sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Nossos sintomas e nós...

Há algum tempo conhecemos a relação mente/corpo, porém atualmente é inegável que determinadas doenças e/ou sintomas sejam 'produzidos' pelo nosso corpo como forma de 'proteção' ou sinal de que algo não está indo bem no percurso de nossa vida...

Percebe-se, cada vez mais que, quando o psiquismo não dá conta de determinada questão ela 'migra' para o corpo, quase como um pedido desesperado de socorro dizendo: por favor, vamos olhar para isto e buscar uma solução juntos, para minimizar nosso sofrimento?!

Se negligenciamos estes sinais, evitamos tratar, os sinais migram e emitem novas mensagens...

Temos percebido na prática clínica casos de crianças, por exemplo em que a alta exigência dos pais e a afetividade 'atrapalhada' estavam presentes no cotidiano daquela família...a criança então apresentava sintomas quase psicóticos e dermatites severas, entretanto com meses de atendimento e mudança na conduta dos pais, as dermatites somem e os sintomas desaparecem...o que ocorreu? Como o problema de pele pode ter melhorado sem a intervenção de um dermatologista?

Sem jamais desqualificar a parte clínica, aliás, sempre e em primeiro lugar, buscando-se descartar estes sintomas...verifica-se que se não houver nenhuma implicação de caráter orgânico, genético, etc...precisamos buscar o porquê de estarmos produzindo alguns sintomas...

Neste ano que está findando foram inúmeros casos que sintomas físicos chegaram a clínica, sem que nada tivessem a ver com a parte física...clientes que tiveram uma verdadeira peregrinação pelos médicos e estes, após minuciosa investigação encaminharam ao atendimento psicológico, pois verificaram que nada mais havia a fazer...

Então me pergunto se, além destes clientes saudáveis que buscaram atendimento e que estão bem porque se conheceram e entenderam a função daqueles sintomas em suas vidas, quantos mais estarão por aí, tomando remédios e negando seus sintomas, para não ter que entrar em contato com suas realidades?

A culpa, a raiva e outros sentimentos não identificadas podem dar ao sujeito uma visão equivocada dos processos que está vivenciando em sua vida...Se fiz algo que não consigo me perdoar posso produzir um sintoma em mim mesmo, a fim de que possa ser de certa forma 'castigado' por isso, sem perceber que estou realizando este processo!

Se sofri uma grande desilusão amorosa, posso deixar com que meu corpo fique gordo, sem forma, a fim de não atrair mais ninguém, evitando os relacionamentos amorosos, como forma de me proteger de uma nova decepção, da mesma forma que se entendo que fiz alguém sofrer, posso produzir um sintoma em mim mesmo, no meu rosto, a ponto de ficar repulsivo, que ninguém me olhe, assim também evito os vínculos, as aproximações e recebo a punição que mereço pelo mal que causei a mulher que deveria ter feito feliz...

São processos a nível inconsciente que se trazidos a consciência por meio da terapia fazem todo o sentido...já trabalhei com clientes que pensavam ter gravíssimo problema no coração, pela imensa carga que carregavam...a partir do momento em que conscientizaram que tudo o que traziam consigo não era seu e conseguiram delegar funções e devolver aos outros a 'carga' que lhes pertencia, os sintomas desapareceram...

Por que algumas pessoas que não conseguem 'dobrar-se' a determinadas coisas, desenvolvem patologias nas articulações dos joelhos?! Por que 'este' sintoma e não 'aquele'? por que 'nesta' época de sua vida e não em outro momento...

Cada vez mais penso e sinto dessa maneira...somos um sistema integrado que funciona de maneira ecológica com tudo o que está a nossa volta...não desvalorizemos nossas emoções, sentimentos, pensamentos...eles tem capacidade imensa de fazer com que sejamos seres mais ou menos felizes e inteiros no mundo em que vivemos...depende da maneira como olhamos e valorizamos a presença desses elementos em nossa existência!!!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Caminho do meio...

Qual é o caminho do meio?! Esse desejável equilíbrio entre o “não se deixar abusar” pelo outro, como forma de não perder o afeto e também não pretender ser alguém auto-suficiente a ponto de desejar viver sozinho que não precise de ninguém...

O que fazer se, quando crianças, nossos registros nos mostraram que não fomos interessantes o suficiente para ter um extenso grupo de ami
gos e ser aceito por eles, como gostaríamos? Se não “tivemos permissão para ser criança e sofremos críticas severas, quando estávamos descobrindo o mundo...” Se viajamos bastante, pela profissão dos pais e não conseguimos construir vínculos significativos? Se nossos pais não confirmaram nossa “importância” como seres em construção, nas mais singelas atitudes? E a partir daí construímos então diferentes estratégias de sobrevivência, tais como, “faço qualquer coisa pelos outros, desde que eu não perca o afeto deles” ou “ não me vinculo a ninguém, pois os vínculos só me trazem dor e sofrimento, então me congelo”, ou “ o mundo é frio e perigoso, então preciso agredir para me defender...”, “ preciso ser perfeito, pois se errar, corro o risco de deixar de ser amado”, entre outras inúmeras construções que o psiquismo irá estabelecer, para defender-se daquilo que irá lhe trazer desorganização e dor.

Durante algum período estas estratégias poderão ser bastante eficazes, até vitais porque a criança, no momento em que se descobre desprotegida e lança mão de algum recurso para “salvar-se” está sendo espontânea, adequada, entretanto, se permanecermos, na idade adulta utilizando os mesmos recursos para as mais diferentes situações, vamos entrar em sofrimento, este é um sinal importante: estamos doentes!!! É! Repetição é doença! Crescemos, temos um psiquismo que deveria reagir de acordo com sua mente adulta, no entanto, responde como criança, emitindo a mesma resposta às mais diferentes situações...podemos chamar essa atitude de embotamento da espontaneidade.

O que é embotamento da espontaneidade? É quando uma pessoa começa a ter respostas reguladas, fixas, para as mais variadas circunstâncias... quando está impedido de dar respostas criativas, originais, tornando-se simples engrenagem de um sistema, agindo de forma estereotipada, e restringindo assim sua possibilidade de participar plenamente do destino histórico de uma sociedade! Está impedido, porque não consegue fazer de forma distinta, só vê esse jeito de ser, de estar no mundo.

Exemplo? Eu não quero que minha amiga me visite neste final de semana porque organizei coisas para fazer em casa, porém, nos meus registros de infância tenho vivências de abandono afetivo e rejeição e não consigo dizer a ela que podemos combinar uma hora para o chimarrão, pois tenho muitos afazeres...e permito que ela permaneça na minha casa uma boa parte do dia, sem conseguir dizer-lhe que estou incomodada com isso. Não consegui fazer o meu trabalho, nem reagir contra algo que, internamente me aflige, pois temo perder o afeto dos outros! Quem é que está “conversando” comigo, internamente? Uma criança desamparada que reside aqui dentro...e que embota minha capacidade de agir adequadamente...

E o que é agir adequadamente? O que é espontaneidade? Para Moreno, para o Psicodrama é a capacidade de dar respostas originais, criativas as novas situações ou então as situações antigas, é ter flexibilidade, movimento! Isso devolve ao sujeito a liberdade de ter as rédeas da sua vida em suas próprias mãos! E não sentir-se refém do outro! Como fala nossa Camila Gonçalves no seu precioso livro, para ter prazer em nos sentirmos vivos é preciso que nos reconheçamos como agentes do nosso próprio destino. O mais encantador, neste conceito de espontaneidade é que o homem, sendo um ser em relação, buscará estar presente as relações afetivas e sociais, procurando modificar seus aspectos insatisfatórios. Encontrará vínculos saudáveis que lhe confirmem positivamente!

É claro que, no exemplo da amiga há outra consideração que precisamos fazer...sendo o homem este ser relacional, cujas “patologias” vinculares resultaram dessas primeiros conexões, conforme modelos que citamos, esta amiga só pôde estar lá, “acampada” o dia todo, sem perceber o desconforto da outra, porque existe um vinculação que se “encaixa” perfeitamente! Se eu me deixo abusar, vou buscar vínculos com pessoas que são abusadoras! O contrário também ocorre...se acredito que o mundo é tirano e se sou alguém que agride sempre, buscarei vínculos com pessoas que se submetem as minhas críticas severas e crêem que estou certo nas teorias que construo acerca dos fatos...na maioria das vezes tentarei procurar relações que confirmem minha identidade...isso constitui o que chamamos de papel e contra-papel, num nível patológico!

A boa notícia?! É que nascemos espontâneos e este estado, o de espontaneidade reside dentro de nós! E pode ser resgatado e vivenciado! Ple-na-men-te! Pois o homem é um ser saudável, potente, seu próprio deus, como dizia Moreno...

Desde o início o homem traz consigo a espontaneidade, a criatividade e a sensibilidade, fatores favoráveis ao seu desenvolvimento. Esses recursos que foram perturbados por ambientes ou sistemas sociais constrangedores poderão ser recuperados através da renovação de relações afetivas significativas e da ação transformadora sobre o meio.

O treino desta espontaneidade pode começar através de uma relação respeitosa com o terapeuta e estender-se aos demais vínculos, até que o sujeito sinta-se suficiente capaz de lidar com suas questões e tornar-se novamente agente do seu destino e protagonista de sua história e a partir de então começar a escrever novas páginas no livro da vida...

domingo, 18 de dezembro de 2011

Balanço de 2011 e desculpas ao Blog!!!

Querido Blog...

                Como é difícil comprometer-se! Comecei esse espaço cheia de entusiasmo, realizando um dos meus projetos, que era dividir com as pessoas aquilo que sinto, penso e estudo, pois esse é meu jeito de ser...não sei ter, sem compartilhar...entretanto, a vida nos preenche com tantas atribuições que nos parecem, em alguns momentos, mais “urgentes” e este espaço aqui ficou “abandonado”!
                Sempre que algum cliente ou outra pessoa me fala: “leio teu textos” ou “sigo teu blog”, logo penso: que vergonha! Não tenho postado nadaaaaa!
                Como os vínculos que estabelecemos nos comprometem, de alguma maneira, há dias tenho pensado sobre essa “nossa relação”...o que tenho feito para a manutenção dela...no Natal passado estava ocupando teu espaço com uma vivência intensa, dolorosa, que era a perda do Cacá...levei dias para escrever aquele texto...parecia alguma coisa inadequada, a minha dor não se esgotava e tudo o que colocava ali parecia insuficiente para expressar minha densa emoção...
                Nestes 365 dias vivi muitas coisas...conheci um mundo diferente, pessoas diversas e hoje fico pensando que talvez essas novas vivências  tenham me colocado um pouco distante de quem eu “era” antes, para me permitir um novo “vir a ser”, daí então a “pouca escrita” para, hoje percebo, poder ceder lugar a “vivências mais presentes”.
                Estou inquieta e alguma coisa me sinaliza que talvez escreva mais e melhor em 2012...não sei...isso não é uma promessa!
             Pensando sobre "como somos", percebi que fui  um ser essencialmente “cerebral”...bastante intelectualizada, falante e com pouca intimidade com meu ser como um todo. Privilegiava muito essa minha capacidade...embora tenha sido "visceral", tantas e tantas vezes... mas, neste ano que está terminando, tive a oportunidade no meu grupo de Formação em Psicodrama, de estar presente em todas as situações, protagonizar muitas vezes, sem medo de trabalhar os conflitos, como esperaria Moreno, eu acho! E suspeito, ter encontrado o equilíbrio entre essas duas forças que me habitam...por isso, Blog, estou te dizendo que, talvez escreva melhor em 2012...sou um ser humano mais inteiro, entendeste?! 
                Na terapia individual também sei que fui uma cliente ativa, corajosa e até tirana comigo mesma muitas vezes, sem conseguir perceber aspectos positivos que já havia conquistado, nessa longa caminhada na terapia bi-pessoal...tive a oportunidade de ver e rever importantes pontos da minha preciosa vida e reorganizar o que não estava legal...
                A viagem a Cuba foi outra experiência marcante, que me colocou em contato com uma realidade chocante e desconhecida...tive que derrubar inúmeros conceitos e preconceitos...e isso, sem dúvida, me fez ser uma pessoa melhor e diferente pra sempre de quem eu era antes...serei eternamente grata pela oportunidade de ter conhecido aquele povo tão sofrido, com capacidade tamanha de superação das suas dificuldades...entendi o verdadeiro significado da palavra superar-se e voltei envergonhada de mim, em diferentes aspectos...
                Conhecer a Biodanza foi  "A" revolução interna...fui apresentada a um universo igualmente incógnito...para alguém, cuja capacidade de fala e convencimento é uma das principais habilidades, experenciar num grupo, fora da minha cidade, com pessoas desconhecidas, porém fascinantes, uma prática de pura alegria, encontro com a nossa mais pura essência, onde a única forma de expressão que NÃO  é possível é justamente a fala, foi um desafio e tantoooo! Talvez, o maior e melhor deles...pois hoje percebo que essas vivências me oportunizaram entrar em contato com um parte que já existia em mim, mas que eu ignorava...
                 Essas experiências refletiram diretamente na vida pessoal e profissional...na qualidade do trabalho que ofereço...agradeço, diariamente  a oportunidade de compartilhar a caminhada com meus clientes e crescer junto a eles a cada sessão...ter o privilégio de ser "escolhida" e aceita para carregar a "lanterna" e iluminar seus caminhos, enquanto trilham a estrada de suas vidas...
                 Acredito que ter passado momentos complicados e percebido quem são os amigos que posso contar para estar perto, os que só querem estar próximos, quando "tem clima", os que vêm com chuva, vento ou tempestade, me deram uma dimensão também diferente e preciosa do meu átomo social...e isso, inquestionavelmente, fez com que eu encontrasse ainda mais meu "eixo".
                 Nossa relação então, meu querido Blog, não será essencialmente intelectual...nem visceral, como foi algumas vezes...buscaremos o caminho do meio, ok?
                Vivemos numa cultura que privilegia o intelecto e até desqualifica nosso ser como um todo...acho que fui assim...meio “pescoço pra cima” durante algum tempo...em outros momentos era pura emoção...isso foi em outro tempo...o tempo suficiente para que eu amadurecesse e pudesse então conhecer a pessoa que sou agora!
                Bem...o que pretendia era isso...um balanço do quanto pude me permitir ser uma pessoa que busca  ser melhor...sim...busca...porque é sempre uma busca...ainda bem! Imagina só, se algum dia tivermos a pretensão de nos sentirmos prontos?! Fica aqui  o compromisso, querido Blog, de estabelecermos maior contato...se não mais frequente, de melhor qualidade!
                FELIZ NATAL! E UM ANO NOVO, VIVIDO POR INTEIRO E NOVO!!!
               
               
                 

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

DEPRESSÃO EM CRIANÇAS... ELA EXISTE! A BUSCA DA SAÚDE...TAMBÉM!



            Pouco se fala sobre depressão em crianças. Talvez exista a errônea crença de que essa patologia atinge apenas a população adulta, ou porque os sintomas em crianças são menos evidentes, ou ainda, porque nossos “medos” e preconceitos nos impedem de, verdadeiramente, encarar o óbvio! Nossas crianças também se deprimem!
            Distinguir os sintomas pode ser mais difícil na infância, pois uma criança normalmente terá dificuldades para reconhecer, nomear e expressar seus sentimentos.
Crianças pré-escolares, quando deprimidas, podem apresentar, entre outros sintomas, falhas em adquirir peso esperado para a idade, fisionomia triste, irritação, redução do apetite, agitação psicomotora ou hiperatividade, insônia, acompanhada de ansiedade, estereotipias e agressividade contra si mesma ou com os outros.
            Essas crianças já manifestam claramente anedonia (incapacidade de sentir prazer), com perda de iniciativa para as brincadeiras e desinteresse em atividades e jogos que antes apreciavam. Sentem-se entediadas e, neste período, relatam que não sabem “do que brincar”. As queixas vagas de dor de cabeça, dor muscular e abdominal são freqüentes e constituem uma das características de manifestações de angústia e sofrimento emocional, nessa faixa etária.
            Em idade escolar, apresentam sintomas como irritabilidade, apatia e instabilidade emocional. Algumas crianças não demonstram reação aos estímulos, tanto positivos, quanto negativos e a abstenção ou desinteresse pelas atividades extracurriculares, isolamento social ou familiar voluntário, são sintomas que também podem estar presentes.
            Nesta fase do desenvolvimento, a lentidão de movimentos, as falas de desesperança e com voz monótona, podem fazer parte do quadro depressivo, entretanto a agitação psicomotora e hiperatividade, com precário controle de impulsos, são freqüentes, devido à intensa ansiedade que esse “estado” desperta.
            Crianças deprimidas comumente têm baixa auto-estima, falando de si mesmas em termos negativos: “sou ruim mesmo”, “sou idiota”, “ninguém se preocupa comigo” e pode haver um sentimento de culpa exagerado, manifestando que acredita que tudo está errado por sua existência e que deve ser punida.
            A perda de apetite ou o ganho de peso estão entre os sintomas do transtorno, assim como relatos de pesadelos e/ou insônias acompanhadas de ansiedade. O declínio no desempenho escolar pode ocorrer, pois há o aumento da distraibilidade e prejuízos na atenção, concentração e memorização.
            O atendimento a essa criança que está em significativo sofrimento deverá também abordar a família, nem sempre consciente da dor que ela experimenta. Percebe-se uma cultura do “é manha”, “não liga que passa”, enquanto a criança realmente sofre. Daí a necessidade da família ter conhecimento e ser sensibilizada sobre as causas e sintomas da depressão infantil.
            A abordagem ao paciente deverá ser no sentido de minimizar os efeitos desse desconforto e potencializar os recursos internos de que dispõe, para que retome a vida saudável que, anteriormente tinha. Para tal, é imprescindível que o terapeuta tenha profundo conhecimento do desenvolvimento infantil e empatia com o seu cliente, afinal se não “conectarmos” com o mundo de quem atendemos, não ocorrerá o encontro e não será possível, dessa forma, a busca da saúde...é simples "cumprimento de protocolo" e não entrega verdadeira àquilo a que nos propromos...
              O profissional que está com a vida de um "pequenino" nas mãos tem ainda maior responsabilidade pelo que está fazendo, porque  somos cuidadores de alguém que, com saúde já não pode se defender de um adulto...e agora temos para cuidar alguém que está frágil e confiado a nossa competência para resgatar sua capacidade de enfrentar o mundo que o cerca...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Adolescente e o TDAH ( Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade)

             A adolescência é a fase do desenvolvimento que implica em uma série de transformações físicas, emocionais e mentais. Estas transformações repercutem diretamente na relação que o jovem estabelece com os pais. Pode-se considerar que este é um momento de desafio para todos os envolvidos, já que o adolescente passa da dependência da infância, no qual desempenhava um papel (de criança) para a construção de um novo papel (de adolescente).
         Na trajetória pela busca da  independência, descobrem quem são e a que se propõem, solidificando valores e buscando consolidar sua identidade com base nas relações que estabelecem com o ambiente que os circundam.Aliadas a essas transformações, há o rápido crescimento físico e a maturação sexual, trazendo consigo crescente melancolia, maior sensibilidade a críticas e fragilidade da auto-estima. Essa construção de um “novo ser”, que assume novos comportamentos e enfrenta desafios comuns da adolescência será dramaticamente ampliada se o adolescente tiver TDAH.
          As significativas dificuldades no planejamento,estabelecimento de prioridades e organização para as tarefas, inconsistência no desempenho escolar, entre outras dificuldades, decorrentes do transtorno, poderão gerar um sentimento de menos-valia, levando o adolescente a construir um auto-conceito negativo, acreditando-se incapaz. Sabe-se que o TDAH é caracterizado pela presença de um desempenho inapropriado nos mecanismos que regulam a atenção, a flexibilidade e a atividade motora. O início é precoce, sua evolução tende a ser crônica, com repercussões significativas no funcionamento do indivíduo, em diferentes contextos de sua vida. Portanto, é fundamental que pais e professores estejam atentos aos sintomas e que o diagnóstico seja realizado corretamente, evitando sofrimentos desnecessários na construção da vida desse indivíduo.
             Esse adolescente, normalmente terá um "padrão" de desatenção ou agitação /hiperatividade, desde a infância que, poderá ou não ser percebido pelos familiares e escola como uma dificuldade que ele enfrenta. Em alguns casos, o que é dramático, esse indivíduo recebe um "rótulo" de preguiçoso, incapaz, entre tantos outros que ouvimos...maneiras que esses núcleos, nos quais está inserido, encontram de "olhar o problema", sem ter que séria e respeitosamente perceber  aquela pessoa e colocar-se no lugar dela e saber o que se passa, verdadeiramente em seu mundo interno...
               O diagnóstico é clínico e multiprofissional e pode ser confundido com inúmeros quadros,  por este motivo deve ser ampla e cuidadosamente investigado...é assustador o que temos percebido: a banalização destes quadros e a medicalização diria, compulsiva, irresponsável, de crianças e adolescentes, quando referem alguns sintomas do quadro e passam a ingerir o metilfenidato, como se fosse "água"...e isso não tivesse efeitos adversos!
              Os sintomas do TDAH  podem ser confirmados, caso outra condição clínica, tenha sido descartada, leia-se: processamento auditivo central, problemas oftalmológicos, giardíase e outras questões neurológicas, que vamos descartando, aliados aos colegas, profissionais da saúde...não sejamos simplistas, temos seres humanos e vidas nas mãos.
           Antes de agregar ao papel de adolescente, difícil de ser desempenhado e experenciado, essa "marquinha", pensemos na nossa responsabilidade, enquanto profissionais...temos feito o que nos propomos?!
               


domingo, 27 de março de 2011

FOBIA SOCIAL, EU TENHO?!

A ansiedade social é uma sensação difusa, desagradável, de apreensão, que antecede qualquer compromisso social. Experimentamos ansiedade social em algum grau quando nos defrontamos com situações sociais novas ou formais.

 Para diminuir ou controlar a ansiedade preparamo-nos para as situações de exposição (aulas, conferências, encontros amorosos, etc) na aparência, no comportamento e no treinamento, sendo assim considerada uma ansiedade normal. Entretanto, o medo excessivo de beber, comer, enrubescer, falar, enfim, agir de forma ridícula ou inadequada perante outras pessoas, é considerado uma ansiedade social anormal, também chamada de fobia social.

A fobia social pode se tornar uma condição incapacitante, fonte de considerável sofrimento para o indivíduo, causando sérios comprometimentos no seu desempenho global. Essas pessoas têm a expectativa de que, se expostas, serão avaliadas negativamente por outros.

 Há dois tipos de fobia social: a circunscrita, onde o medo é restrito a um tipo de situação social e a generalizada, que se caracteriza pelo temor de todas as situações sociais. Este medo é tão intenso que muitas vezes o indivíduo evita as situações em que acredita que o embaraço ou humilhação possam surgir. Então o paciente evita telefonar em público, expressar desacordo, trabalhar diante de outros, evitando todo o tipo de situações que envolvam contato social.

Para o diagnóstico é importante considerar a duração, freqüência e intensidade dos sintomas apresentados e verificar se o paciente se esquiva em grau extremo das situações sociais, o que pode levar ao isolamento social.

As situações mais temidas podem ser: falar em público, conhecer novas pessoas, comer em lugares em que outras pessoas estejam, reclamar de algo desagradável, ir a uma festa, assinar documentos diante de outras pessoas. Geralmente nessas situações os indivíduos experimentam sintomas somáticos, tais como:taquicardia, sudorese, tremor, dor de cabeça, rubor, dispnéia, náuseas e outros.

O portador desse tipo de transtorno pode estar vulnerável a outros tipos de transtornos psiquiátricos, tais como sugerem alguns estudos e parece ser igualmente comum em ambos os gêneros (masculino e feminino).

O paciente poderá se beneficiar da psicoterapia, podendo ser aliada a tratamento farmacológico, que irá minimizar significativamente a ansiedade e os prejuízos decorrentes desta, na vida do indivíduo.

quinta-feira, 10 de março de 2011

ALMA

ALMA...

Alma, deixa eu ver sua alma
A epiderme da alma, superfície
Alma, deixa eu tocar sua alma
Com a superfície da palma da minha mão, superfície
Easy, fique bem easy, fique sem... nem razão
Da superfície livre
Fique sim, livre
Fique bem com razão ou não, aterrize
Alma, isso do medo se acalma
Isso de sede se aplaca
Todo pesar não existe
Alma, como um reflexo na água
Sobre a última camada
Que fica na superfície, crise
Já acabou, livre
Já passou o meu temor do seu medo
Sem motivo riso, de manhã, riso de neném
A água já molhou a superfície
Alma, daqui do lado de fora
Nenhuma forma de trauma sobrevive
Abra a sua válvula agora
A sua cápsula, alma
Flutua na superfície lisa, que me alisa, seu suor
O sal que sai do sol, da superfície
Simples, devagar, simples, bem de leve
A alma já pousou na superfície


Música de Arnaldo Antunes e Pepeu Gomes
Que a doce Zélia Duncan canta...
Amo a música...que existe há tempos e é sempre atual...
E hoje, em especial ela está fazendo um sentido enorme...
Por isso está aqui!!!
ALMA!!!

IMPACTO DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ATUALIDADE

  
Nossa vida, nossas falas, comportamentos e até mesmo as doenças que contraímos, estão ligadas a determinado momento histórico que, quase sempre marca um período por características bastante peculiares.

            Atualmente, além de outras patologias, observamos que os transtornos alimentares ocupam espaço significativo nas clínicas médicas e psicológicas. Duas importantes síndromes, tais como anorexia e bulimia nervosa, comuns entre adolescentes e adultos jovens, principalmente do sexo feminino, merecem destaque.

            A anorexia nervosa compreende expressiva perda de peso, pela restrição alimentar para emagrecer, distorção da imagem corporal e amenorréia (ausência de menstruação).

            A bulimia possui como característica a ingestão rápida de grandes quantidades de alimentos, acompanhados da sensação de perda de controle, seguidas de “compensações” inadequadas para controlar o peso, a saber: vômitos auto-induzidos, uso de inibidores de apetite, diuréticos, laxantes, exercícios físicos exagerados, entre outros.

           A anorexia normalmente começa com uma dieta, visando atingir o peso ideal ou imagem corporal satisfatória. O indivíduo provoca bruscas mudanças no padrão alimentar e a eliminação dos alimentos muito calóricos.

            O transtorno agrava-se, com a diminuição do número de refeições até o jejum completo ou alimentação escassa, durante o dia. Como há a distorção da imagem corporal, o paciente esforça-se vigorosamente para manter o baixo peso ou eliminar o que acredita ainda estar acima da medida, em diferentes partes do corpo.

            Observa-se nas pacientes anoréxicas baixa auto-estima, exacerbado sentimento de rejeição pelo próprio corpo, além da prática alimentar altamente destrutiva. Como “pano de fundo” deste quadro quase sempre está presente a depressão.

            O tratamento médico e psicológico deve abordar o doente e sua família, pois na maioria dos casos que envolvem pacientes com transtornos alimentares, pela maneira que o transtorno se apresenta, as famílias demoram a perceber os sintomas e quando o percebem já estão todos gravemente doentes, emocionalmente! Por isso é vital que haja informação e terapia ao doente e seus familiares.

            Estima-se que 50% dos pacientes tenham recuperação completa do quadro, não havendo novos episódios da doença. Parece que 30% têm evolução média, apresentando melhoras e recaídas, podendo evoluir para bulimia nervosa. O restante pode ter um curso grave da patologia, com sérias complicações físicas e psicológicas.

          Dentre tantas outras desordens psiquiátricas a anorexia está entre os transtornos que mais levam a óbitos. É uma doença insidiosa, que começa muitas vezes com sintomas bastante sutis e o paciente pode desenvolver “estratégias” de manipulação, “driblando” a família para que os indícios de que está doente não sejam percebidos... muitas vezes estas “táticas” são tão eficazes que, quando a família se apercebe, já é tarde demais e a doença já se tornou fatal...

            As desordens que o paciente sofre são inúmeras, como alterações neurológicas, endócrinas e do sono. O principal objetivo na recuperação, é restaurar o peso corporal adequado ao paciente o que, em alguns casos, ameniza outras complicações, tais como perturbações biológicas e psicológicas.

            Entre as complicações psicológicas observamos um comportamento extremamente regressivo,muitas vezes numa tentativa inconsciente de ter o olhar, a conexão e o afeto que antes não tiveram ou não sentiram. É como se houvesse uma tentativa de voltar a ser criança, sendo que as meninas reduzem seus corpos a um corpo de infante, sem curvas e, através do corpo reto, disforme, pode-se perceber que há um “protesto”, uma recusa em tornar-se mulher, crescer e assumir inclusive a sexualidade, dentre outras faces da vida adolescente e/ou adulta.

            Sintomas obsessivos também são comuns nestes quadros, onde os rituais por limpeza, organização, horários, e outros escravizarão o doente e quem a ele rodear.


            O atendimento a este tipo de paciente deve ser transdisciplinar, com psiquiatras, psicólogos e nutricionistas e é necessário que esta equipe esteja “afinada”, pois é preciso que entendamos vários aspectos bastante sutis do quadro, como por exemplo, de que a recusa ao alimento pode não se restringir aquele alimento concreto que oferecemos ao paciente, mas se considerarmos a dimensão simbólica desta realidade, podemos entender que pode ser uma renuncia ao afeto que, naquele momento por algum motivo o indivíduo entende que não pode ou não merece receber.

            Este é somente um exemplo das inúmeras variáveis que atravessam este quadro, que podem ser de natureza biológica, psicológica, etc.

            Anna Patrícia Bogado, em seu livro Corpo, prazer, dor e luz (Diálogos do Ser, 2009) sugere com sua extrema sensibilidade e experiência no trabalho com mulheres que as pessoas que têm uma relação difícil com o próprio corpo e com a alimentação, precisam lidar com as relações que tiveram com suas mães, na conexão corporal-afetiva, que as crianças tanto precisam, para sua vinculação saudável e construção de sua autoimagem, ou ainda com o modelo de educação alimentar que assimilaram. Portanto, o trabalho com esses pacientes é tarefa árdua e requer extrema dedicação, tanto do profissional, quanto entrega dos familiares.

              Precisarão ser trabalhados com esse paciente não somente a nível verbal seus conflitos, mas também a nível corporal, pois o conflito, neste caso a anorexia, já extrapolou os limites do psiquismo e “invadiu” a esfera do corpo...

             Aliados a uma série de fatores que predispõem ao transtorno, precisamos considerar que há, entre outros, influências sócio-culturais, tais como o “bombardeio” da mídia e a cobrança da sociedade que, perversamente, estabelece um padrão de beleza inatingível e incompatível, com os alimentos que nos são oferecidos nas prateleiras!

            Nossas falas, como pais e cuidadores, podem ter importante influência na construção de algumas crenças acerca destes padrões também, por esse motivo é importante que cuidemos o que estamos dizendo aos nossos filhos, principalmente filhas, as quais desejamos ver tão perfeitamente esbeltas!

          Muitas vezes utilizamos expressões, como “você está gorda”, “você está acima do peso”, “olha essa barriga”, entre tantos outros, que se repetidos maciça e intensamente, poderão se tornar um “mandato”.  Então a criança ou adolescente passa incorporar isso ao seu psiquismo e torna-se obeso ou luta desesperadamente para que isso jamais ocorra e numa fantasia inconsciente de que, porventura possa perder o afeto de quem ama, caso esteja fora do "desejado", esse “temor” poderá ser o detonador para desenvolver uma doença que já estava latente...

         Numa idade em que buscamos intensamente ser aceitos pelo grupo, como na adolescência, a possibilidade de estarmos fora dos “padrões”, socialmente aceitos, pode levar a comportamentos auto-destrutivos e a um caminho sem volta. Como vemos...nossa responsabilidade, enquanto pais e sociedade é imensa!!!

            Está mais do que na hora, enquanto coletividade e família, de questionarmos afinal, quais valores embasarão nossa existência e de nossos filhos?! Equilíbrio e humanidade ou beleza e superficialidade?!