domingo, 27 de fevereiro de 2011

TRANSTORNO DE HUMOR BIPOLAR (THB)

O transtorno de humor bipolar (THB) é uma doença recorrente, grave e, por vezes, crônica que atinge aproximadamente 1,5% da população e caracteriza-se pela presença de episódios de mania e depressão. Afeta igualmente, homens e mulheres, em todo o mundo e, além da neurobiologia, fatores psicossociais influenciam o curso da doença.

            A depressão tem como principais sintomas, tristeza, falta de prazer, desânimo, alterações no apetite e no sono, além de apatia. Quase sempre há a diminuição da atenção e concentração, pensamentos negativos e catastróficos, assim como idéias de suicídio (estima-se que 15% dos pacientes com este transtorno cometam suicídio).

            A euforia, como o próprio nome sugere, traz energia exagerada, idéia de grandiosidade, aceleração e uma sensação de prazer intenso ou um estado altamente irritável e agressivo, que são sintomas característicos da "mania". Outras áreas, tais como sono, apetite, atividade motora e sexual são amplamente afetadas nestes estados alterados de humor.

            Geralmente o THB inicia entre 15 e 30 anos, podendo estes episódios durar semanas ou meses, causando sofrimento psíquico, prejuízos nas relações interpessoais, estigmas, perdas financeiras, internações psiquiátricas, comportamentos de risco, entre outros prejuízos na vida do indivíduo.

            Como em outras doenças psiquiátricas, quanto mais cedo a família e/ou o paciente identificar a doença, maiores e melhores serão as chances de viver com qualidade, evitando que as “oscilações” do humor,causem danos importantes no curso de sua história. Embora, atualmente os tratamentos psicológicos e psiquiátricos estejam amplamente difundidos, ainda há preconceito, por parte do paciente em procurar auxílio dos profissionais. Entretanto, é importante afirmar que, no THB é importantíssimo o uso dos estabilizadores do humor e a psicoterapia voltada para a identificação dos comportamentos disfuncionais, que causam prejuízos à vida do sujeito.

             Percebe-se  que um dado que  poderá prejudicar a correta identificação dos sintomas ou mesmo a busca por tratamento, entre outros fatores, pode ser a banalização desta grave doença...vemos e ouvimos as mais diferentes pessoas referirem-se a si próprias, muitas vezes, cheias de orgulhos, dizendo: "sou bipolar" ou então, diagnosticando um amigo, familiar, ou colega próximo,"ah, fulano é bipolar, não liga!"

             Não estamos brincando de médico e paciente, como fazíamos na infância! Não podemos, nem devemos jogar com a saúde mental, nem fantasiar que sabemos acerca do outro aquilo que ele próprio deve desejar investigar a respeito de si mesmo...um desconforto que nos atinge só é considerado doença, quando em intensidade, frequência e duração se torna tão incômodo a nós mesmos ou a quem nos cerca que o melhor e mais sábio dos caminhos é buscar ajuda de profissional capacitado, porque sozinhos não podemos mais lidar com aquela situação...

             Como sempre o que determina se somos mais ou menos saudáveis não é ser portador desta ou daquela patologia, mas o que fazemos com essa condição...quando temos consciência da situação em que nos encontramos, o rumo que a nossa vida toma está em nossas mãos!

             Podemos escolher assumir a condição de vítima da genética, por exemplo,e celebrar que "isso é de família, meus pais, avós, também eram doentes"...podemos assumir a "síndrome de Gabriela": eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim...Gabrielaaaa...ah seu Nacibi!!!

              A "síndrome de Gabriela" é uma brincadeira que fazemos relacionada com a rigidez de pensamento que, na verdade tem a ver com uma acomodação do sujeito numa zona de "conforto"...está muito ruim aqui, mas aqui é conhecido e buscar auxílio é uma esfera nova, desconhecida que o tirará de um estado que, embora seja extremamente desconfortável, lhe é familiar e em alguns casos, já o acompanha há anos...

           Bem...somos mesmo seres bastante complexos!!! Nos utilizamos de mecanismos diversos para permanecer nos estados conhecidos, por receio de perder aquilo que julgamos ser o equilíbrio...os exemplos acima são algumas ilustrações que vemos, não porque as pessoas não querem, deliberadamente se curar, mas porque desenvolvemos mecanismos que, em alguns momentos nos tornam menos capazes de buscar auxilio... entretanto, conscientes de nossa condição, sejamos mais sujeitos de nossa vida e busquemos nossa felicidade, mesmo que o preço seja algum esforço!!!

            As dificuldades para chegar a um tratamento não devem isentar o sujeito da possibilidade de se tratar...podemos escolher segurar firmemente nas rédeas que conduzem a vida que levamos e, mesmo com dor e sofrimento, buscar o alívio e a melhor condição para a vivermos mais donos de nossa história...e isso auxilia na recuperação da auto-estima, no resgate da espontaneidade, como ser humano, na confiança em si mesmo...

            Reconhecer-se doente, desejar sair do desconforto e buscar auxílio, torna o indivíduo responsável pelo seu processo, possibilita o seu bem-estar, além de ganhar apoio afetivo e social, daqueles com quem vive e convive.

2 comentários:

  1. Realmente, Jo. O maior problema nesse e outros problemas emocionais é o preconceito, que faz com que as pessoas demorem a buscar auxílio enquanto a doença se agrava. É preciso muita informação para dissolver o preconceito que se mantém graças à desinformação.

    Rubens Mazzini Rodrigues
    Médico Psiquiatra
    http://www.yatros.com.br

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  2. Pois é, Rubens...enquanto o preconceito que é amigo íntimo da desinformação, "encarcera" as pessoas na sua doença, nosso papel pode ser esse: levar conhecimento e muita informação para que antigas e errôneas crenças possam ir se desmistificando e os indivíduos possam ir experimentando novas maneiras de ser e estar no mundo mais leves e menos sofridas...não é fácil, sabemos...mas não dá pra deixar de acreditar nunca!!! Obrigada pelo teu comentário no blog!

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