terça-feira, 16 de novembro de 2010

O VISITANTE

                O Visitante, já foi lançado há algum tempo, mas desde que vi o trailer, ele ficou me “chamando” e não pude vê-lo naquele momento...como tenho imensa dificuldade de organização nessas questões de final de semana, ver os “lançamentos”, estar sempre atualizada no que há de mais “quentinho”, etc...vou me respeitando e quando as coisas fluem e se encaixam, deixo acontecer e pronto!    
            As mensagens que tinham que ficar, ficam, os aprendizados se consolidam e aquelas falas e cenas, sons e personagens, ficam circulando em mim por horas, dias, semanas, às vezes...
            Meus pacientes sabem disso... levo os personagens para o consultório, faço analogias com as questões que estamos trabalhando, porque pra mim é difícil ser diferente...não me deixar penetrar por aquilo que é vivido, sentido, experimentado...
            Penso que este filme tocou, de maneira diferente, por vários motivos, mas em especial, por causa do “objeto intermediário” utilizado para tirar o personagem principal do engessamento emocional em  que estava vivendo... para quem ainda não viu o filme, a história fala de um professor universitário, cuja vida entediante era baseada em conservas culturais, como dar aulas convencionais, de acordo com o protocolo da universidade em que trabalhava, sem o menor encantamento pelo que fazia. Praticamente um homem-robô, escravo, dos padrões que ele próprio, em outro momento de sua vida escolheu e que, agora já não lhes serviam mais, melhor, o estavam tornando infeliz, mas que ele não encontrava caminhos para mudar...
           Este professor, Walter,  não desempenhava nenhum papel com espontaneidade, portanto, com criatividade e graça também, suas aulas eram entediantes e fraudulentas e ele próprio sentia-se assim...até que forçosamente teve que se deslocar até uma cidade vizinha e, chegando ao seu apartamento se depara com dois “intrusos”, mas que, no filme, eram pessoas “do bem”...não vou contar o filme todo aqui!!!
            Quero compartilhar o que ficou...a mensagem que passou...seja lá o que tivermos intenção de fazer, se não estivermos inteiros, de coração, livres dos estereótipos, despidos da massacrante regra que a felicidade imposta pelo “politicamente correto” nos sugere, dificilmente seremos honestos a ponto de permitir-nos momentos felizes e de encontro conosco mesmos.
            Enquanto o pobre e infeliz Walter estava dentro dos padrões externos, não conseguiu realizar-se, precisou ver, perceber e viver junto aos imigrantes ilegais, que estavam em seu apartamento, uma vida autêntica e bastante simples, para descobrir-se.
            Não estou fazendo apologia a uma vida desregrada, ilegal, com um saquinho nas costas, uma fita na cabeça e somente amor no coração, tampouco uma crítica a quem assim escolhe viver, porém, constatando que, neste caso, foi crucial que aquele professor deixasse brotar de dentro de si, através da observação e convivência com seres diferentes e “de verdade”, a sua verdade.               
           Considero que o objeto intermediário, do qual falei no início do texto, foi crucial para a aproximação  dos personagens e desempenhou importantíssimo papel na trama, pois foi através da música que o protagonista resgatou sua espontaneidade e  sua paixão pela vida...
           O objeto intermediário, que falo é um tambor que o imigrante, Tarek, tocava e que  Walter aprendeu a tocar...a música possui uma magia, capaz de quebrar conservas, de tornar pesos da vida que antes carregávamos como pedras, em sinfonias leves como valsas...a música transporta, conforta, salva, corrige e cura...é portanto terapêutica, agente de saúde e de ligação...
           No filme, apesar de todos os percalços, foi o que o imigrante deixou de “herança”  e aprendizado ao “rígido” professor que, na verdade só estava a espera de alguém que pudesse relacionar-se com o seu núcleo de saúde e permitir que pudesse ser!
          O quanto, muitas vezes, arriscar-se no desconhecido, poderá nos trazer certa dose de saúde, por nos libertar da “armadura” construída para nos defender daquilo que não conhecemos ou que conhecemos demais, por isso é tão difícil sair de dentro dela...
           Como tantas outras lições, de tantos outros momentos, desde que estejamos abertos e atentos, este é mais um... em que o nome do filme, inteligente e brilhantemente ilustra...o visitante...neste caso, dele mesmo...
           Que delícia sabermos que sempre é tempo de nos visitarmos e descobrirmos novas paisagens, novos lugares, novos sons, cheiros e cores que ainda não conhecíamos, que ainda não havíamos estado lá, pelo menos não com esse olhar...e o mais legal disso tudo...o custo é zero...e a distância é mínima... e a companhia muito legal!
A viagem é pra dentro de nós mesmos! Vamos?!
           

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