domingo, 14 de novembro de 2010

O EU E OS TUS DE NOSSA HISTÓRIA ...

          Nascemos e crescemos em interação com o outro... nos construímos e firmamos nossa identidade a partir do olhar desse outro que me (des)confirma no desempenho dos mais diferentes papéis, nos diversos contextos, e pelos diferentes caminhos, que atravesso em minha vida...
          E é nessa dança dos papéis... nesse movimento em que o meu olhar aprova o outro e que o oposto também acontece que vamos consolidando nossa “digital” e aprendemos como se dá a relação do eu e do tu, assim como apreendemos quem somos nós no mundo...a princípio, uma equação bastante simples, mas na prática... de uma complexidade inominável!
          Reconhecer o eu implica em saber quais são os meus parâmetros, meus limites...minhas vontades,ouvir e respeitar minha voz interna, acolher meus desejos, sem que isso interfira ou arranhe o espaço do tu!!! E quem é esse tu??? Onde começa o espaço dele??? Afinal a linha que nos separa é tão tênue... pois se me construo a partir dele...como descubro o limite de nossas fronteiras? Esse processo começa lá na infância, no início da nossa vida... Com o auxílio de uma mãe suficientemente saudável, que fará a separação e nos permitirá a autonomia necessária para que possamos ousar ser e estar no mundo separados dela, a quem estivemos “misturados” e dependentes por bom tempo de nossa existência...
         Essa mãe precisará compreender que é chegada a hora da criança arriscar-se, com segurança, em determinadas vivências, descobrir o mundo, e se não tiver segurança para tal, poderá procurar auxílio, para que seu filho possa crescer saudável e com condições de enfrentar a vida que se impõe à frente...
         A partir de então o eu se construirá separado do tu (mãe), que permitirá a autonomia. Então a criança entende que o tu é alguém que está fora de si, que tem vida própria, desejos, vontades e deve ser respeitado como tal... Não está a seu serviço, não poderá ser utilizado para satisfazer apenas suas vontades e desejos. Entre outros momentos deste processo, se esta passagem for “tranqüila” entre os membros da díade, esta criança terá amplas oportunidades de estabelecer relações bastante saudáveis no futuro e aprenderá a respeitar seus limites e os limites do outro (tu).
         Fico pensando o quanto a presença do semelhante é necessária, absurdamente necessária, importante, indispensável! Mas não posso fazer disso uma condição para que ele suporte qualquer coisa que venha de mim... Esse outro, ao qual me refiro, é outro que está presente e junto, mas com sua individualidade e singularidade...seus limites...um Tu, não um isso...do qual posso dispor e descartar ao meu “bel prazer”...explico: as relações, sejam elas de amizade, amor-sexualidade, conjugalidade, etc...começam, em algum momento de seu convívio perdendo a noção de onde os territórios são demarcados e os usos e abusos podem colocar em risco a edificação de lindas histórias, que foram construídas, ao longo de anos, décadas, vidas...
       Muitas vezes, o conflito está no vínculo, porém em alguns casos, observa-se que são as pessoas que tem pouco claro para si “quem sou eu”, “quem és tu”, então, busca-se um resgate na matriz de identidade desses “pontos cegos”, nos encontramos com quem somos nós e, na maioria das vezes, com quem são os outros...
       Todos temos limites, fronteiras... fronteiras do Eu, do Tu e se essas fronteiras não forem respeitadas, estaremos adentrando perigosos territórios, onde poderá ser difícil perceber a sutil demarcação de onde termina o meu espaço de atuação e onde deve começar o teu... Se não tenho essa percepção, o outro deixa de ser um Tu e passa a ser um isso, porque não mais é percebido por quem realmente é, mas pelo quanto poderá ser útil, àquilo que estou buscando... Será que temos essa noção em nossas relações?! Do quanto os vínculos construídos e a manutenção destes está exclusivamente, a nosso serviço?! São vínculos amorosos, afetivos, de conveniência?!
       Reconheço a complexidade dessa questão e sinto que o “segredo” é o mesmo de sempre... O autoconhecimento... Quanto mais sei quem sou, maiores as chances de me diferenciar do outro eu tenho, menores serão as oportunidades em que tomarei o seu espaço e invadirei as fronteiras do seu território...       
       Mas para isso preciso, constantemente, lembrar-me: eu sou eu, tu és tu... E juntos, se desejarmos, enquanto for confortável, no tipo de relação que estivermos escolhendo ter... somos nós!!! Não somos isso!!! Ufa!!!

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