetivas significativas e da ação transformadora sobre o meio.

O treino desta espontaneidade pode começar através de uma relação respeitosa com o terapeuta e estender-se aos demais vínculos, até que o sujeito sinta-se suficiente capaz de lidar com suas questões e tornar-se novamente agente do seu destino e protagonista de sua história e a partir de então começar a escrever novas páginas no livro da vida...

Nenhum comentário:

Postar um comentário