sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

CASAIS HOMOAFETIVOS: AMOR MOSTRA A TUA CARA!


Durante esta semana uma jornalista postou um link no Facebook sobre a oficialização da união da cantora gaúcha Adriana Calcanhoto com a filha do cantor Vinícius de Moraes, Suzana de Moraes.  Logo após, surgiram vários comentários, todos em tons muito engraçados, mas que na verdade, parecem refletir mesmo é um desconforto em relação ao tema, pois não sabemos ainda muito bem o que fazer com o que sentimos quando vemos uma relação homossexual sendo assumida... paradoxalmente percebe-se que é mais confortável que estas relações mantenham-se na clandestinidade, pois assim aquelas pessoas que se sentem desconfortáveis podem seguir fazendo suas piadinhas preconceituosas e soltando seus risinhos sarcásticos, pensando ser a orientação homoafetiva do outro um grave defeito e,pior do que isso, passível de julgamento!
            O que parece não ficar muito claro para a maioria das pessoas, até mesmo as mais bem informadas, é saber se o homossexual opta por ser homossexual ou nasce orientado sexualmente para desejar um corpo igual ao seu...e ter essa informação considero crucial para um posicionamento mais ou menos preconceituoso. Sim, mais ou menos, não vamos ser hipócritas e acreditar que somos capazes de ser absolutamente sem preconceitos! Prefiro acreditar que trabalhamos arduamente para isso, mas nos descobrimos com algum grau de preconceito em relação a algum tema, sempre. E ter informação, é condição essencial para se ter menos preconceito, pois este último é amigo íntimo, diria até “irmão siamês” da falta de informação!!!
            Então ,vamos lá...opção, de acordo com o dicionário Aurélio: é aquilo que se opta; ato ou faculdade de optar; livre escolha , portanto algo que se escolhe, que é voluntário, que a qualquer momento posso, por vontade própria, mudar o rumo, o caminho, voltar atrás,dessa forma, duvido muito que, por livre e espontânea vontade alguém venha a escolher ser homossexual, com todos os ônus que essa vivência traz! As pessoas que são homossexuais sofrem inúmeros preconceitos, dores, dissabores, rejeições, incompreensões, agora agressões, além de emocionais e psicológicas, também as físicas que, em alguns casos levam até à morte!
            Orientação, do mesmo dicionário, significa: guia; regra; impulso; tendência; inclinação. A orientação sexual não pode ser “revertida”, a pessoa nasce com o desejo orientado para o outro do mesmo sexo e isso já se sabe e sente desde muito cedo. Quando falamos com pessoas, cuja orientação é homossexual e questionamos desde quando elas têm consciência de sua homossexualidade, respondem que sempre souberam, apenas não identificavam os sinais que evidenciavam essa condição...
            São muitas as pressões externas que sofremos e ser “diferente”, num mundo onde a cultura da massificação tenta se impor a qualquer custo, pode ter conseqüências devastadoras, para alguns psiquismos mais frágeis.
            Existe outra faceta desta condição, talvez pouco compreendida, mesmo pelos homossexuais, pelo que percebo, na experiência do consultório. Muitas vezes levados pela pouca condição intelectual ou forte pressão psicológica, acabam por desenvolver  o transtorno de gênero, que faz com que a pessoa acredite que precisa externalizar características do sexo oposto. Por exemplo, um homossexual do sexo feminino passa a acreditar que tem que vestir roupas masculinas e se comportar de maneira mais masculinizada ou o contrário, como mais comumente vemos, os homens homossexuais se comportam de forma bastante feminilizada.
            O fato de ser homossexual não induz, nem obriga ninguém a se comportar de maneira oposta ao sexo biologicamente determinado, isso é uma distorção e, como disse anteriormente, constitui um transtorno chamado Transtorno de Gênero. Talvez o pouco esclarecimento acerca dessa particularidade tenha colocado muitos homossexuais na marginalidade, por acreditarem que tinham que agredir sua identidade de gênero e se perderam por aí...
            Os pais mais saudáveis psicológicamente, atualmente buscam auxílio nos consultórios psicológicos para que os jovens, sejam eles do sexo feminino ou masculino, possam sofrer menos com sua orientação homossexual e conviver com todas as possíveis conseqüências dessa experiência. O objetivo tenho percebido, é justamente evitar que essas pessoas não se obriguem a viver à margem e, portanto, excluídas e menosprezadas, tendo sua auto-estima dilacerada e sua vida transcorrendo num percurso, muitas vezes inverso ao que  esperam para si, simplesmente porque não conseguiram ser e viver no meio  que desejavam estar!
            Sejamos mais honestos e mais humanos! Em que momento de nossas vidas começamos a acreditar que podemos subir numa cadeira de juízes absolutos e imunes a qualquer julgamento, condenar e ridicularizar alguém porque ama outro alguém igual a si? Condenamos porque tiveram a coragem de assumir a condição ou relação homoafetiva? E as relações heterossexuais estão isentas de qualquer julgamento, única e simplesmente por serem heterossexuais? Percebe-se muitas vezes um casal hetero, cuja relação é pautada pela infidelidade, promiscuidade e deslealdade, entretanto, nada se “fala”, porém, basta que “aquele” casal homossexual entre no recinto, ainda que sua relação seja de muito respeito, amor, lealdade e fidelidade que, o simples fato de serem do mesmo sexo, escandaliza e os burburinhos e risadinhas começam a se formar...
            Afinal, o que queremos? Ser felizes? Ou nos tornarmos bonequinhos feitos em série, acertando o passo e obrigando e castigando quem não estiver na marcha?! Por que condenamos tanto os negros, os gordos, os tortos, os homossexuais, os que se assumem, os que não se assumem, os diferentes? Onde, afinal se encontra a dificuldade? Em aceitar as próprias dificuldades? Sejamos mais tolerantes e condescendentes com as nossas próprias diferenças e talvez estejamos a caminho de aceitar com menos malícia e iniqüidade a diferença do outro... assim estaremos contribuindo para um mundo melhor, com pessoas mais felizes, mais inteiras, inclusive nós mesmos, afinal o que tememos tanto?! O diferente ou o semelhante, no seu mais amplo aspecto?! Pois, até onde sei o que me incomoda no outro, nunca é do outro, é sempre meu...
            *Para quem tiver interesse em buscar mais informações a respeito do tema há um livro de um Psicodramatista, Ronaldo Pamplona da Costa que esclarece, de maneira detalhada e bastante simples essas questões a respeito da sexualidade humana: 11 SEXOS: AS MÚLTIPLAS FACES DA SEXUALIDADE HUMANA. EDITORA GENTE.

2 comentários:

  1. Jo, é isso aí... Não há preconceito que resista à informação! E quanto à opção sexual, nunca acreditei nisso. Ninguém escolhe ser gay. Enfim, que bom que as pessoas estão saindo do armário, sentindo-se livres para viver de acordo com seus desejos, sendo felizes. Desejos esses que em nada prejudicam os outros, apesar de muita gente não aceitar a diferença.

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  2. Pois é Lu, é tão contraditório! Não aceitar a diferença é não aceitar a si próprio!!! Todos somos diferentes e tão iguais...no amor, na escolha das profissões, na escala de valores, na maneira de educar os filhos e em tantas outras coisas...por que temos que massacrar alguém que NÃO ESCOLHEU amar alguém igual a si, mas teve a coragem de aceitar-se a assumir-se assim? É desumano, não?
    Obrigada Lu,pelos teus, sempre valiosos e importantes comentários...

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