domingo, 27 de fevereiro de 2011

TRANSTORNO DE HUMOR BIPOLAR (THB)

O transtorno de humor bipolar (THB) é uma doença recorrente, grave e, por vezes, crônica que atinge aproximadamente 1,5% da população e caracteriza-se pela presença de episódios de mania e depressão. Afeta igualmente, homens e mulheres, em todo o mundo e, além da neurobiologia, fatores psicossociais influenciam o curso da doença.

            A depressão tem como principais sintomas, tristeza, falta de prazer, desânimo, alterações no apetite e no sono, além de apatia. Quase sempre há a diminuição da atenção e concentração, pensamentos negativos e catastróficos, assim como idéias de suicídio (estima-se que 15% dos pacientes com este transtorno cometam suicídio).

            A euforia, como o próprio nome sugere, traz energia exagerada, idéia de grandiosidade, aceleração e uma sensação de prazer intenso ou um estado altamente irritável e agressivo, que são sintomas característicos da "mania". Outras áreas, tais como sono, apetite, atividade motora e sexual são amplamente afetadas nestes estados alterados de humor.

            Geralmente o THB inicia entre 15 e 30 anos, podendo estes episódios durar semanas ou meses, causando sofrimento psíquico, prejuízos nas relações interpessoais, estigmas, perdas financeiras, internações psiquiátricas, comportamentos de risco, entre outros prejuízos na vida do indivíduo.

            Como em outras doenças psiquiátricas, quanto mais cedo a família e/ou o paciente identificar a doença, maiores e melhores serão as chances de viver com qualidade, evitando que as “oscilações” do humor,causem danos importantes no curso de sua história. Embora, atualmente os tratamentos psicológicos e psiquiátricos estejam amplamente difundidos, ainda há preconceito, por parte do paciente em procurar auxílio dos profissionais. Entretanto, é importante afirmar que, no THB é importantíssimo o uso dos estabilizadores do humor e a psicoterapia voltada para a identificação dos comportamentos disfuncionais, que causam prejuízos à vida do sujeito.

             Percebe-se  que um dado que  poderá prejudicar a correta identificação dos sintomas ou mesmo a busca por tratamento, entre outros fatores, pode ser a banalização desta grave doença...vemos e ouvimos as mais diferentes pessoas referirem-se a si próprias, muitas vezes, cheias de orgulhos, dizendo: "sou bipolar" ou então, diagnosticando um amigo, familiar, ou colega próximo,"ah, fulano é bipolar, não liga!"

             Não estamos brincando de médico e paciente, como fazíamos na infância! Não podemos, nem devemos jogar com a saúde mental, nem fantasiar que sabemos acerca do outro aquilo que ele próprio deve desejar investigar a respeito de si mesmo...um desconforto que nos atinge só é considerado doença, quando em intensidade, frequência e duração se torna tão incômodo a nós mesmos ou a quem nos cerca que o melhor e mais sábio dos caminhos é buscar ajuda de profissional capacitado, porque sozinhos não podemos mais lidar com aquela situação...

             Como sempre o que determina se somos mais ou menos saudáveis não é ser portador desta ou daquela patologia, mas o que fazemos com essa condição...quando temos consciência da situação em que nos encontramos, o rumo que a nossa vida toma está em nossas mãos!

             Podemos escolher assumir a condição de vítima da genética, por exemplo,e celebrar que "isso é de família, meus pais, avós, também eram doentes"...podemos assumir a "síndrome de Gabriela": eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim...Gabrielaaaa...ah seu Nacibi!!!

              A "síndrome de Gabriela" é uma brincadeira que fazemos relacionada com a rigidez de pensamento que, na verdade tem a ver com uma acomodação do sujeito numa zona de "conforto"...está muito ruim aqui, mas aqui é conhecido e buscar auxílio é uma esfera nova, desconhecida que o tirará de um estado que, embora seja extremamente desconfortável, lhe é familiar e em alguns casos, já o acompanha há anos...

           Bem...somos mesmo seres bastante complexos!!! Nos utilizamos de mecanismos diversos para permanecer nos estados conhecidos, por receio de perder aquilo que julgamos ser o equilíbrio...os exemplos acima são algumas ilustrações que vemos, não porque as pessoas não querem, deliberadamente se curar, mas porque desenvolvemos mecanismos que, em alguns momentos nos tornam menos capazes de buscar auxilio... entretanto, conscientes de nossa condição, sejamos mais sujeitos de nossa vida e busquemos nossa felicidade, mesmo que o preço seja algum esforço!!!

            As dificuldades para chegar a um tratamento não devem isentar o sujeito da possibilidade de se tratar...podemos escolher segurar firmemente nas rédeas que conduzem a vida que levamos e, mesmo com dor e sofrimento, buscar o alívio e a melhor condição para a vivermos mais donos de nossa história...e isso auxilia na recuperação da auto-estima, no resgate da espontaneidade, como ser humano, na confiança em si mesmo...

            Reconhecer-se doente, desejar sair do desconforto e buscar auxílio, torna o indivíduo responsável pelo seu processo, possibilita o seu bem-estar, além de ganhar apoio afetivo e social, daqueles com quem vive e convive.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A CRIANÇA QUE CONSTRUÍMOS HOJE SERÁ O ADULTO SAUDÁVEL DE AMANHÃ... OU NÃO?!

            Há muito se ouve falar da imensa responsabilidade que os pais possuem na educação e construção dos seus filhos, entretanto me questiono se sabemos de que responsabilidades estamos falando?

            Responsabilidade por prover recursos básicos, necessários ao desenvolvimento dos filhos: acesso à escola, saúde, vestuário, alimentação adequada, descanso, lazer, sem dúvida que sim! Respeitadas essas tarefas, certamente estaremos desempenhando, com êxito nosso papel! Porém...existem outras responsabilidades, tão sérias, quanto as que citamos que, se não cumpridas, poderão resultar em prejuízos importantes no desenvolvimento de nossos rebentos.

            As responsabilidades a que me refiro têm a ver com a possibilidade de criar um ambiente familiar saudável, manter um diálogo aberto com os filhos, buscar coerência entre nossas opiniões e ações (nem sempre muito fácil de colocar em prática!), prover segurança emocional, apoio nos momentos de conflitos intra ou interpessoais. Também fornecer orientação adequada e solidificar nos pequenos gestos, os valores que elencamos como base para nossas vidas, além, é claro, de mostrar (na prática) o que é respeito e ética.

            Quando pensamos pais, leia-se também “pais sociais”, os professores, diretores, governantes, do mesmo modo, responsáveis pela construção de nossos filhos!

            Temos obtido sucesso nessa tarefa? Estamos conscientes de que a criança desenvolverá e solidificará a conduta que assiste na atualidade, no seu futuro?

            Quando, aos berros, gritamos com nosso filho, para que ele pare de fazer barulho (brincando,jogando) estamos mostrando coerência ou passando a dupla mensagem de que, por algum motivo, seu barulho, não pode ser tolerado, mas nossos gritos, sim!?

            Ao percebemos que o caixa do supermercado se enganou no troco, e pensamos que isso “é responsabilidade dele, deveria ter sido mais atento”, ao não devolver o valor que excedeu, estamos mostrando aos nossos filhos que se pode “passar a perna” nos menos cuidadosos e que isso é correto?!

            O modelo que temos sido é um exemplo que nos orgulha e dignifica, ou nos enxovalha neste papel?

            Os  pais se veem perplexos porque os filhos são altamente manipuladores, não  mantêm seus compromissos, se mostram verdadeiramente desesperados com essa conduta "desviante" de seus adolescentes...entretanto, estes mesmos pais, muitas vezes, não pagam suas contas, não cumprem com suas palavras, não têm portanto, uma conduta coerente!!! Não estamos falando exatamente do mesmo tipo de comportamento?! Como posso esperar que o meu filho não manipule com exímio professor disponível 24 horas por dia?!

            É certo que não existem fórmulas prontas. Isso pode ser um “entrave”, mas não um impedimento para que aceitemos e encaremos com seriedade, nossa função de pais. Pode-se buscar orientação na leitura, com amigos que parecem conduzir bem estes papéis, profissionais capazes de realizar essa tarefa, familiares, etc.

            Porém, o primeiro e principal dever é o de questionarmos se quem somos e o caráter que temos possibilita que nossas crianças conheçam, concretamente, a consideração pelo outro, o respeito pelo espaço deste, pelas idéias que divergem? Ou ensinamos que devemos “atacar” quem não comunga de nossos ideais?

            Nossas atitudes mostram, verdadeiramente, que ética é algo que se pratica na interação com o outro? Sabemos que relacionar-se e conquistar respeito, por quem somos parte desse princípio? Ou não?!

            Tarefa, inquestionavelmente, difícil, mas possível... Bastante possível. Diria que o começo somos nós, o exemplo, a maneira com que estamos conduzindo nosso maior presente, que é a vida!

            E se quisermos verificar se estamos sendo exitosos nessa função, basta olhar, atentamente, às atitudes daqueles que criamos... Não serão semelhantes as de pessoas com as quais não convivem, são semelhantes as nossas!!! Lidemos agora com isso, de maneira orgulhosa, ou não, a escolha é nossa!


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A REGIÃO SERRANA DO RIO E NÓS...EU SINTO?!

                      Quem leu Ensaio sobre a Cegueira do Saramago pode estar fazendo alguma conexão ou percebendo semelhanças nas cenas e cenários que temos assistido pela TV, durante os últimos dias, em que a tragédia nas cidades serranas do Rio ocupam nossas telas, nosso coração e imaginário.
              Não tanto, quanto no livro vejo as pessoas andando a esmo sem saber como, nem para onde, pois suas vidas apagaram diante de seus olhos...estão perdidas, mas podemos observar que entre elas de algum modo, ainda que não se conheçam, há um sentimento que as tornam mais humildes, honestas e solidárias...
             E são tantas as notícias veiculadas pela mídia que, em alguns momentos faz brilhantemente seu trabalho e, em outros, me parece, tão desnecessariamente expõe o sofrimento de mães, avós, crianças, utilizando a perversa moeda do capitalismo, onde “eu posso me utilizar da tua dor e do teu desamparo, desde que isso me traga algum lucro”...sinistra cadeia alimentar...
           Mas nesta semana enquanto passava pela sala ouvi a fala de um repórter anunciando que a promotoria tinha tomado a drástica decisão de tirar da guarda de seus pais as crianças em situação de risco e levar para um abrigo, caso os seus cuidadores não quisessem abandonar aquelas casas que correm risco de desabamento...
          Parei e pensei...taí uma notícia que vale a pena ouvir...porque escutar que o governo está providenciando comida e abrigo para essa gente, que estão vindo helicópteros e montando hospitais de campanha sei lá aonde...como se estivesse fazendo um favor! Poupe-nos!!! E não subestime nossa inteligência e sensibilidade!!! Isso nada mais é tudo aquilo a que essa gente tem direito!!! Mas responsabilizar-se verdadeiramente pela vida das crianças como essa promotoria fez me mobilizou verdadeira e profundamente...isso é agir com propriedade e sólida intenção de salvar...o resto me parecem paliativos...
            As imagens que temos visto são muito fortes! E ficam impressas em nossas mentes! E hoje, ao parar e ver algumas cenas e a recusa de algumas pessoas em sair daqueles lugares que, sabidamente irão desmoronar fiquei pensando...a loucura ou a cegueira, fazendo uma analogia com o livro pode assolar a qualquer um, desde que a situação seja para além daquilo que podemos suportar!
            Editar inúmeras manchetes dramáticas, com "close" nos rostos sofridos, músicas ao  fundo, na clara tentativa de aumentar a audiência é no mínimo desrespeitoso...mas garante muitos pontos no ibope! E enquanto nos mobilizamos com a dor que nos é "vendida", nos alienamos do que está deixando de ser realizado por essa gente!
            Vejo as pessoas perdidas de suas vidas, de seus destinos, dos referenciais que tinham antes e imagino o quão desagregador isso é! Muito mais do que comida e abrigo, serão necessários apoio social e psicológico, pois do ponto de vista psíquico houve uma ruptura...os indivíduos foram arrancados bruscamente de suas vidas, sem aviso prévio...por isso pode-se compreender o que muitos julgam terrível, que é os pais não desejarem sair de suas casas com as crianças e colocá-las dessa forma também em risco. Não sair de lá, representa estar no único pedaço de vida conhecida que ainda lhes resta...os amigos, vizinhos, parentes já foram...o emprego, a cidade...então vou me apegando aquilo que é conhecido,enquanto posso...é insano?! Sim...pode ser, mas na “cegueira”, nos agarramos ao que está perto e nos parece familiar...ficamos desorientamos, inseguros, desamparados, vulneráveis  e expostos...
            Por isso dói tanto ver...porque me parece que basta a dor sentida, não sei se é necessário ser mostrada...preferiria ver os parlamentares abrirem mão, pelo menos dos inúmeros  benefícios que vêm atrelados ao seu indecente salário, para fazerem uma doação a essa gente e construir casas em locais seguros...isso valeria a pena ver! Não crianças chorando, nem Ana Maria Braga, interpretando desenhos destas, como fez num dia desses no seu programa!
            Preferiria ver o deslocamento dessas pessoas para abrigos decentes e a assistência médica e psicológica ser oferecida, porque como seres humanos merecem ter sua dignidade resgatada e sua dor honrada...não são apenas seus estômagos que estão vazios, suas vidas também...elas sumiram diante dos seus olhos e isso deve e merece ser considerado...estamos falando de pessoas...ou vamos lembrar disso somente daqui há quatro anos, Sra Presidente?!
            Como é terrível, nefasto perceber que em cima do sofrimento humano tantas pessoas estão ganhando e efetivamente pouco se faz! Como somos indecentes! Queremos a copa, brigamos pelo feio e dentuço Ronaldinho Gaúcho e certamente estaremos priorizando, como governo, estado e municípios tantas outras coisas, tornando essas vidas tão pequenas! Afinal,será preciso que todas essas tragédias ocorram com pessoas próximas a nós e que esse sofrimento esteja dentro de nossas casas para que nossa dor seja genuína e que conheçamos o verdadeiro sentido da palavra generosidade e solidariedade...
           Sra. Presidente...neste ano que é o seu ano...ano do seu protetor ou protetora astral, conforme prevêem os astrólogos e místicos de plantão...faça ações para ficar na história! Honre o gênero feminino e nossa natureza! Vamos fazer valer aquilo que temos de mais poderoso, imbatível e é incontestável em nós, mulheres: nosso instinto cuidador, nosso olhar e sensibilidade para a dor alheia e perceber quando é necessário a acolhida e a mão firme de quem sabe e quer proteger...não envergonhe a nossa natureza...ampare e honre quem lhe colocou onde está!
             O povo já se mobilizou...a sociedade civil se organiza em carros particulares para o resgate das pessoas em risco, as doações de sangue ultrapassaram a capacidade do hemocentro e é claro, também encontramos o roubo de cargas de alimentos, entre tantas outras atitudes funestas, a mídia perdendo horas a fio filmando um cachorro, ao lado da cova do suposto dono, na tentativa de arrancar lágrimas dos expectadores, mas...como nada daquilo que é humano não nos é estranho... isso também não surpreende!
            O que esperamos são atitudes efetivas, como a da promotoria em relação as crianças em risco, atitudes que mostrarão que o governo se mobiliza e reconhece o valor e importância do povo que o colocou lá...quem tem tanto orgulho de lembrar-se do seu passado e das mazelas que sofreu na ditadura, para elerger-se presidente, nesta hora tenho certeza, será sensível o suficiente para ponderar que, nas duas situações a essência é a mesma...quando estamos impedidos de nossa vontade, sem poder ter iniciativas pessoais, quando nos roubam a liberdade de escolha e não temos possibilidade de realizar  os “rituais” que confirmam nossa identidade, ficamos frágeis e muito, mas muito menos capacitados para um recomeço...
             Então questiono: quantas unidades de saúde estão disponíveis para ajudar essa gente a resgatar suas vidas? Por que a saúde mental, um dos norteadores de nossa saúde física, inclusive, não está sendo considerada e o apoio social e psicológico não está sendo oferecido a essa gente? Onde estão os mutirões de assistentes sociais e psicólogos que deveriam estar lá? Se estão e não tenho esta informação, parabéns a iniciativa!!! E peço desculpas, por estar desatualizada nos fatos! Esse, entre tantos outros auxílios, é crucial, pois se trata de dignidade! E eixo interno, para a reconstrução da vida futura! Vê-se muita preocupação com necessidades básicas, absolutamente necessárias, sem dúvida, mas me pergunto, o porquê da negligência em relação a saúde emocional e psíquica desta gente, já que este, inquestionavelmente é um dos pontos nevrálgicos desta situação?!
Gostaria de algumas respostas...


segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Receita de Ano Novo

O blog está de “cara nova”, não somente porque é “ano novo”, mas porque os movimentos são importantes, necessários em nossas vidas...

Daí fiquei pensando nesta poesia do Drummond que fala um pouco do muito que acredito...não precisamos, nem devemos fazer as coisas "bovinamente"!!!

Neste ano, em especial, percebi durante as festas de final de ano, essa transformação nas pessoas, houve mais honestidade com seus princípios, menos compromisso com o velho estereótipo de dar presentes caros, das compras desenfreadas que muitas vezes levam ao endividamento, menor preocupação com as festas e comidas que fuçam pra trás e ciscam pra frente (ou é o contrário?!)  e maior proximidade das pessoas queridas...estamos mais sintônicos? Bom sinal...

Então, pareceu-me que o velho poema nunca esteve tão atual...e senti vontade de compartilhá-lo, mais uma vez...

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade


quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ELE MORREU...TU MORRERÁS, EU MORREREI, O QUE ESTAMOS FAZENDO ANTES DISSO?!


            Há alguns dias uma pessoa querida partiu...um amigo que ela demorou a entender...homem  bastante inteligente, sensível, dotado de capacidades e habilidades artísticas incomuns, mas que, como muitos outros artistas neste país morreu sem ser reconhecido em sua cidade e seu estado...também  enfrentava dificuldades onde residia atualmente, pelo que eles conversavam...então parece que viver da arte não é muito fácil mesmo...
          Na sua adolescência ela experimentava sentimentos ambíguos em relação a ele...dotado de um humor refinado,  e por vezes “cru”, sempre que ela se aproximava pensava: “o que será que vai dizer a meu respeito...e pior, será que, se disser alguma coisa vou entender?!” Tinha medo da sua inteligência e fina sensibilidade...que boba que ela foi...
           Bem...depois do amadurecimento que a própria vida propicia, além é claro, dos recursos, como terapia, cujos resultados como um  importante encontro conosco que esse processo oportuniza, ela perdeu o medo das pessoas perspicazes, com humor quase sádico, como era o caso dele e eles se reencontraram em Florianópolis, onde ele morava atualmente e conversaram e riram muito!
           Depois disso, eles conversavam, com freqüência nas primeiríssimas horas da manhã pelo MSN, sobre os mais diferentes assuntos...desde coisas profundas de suas vidas pessoais, passando pelos lamentos e  alegrias de suas  profissões, memórias da adolescência e carnavais, notícias dos amigos, até o clima em São Gabriel e Florianópolis...
           Conheceram-se mais e passaram a admirar-se e respeitar-se e ela descobriu um grande homem que não representava atrás do personagem de menino rebelde, com barba malfeita e “bafão” de moleque... Reconheceu um homem que se encontrou e, segundo ele próprio, nessa nova vivência, saiu da margem o que possibilitou viver a sua história, integralmente, sem se violentar e violentar o outro, pois estava feliz e quando estamos felizes não necessitamos agredir ninguém, porque a vida que temos é a vida que escolhemos ter...
            Hoje, quase uma semana após ter partido, como disse alguém sensível o bastante para definir saudade, quando lembra dele, escorre dos olhos dela, aquele sentimento que não cabe mais no seu coração e, em alguns momentos, chega a pensar “devia ter amado mais?...” Mas ao mesmo tempo se dá conta de que os momentos vividos foram exatamente aqueles que puderam ser vividos, nem mais, nem menos...e se sente satisfeita pelo convívio, por não ter economizado sentimentos, por ter recebido esse amigo e a família que escolheu na sua casa, por não ter se escondido atrás do “invisível” no MSN, quando ele aparecia, enfim por estar inteira na relação, enquanto este convívio foi possível...
            Parece que esse é o único jeito de não entrarmos num ciclo de histeria, quando as pessoas partem! Pode ser uma maneira de sofrer menos...viver com e para as pessoas aqui e agora, mas também assumir a responsabilidade de não querer estar com elas, quando assim desejamos...não somos obrigados a gostar de todo mundo, nem querer a todos o tempo todo!!! Mas quando gostamos não nos economizemos, por favor!!!!
            Depois de mortos, de nada adianta colocarmos mensagens desesperadas aos falecidos, nas redes sociais pedindo explicações do porquê eles se foram, ou solicitando ajuda destes, para que nos auxiliem a elaborar a sua própria morteeeee!!!
            Fico pensando...quando aprenderemos tamanho desprendimento ou desapego para que deixemos aqueles que amamos ir, sem que nossa dor ou egoísmo por querer a pessoa amada ao nosso lado prevaleça sobre todas as coisas, sem que nos deixemos entrar num ciclo de sofrimento e desespero, que impede o raciocínio, tira a lucidez, evita a fome, desregula o sono e infligi uma dor que dilacera o peito...
            Porém, existem algumas pessoas, talvez mais evoluídas espiritualmente e mais abastecidas da vivência com o outro, enquanto estiveram aqui com seus companheiros, que vivem essa passagem de outra maneira...mais plácida, menos caótica e indiferenciada, mais íntegros na sua dor...
             Será que estamos fazendo o mesmo? Ou ainda estamos vivendo nossos vínculos de maneira pequena e mesquinha, com valores ínfimos, economizando afeto e despendendo energia naquilo que não tem valor nas relações?
              Cada pessoa que se vai e a dor que isso nos causa deveria servir para um bom momento de reflexão...o que estamos fazendo com os vínculos que aqui ficaram? Reeditando os mesmos erros? Estamos usando a nosso favor nossa inteligência e sensibilidade para fazermos diferente do que fizemos antes, quando identificamos o equívoco?
              De que adianta a experiência do desconforto, se nas nossas vidas e nosso mundo interno essas perdas e essas vivências não gerarem transformações!?
             Não deixemos que as dores passem em vão...tornemos cada experiência combustível para seguirmos adiante na estrada que se mostra a nossa frente...não valeria a pena passar por tantas coisas, se não houvesse um grande propósito...enquanto não descobrimos o porquê, que seja então, para amar mais, se doar mais, fazer mais!!! E não ter se economizado demais e ter se arrependido depois, porque não fez,não é?!
            Um ano está chegando ao fim!!! E um NOVO ANO nascendo!!! Aproveitemos!!! O clima é de renovação, reciclagens, mudanças, transformações...se não for, criemos internamente esse clima e vamos tornar abundante a oferta de afetos verdadeiros em nossas redes sociométricas...ele não acaba!!! Ao contrário!!! Parece que, quanto mais amor se dá, mais ele se expande e volta!!! Ex-pe-ri-men-ta!!!
Transcrevo abaixo a homenagem de alguém que ama verdadeira e despretensiosamente e postou, como homenagem ao parceiro de anos, que acabou de perder...
"A morte não é nada.
Eu somente passei para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.
Me dêem o nome que vocês sempre me deram,
falem comigo como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas,
eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.
A vida significa tudo o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora de suas vistas?
Eu não estou longe,
apenas estou do outro lado do Caminho...
Você que aí ficou,
siga em frente,
a vida continua,
linda e bela como sempre foi."


Sto Agostinho
Alguns poucos relacionamentos conseguem ser tão puros e limpos e por isso mesmo, plenos e verdadeiros...por isso preenchem tanto...



domingo, 19 de dezembro de 2010

DISTIMIA...O QUE É?!


            Quem não conhece, no seu círculo de amizades, alguém que está sempre de mau humor, com " a cara fechada", causando tensão nos ambientes que frequenta e, como consequência, deslocado e deslocando pessoas, por sua suposta "falta de habilidade" em lidar com as brincadeiras, tão sadias e necessárias, no nosso dia-a-dia?!
           Lembraste de alguém? Sim? Pois é...esta pessoa pode não ser simplesmente um mal humorado de plantão, ela pode estar doente e o nome desta doença é distimia.
          O termo “distimia” é de origem grega e significa “mal humorado” e refere-se a um comportamento inclinado à melancolia. A caracterização da doença passou por inúmeras transformações, podendo hoje ser definida como “um quadro depressivo crônico, com sintomas de intensidade leve, com início insidioso, começando muitas vezes na infância ou adolescência e se prolongando, eventualmente, durante toda a existência do indivíduo”.
            Alguns pacientes referem que “são assim, sempre foram assim”, devido à extensa permanência do quadro em sua vida. Em geral são indivíduos que se descrevem como tristes e desanimados e apresentam outras queixas, o que pode “mascarar” a identificação do transtorno, senão for investigado minuciosamente pelo profissional.
            Em crianças, a distimia parece ocorrer igualmente em ambos os sexos, enquanto na idade adulta, as mulheres estão duas a três vezes mais propensas a desenvolvê-la do que os homens.
Os instrumentos utilizados para classificação das doenças, como CID-10 e DSM-IV, são concordantes em afirmar que a insônia, fatigabilidade ou perda de energia, baixa auto-estima, diminuição da capacidade de concentração, perda de interesse ou prazer, entre outros sintomas, estão presentes no curso da doença.
Estima-se que 4,3% da população possam ter distimia. Estudos diversos e bem controlados sugerem que o desenvolvimento do transtorno depende tanto de fatores genéticos, quanto ambientais. Fatores genéticos podem ter papel importante no início precoce, podendo ser responsáveis também, pela cronicidade da doença.
Aliados a “herança genética”, o histórico familiar com alterações do humor, abuso de substâncias pelos pais, acontecimentos traumáticos e outros, podem estar associados à patologia.
As crianças e adolescentes, com transtorno distímico, podem ter baixa auto-estima e fracas habilidades sociais, sendo também pessimistas. Os familiares geralmente os descrevem como irritáveis, ranzinzas, e/ou deprimidos. Nos adultos pode haver a diminuição da autocrítica e a construção de uma auto-imagem negativa, percebendo a si mesmos como “desinteressantes” ou “incapazes”.
Devido ao caráter crônico, a distimia pode conduzir a prejuízos graves, mal-estar familiar, insucesso conjugal, inadaptação no trabalho e outras formas de disfunção social. Trata-se, pois, de grave transtorno que, após cuidadosa avaliação, deverão ser trabalhadas, com ênfase no presente, as dificuldades encontradas pelo paciente, buscando transformações cognitivas, emocionais e comportamentais, através de tratamento orientado para tal.
Não confunda, ok? Falamos aqui de caráter crônico, não de episódios de mau humor, aos quais todos estamos sujeitos!!! Precisamos ter o imenso cuidado e não sair por aí patologizando todas as atitudes e "catalogando" ações como se as pessoas fossem objetos de estudo vivos!!!
         Considera-se doença toda ação que se cristaliza e impõe ao indivíduo ou aqueles que o cercam sofrimento significativo! E isso somente poderá ser avaliado por profissional capacitado para essa tarefa...enquanto isso, vamos nos observando e olhando para o outro com gentileza, sem apontar o dedinho e banalizar diagnósticos sérios, como muitas vezes observamos por aí...afinal...acho que é dos Mutantes, uma música que diz...de perto...bem de pertinho...ninguém é normal!!!


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

CASAIS HOMOAFETIVOS: AMOR MOSTRA A TUA CARA!


Durante esta semana uma jornalista postou um link no Facebook sobre a oficialização da união da cantora gaúcha Adriana Calcanhoto com a filha do cantor Vinícius de Moraes, Suzana de Moraes.  Logo após, surgiram vários comentários, todos em tons muito engraçados, mas que na verdade, parecem refletir mesmo é um desconforto em relação ao tema, pois não sabemos ainda muito bem o que fazer com o que sentimos quando vemos uma relação homossexual sendo assumida... paradoxalmente percebe-se que é mais confortável que estas relações mantenham-se na clandestinidade, pois assim aquelas pessoas que se sentem desconfortáveis podem seguir fazendo suas piadinhas preconceituosas e soltando seus risinhos sarcásticos, pensando ser a orientação homoafetiva do outro um grave defeito e,pior do que isso, passível de julgamento!
            O que parece não ficar muito claro para a maioria das pessoas, até mesmo as mais bem informadas, é saber se o homossexual opta por ser homossexual ou nasce orientado sexualmente para desejar um corpo igual ao seu...e ter essa informação considero crucial para um posicionamento mais ou menos preconceituoso. Sim, mais ou menos, não vamos ser hipócritas e acreditar que somos capazes de ser absolutamente sem preconceitos! Prefiro acreditar que trabalhamos arduamente para isso, mas nos descobrimos com algum grau de preconceito em relação a algum tema, sempre. E ter informação, é condição essencial para se ter menos preconceito, pois este último é amigo íntimo, diria até “irmão siamês” da falta de informação!!!
            Então ,vamos lá...opção, de acordo com o dicionário Aurélio: é aquilo que se opta; ato ou faculdade de optar; livre escolha , portanto algo que se escolhe, que é voluntário, que a qualquer momento posso, por vontade própria, mudar o rumo, o caminho, voltar atrás,dessa forma, duvido muito que, por livre e espontânea vontade alguém venha a escolher ser homossexual, com todos os ônus que essa vivência traz! As pessoas que são homossexuais sofrem inúmeros preconceitos, dores, dissabores, rejeições, incompreensões, agora agressões, além de emocionais e psicológicas, também as físicas que, em alguns casos levam até à morte!
            Orientação, do mesmo dicionário, significa: guia; regra; impulso; tendência; inclinação. A orientação sexual não pode ser “revertida”, a pessoa nasce com o desejo orientado para o outro do mesmo sexo e isso já se sabe e sente desde muito cedo. Quando falamos com pessoas, cuja orientação é homossexual e questionamos desde quando elas têm consciência de sua homossexualidade, respondem que sempre souberam, apenas não identificavam os sinais que evidenciavam essa condição...
            São muitas as pressões externas que sofremos e ser “diferente”, num mundo onde a cultura da massificação tenta se impor a qualquer custo, pode ter conseqüências devastadoras, para alguns psiquismos mais frágeis.
            Existe outra faceta desta condição, talvez pouco compreendida, mesmo pelos homossexuais, pelo que percebo, na experiência do consultório. Muitas vezes levados pela pouca condição intelectual ou forte pressão psicológica, acabam por desenvolver  o transtorno de gênero, que faz com que a pessoa acredite que precisa externalizar características do sexo oposto. Por exemplo, um homossexual do sexo feminino passa a acreditar que tem que vestir roupas masculinas e se comportar de maneira mais masculinizada ou o contrário, como mais comumente vemos, os homens homossexuais se comportam de forma bastante feminilizada.
            O fato de ser homossexual não induz, nem obriga ninguém a se comportar de maneira oposta ao sexo biologicamente determinado, isso é uma distorção e, como disse anteriormente, constitui um transtorno chamado Transtorno de Gênero. Talvez o pouco esclarecimento acerca dessa particularidade tenha colocado muitos homossexuais na marginalidade, por acreditarem que tinham que agredir sua identidade de gênero e se perderam por aí...
            Os pais mais saudáveis psicológicamente, atualmente buscam auxílio nos consultórios psicológicos para que os jovens, sejam eles do sexo feminino ou masculino, possam sofrer menos com sua orientação homossexual e conviver com todas as possíveis conseqüências dessa experiência. O objetivo tenho percebido, é justamente evitar que essas pessoas não se obriguem a viver à margem e, portanto, excluídas e menosprezadas, tendo sua auto-estima dilacerada e sua vida transcorrendo num percurso, muitas vezes inverso ao que  esperam para si, simplesmente porque não conseguiram ser e viver no meio  que desejavam estar!
            Sejamos mais honestos e mais humanos! Em que momento de nossas vidas começamos a acreditar que podemos subir numa cadeira de juízes absolutos e imunes a qualquer julgamento, condenar e ridicularizar alguém porque ama outro alguém igual a si? Condenamos porque tiveram a coragem de assumir a condição ou relação homoafetiva? E as relações heterossexuais estão isentas de qualquer julgamento, única e simplesmente por serem heterossexuais? Percebe-se muitas vezes um casal hetero, cuja relação é pautada pela infidelidade, promiscuidade e deslealdade, entretanto, nada se “fala”, porém, basta que “aquele” casal homossexual entre no recinto, ainda que sua relação seja de muito respeito, amor, lealdade e fidelidade que, o simples fato de serem do mesmo sexo, escandaliza e os burburinhos e risadinhas começam a se formar...
            Afinal, o que queremos? Ser felizes? Ou nos tornarmos bonequinhos feitos em série, acertando o passo e obrigando e castigando quem não estiver na marcha?! Por que condenamos tanto os negros, os gordos, os tortos, os homossexuais, os que se assumem, os que não se assumem, os diferentes? Onde, afinal se encontra a dificuldade? Em aceitar as próprias dificuldades? Sejamos mais tolerantes e condescendentes com as nossas próprias diferenças e talvez estejamos a caminho de aceitar com menos malícia e iniqüidade a diferença do outro... assim estaremos contribuindo para um mundo melhor, com pessoas mais felizes, mais inteiras, inclusive nós mesmos, afinal o que tememos tanto?! O diferente ou o semelhante, no seu mais amplo aspecto?! Pois, até onde sei o que me incomoda no outro, nunca é do outro, é sempre meu...
            *Para quem tiver interesse em buscar mais informações a respeito do tema há um livro de um Psicodramatista, Ronaldo Pamplona da Costa que esclarece, de maneira detalhada e bastante simples essas questões a respeito da sexualidade humana: 11 SEXOS: AS MÚLTIPLAS FACES DA SEXUALIDADE HUMANA. EDITORA GENTE.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

DRAMAS DA VIDA E RISOS QUE SALVAM...

Em 29 de novembro deste ano morreu Mario Monicelli, cineasta italiano, vítima de câncer de próstata que, impaciente em esperar a derradeira morte, abreviou o próprio final e se atirou do quinto andar do hospital em que estava internado em Roma, aos 95 anos de idade. Uma das características dos filmes de Monicelli era a crítica social aguda e o riso utilizado como recurso de denúncia e revelação daquilo que não “poderia” ser dito.
Na revista Época desta semana tem pequena nota falando deste peculiar gênio que, em entrevistas a outros órgãos de imprensa, definiu uma particularidade dos italianos que eu não entendia e até criticava, especialmente em mim, (descendente de italianos) obviamente antes dos cento e cinqüenta anos de terapia! Hoje é algo que considero definitivamente um meio de salvação, que é a capacidade de rir das próprias tragédias!
A disposição ou talento de rir dos nossos dramas, brincar com as próprias mazelas, pode nos trazer a dose exata de oxigênio para que não sufoquemos no desespero por uma solução que não virá, com a ansiedade elevada...ou pode ser a luz que não enxergaremos enquanto a cegueira nos impede de distinguir caminhos ou quando a raiva toma conta do nosso corpo ou o medo paralisa nossos órgãos...
O riso é remédio, no entanto, como diz a música cantada por Frejat, “que você saiba que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero”...estou falando aqui do riso saudável, não do riso louco, maníaco, alienado, de quem está no caos e não percebe...mas de ter a consciência do que queremos das e para nossas vidas. Queremos ter saúde? Queremos uma família unida? Ser bem sucedidos e reconhecidos no trabalho? Amizades verdadeiras? Uma casa im-pe-ca-vel-men-te asseada e organizada? Nome limpo na “praça”? Filhos educados, felizes, saudáveis, com valores sólidos? Tempo livre para mim e minha família? Tempo para lazer? Roupas de grife? Carros do ano? Corpo sarado? Amor verdadeiro? Elevação espiritual...???
Dependendo da “lista” de prioridades daquilo que elejo para minha vida o grau de sofrimento varia...por exemplo...se no topo da minha lista está uma casa perfeitamente arrumada, meu filho pode estar em sofrimento porque não aprendeu o conteúdo daquela imensa prova de hoje, ou mesmo com um desconforto físico ou emocional que vou valorizar o sofá manchado ou a parede descascada e isso vai impor enorme desgaste a minha vida,porque na minha “lista” de prioridades está a casa...quem está lendo este texto pode estar se perguntando quem agiria assim, eu te respondo...muitas pessoas...que sofrem!!!


         Sim...porque viver assim causa enorme sofrimento! E esta não é uma escolha deliberada, são crenças que acabamos adquirindo desde tenra idade e padrões de comportamento que se formam em nossos núcleos familiares e vamos agindo assim, sem a menor percepção da pouquíssima qualidade que nossa vida tem!!! Viramos “escravos” de padrões transgeracionais e se não fizermos uma crítica acerca do nosso comportamento, corremos o risco de estar em sofrimento e de estar impondo sofrimento aos que nos cercam sem perceber isso!!!
Alienados do que queremos, vamos acreditando que o importante é ter uma casa com uma iluminação perfeita igual a da novela...ou a barriga e o bumbum da-que-la pessoa que idealizamos, cuja felicidade não conhecemos, mas imaginamos que seja completa e queremos para nós! Então, ao invés, de investirmos nosso preciosíssimo tempo na busca do que poderá nos tornar pessoas mais felizes e menos fragmentadas e ”falsificadas”, seguimos a cartilha alheia...que lástima!
Nosso roteiro é sempre mais original, embora, nem sempre nosso final possa ser um final feliz, como nos comerciais de margarina! Porém, será sempre o resultado daquilo que buscamos e construímos para nossas vidas...isso por si só, já é o resultado de uma obra perfeita, única, digna de nota e de muitos aplausos! Por que é nosso!!!
A vida, a cada dia é um novo começo... e essa frase, eu sei, não é original, já a vimos em muitos lugares, mas é belíssima! Não poderia deixar de colocá-la aqui, porque, além de bela, é verdadeira...
A vida, diferente das novelas, a cada dia, possibilita um novo roteiro, não precisamos fazer o mesmo que fizemos ontem! Somos livres! Podemos mudar nosso script a qualquer hora!!! Tudo pode ser feito de formas e jeitos diferentes...aquele abraço que ontem não demos...aquele sorriso que esquecemos...aquela bobagem que falamos...nada disso pode ser desfeito...entretanto, hoje podemos fazer diferente!
Acho que isso é o que  mais me emociona e me apaixona na psicologia...poder caminhar junto com as pessoas e mostrar que, a menos que o filme tenha chegado ao final, é sempre possível fazer diferente...e para isso, a gente pode começar olhando um pouco para as dores e vendo que, apesar de todas as tragédias, sempre encontraremos bons motivos para rir e brincar com nossas vidas, tornar mais leves nossos caminhos e quem sabe reeditar alguns capítulos de nossa história, tornando o drama mais à Monicelli...seja ele simples, ilegal, imoral, mas sempre  original...e como Monicelli, rir do cotidiano e se salvar com isso! É, o riso salva...