sexta-feira, 22 de outubro de 2010

TERAPIA: ATO DE FRAGILIDADE OU CORAGEM?

             Interessante observarmos que as crenças que carregamos e conceitos que acreditamos ser corretos sofrem profundas transformações quando nos deixamos “levar” pelo gosto de experimentar, ousar e nos “arriscamos” no processo da psicoterapia..
          Sabe-se que o “desconhecido” amedronta, especialmente quando “suspeitamos” que o “estranho” que ainda está por vir surgirá do nosso interior e hoje convivemos com esse “outro” sem consciência disso!Entretanto, percebemos que os indivíduos que se deixam seduzir pela possibilidade de aprofundar-se em si mesmo e embarcam nessa deliciosa viagem que é conhecer-se e apropriar-se de seus sentimentos, emoções e comportamentos, conquistam uma bagagem cujo valor é inominável!
          Embora saibamos que nossa cultura privilegia o sucesso e nos esforcemos (às vezes compulsivamente) para parecermos exitosos em nossa vida, a condição de humanos não permite que permaneçamos em estado de euforia, assim como de tristeza constantemente, porque não suportaríamos! O stress provocado pela euforia invariável ou tristeza permanente, nos adoeceria dramaticamente, se houvesse uma linearidade em qualquer dos dois estados!
             Existe uma tendência a negligenciarmos nossas emoções e sentimentos, sob pena de parecermos desajustados aos olhos daqueles que nos rodeiam. Então “estocamos” anos e anos de emoções reprimidas, entendimentos de fatos, completamente equivocados e inadequados, sem perceber que, com isso estamos adoecendo, às vezes de forma sutil, mas ainda assim, adoecendo...
           No senso comum, encontramos a falsa crença de que quem faz terapia se “expõe”, se fragiliza e isso pode nos tornar humanos menos capazes de suportar os eventos da vida...ou isso nos tornaria simplesmente mais humanos e portanto, mais honestos com a nossa condição, às vezes frágil, às vezes forte,mas absolutamente coerentes com a nossa condição...de humanos?!
           A vida e o estar vivo é exatamente isso... tornar-se consciente de nossa natureza, experimentar a dualidade de todas as coisas...inclusive das nossas emoções que sofrem variações conforme as experiências que passamos! Aceitemos nossa condição e nos permitamos viver e conviver com a polaridade dos sentimentos, dos acontecimentos, sem medo de perder o “controle” das situações!
           Bem pior do que nunca ter fracassado é jamais ter sabido quem se é...bem pior do que acreditar que cuidar-se é  falhar, é jamais ter tido coragem de olhar para dentro de si...Vemos, com freqüência, em situações dolorosas, como um velório, por exemplo, pessoas sugerindo àqueles que sofrem pelo ente querido que se foi, que tomem um copo d’água, comprimidos, um banho em casa, acreditando que estamos sendo generosos...e talvez com essa verdadeira intenção, mas na verdade, estamos tentando afastar de nosso olhar a angustiante cena da dor, do choro incontido, do sofrimento que nos toca profundamente, porque a emoção do outro inquieta, desorganiza! Porque mexe com a nossa emoção.
 O choro, às vezes a tristeza, a dor, são absolutamente necessárias ao nosso desenvolvimento e, ao contrário do que possa parecer, alivia e conforta...também ao contrário do que possa parecer, para fazer terapia são necessários duas grandes virtudes...extrema humildade e imensa coragem, afinal...não é todo dia que temos a possibilidade de “nascer” diferentes e, certamente, pessoas mais leves, felizes e bem melhores!!! Coragem!!! Essa é a grande qualidade de quem senta "naquela" cadeirinha e compartilha sua história...coragem, não fragilidade!!!
           
           

Nenhum comentário:

Postar um comentário